terça-feira, 17 de junho de 2014

Se ainda tinha dúvidas sobre o Podemos...

Acompanhei mal o fenómeno Podemos em Espanha. Ao contrário dos novos fenómenos políticos pela Europa fora, que têm tido uma inclinação mais à direita (UKIP no Reino Unido, M5S em Itália, FN na França, etc.), o Podemos era abertamente de esquerda. O pouco que fui lendo não deu para perceber se era carne ou peixe, se era uma lufada de ar fresco na esquerda espanhola, ou também ele um fenómeno meramente populista. As minhas dúvidas foram entretanto esclarecidas.
Há dias foi lançada a ideia de realizar um referendo sobre a inclusão das medicinas alternativas no sistema de saúde.
Hoje leio no i o líder do Podemos, Pablo Iglesias, a defender que devem ser os cidadãos (!) a fazer política, "se os cidadãos não se envolverem nela, outros o farão". Os outros, os não-cidadãos, não são os marcianos, são os "políticos". 
Cristalino como a água.

4 comentários :

Luís Lavoura disse...

Confesso que fiquei sem entender de que forma é que as dúvidas do Miguel ficaram esclarecidas, e em que sentido...

Miguel Carvalho disse...

Crítica válida :)
Para mim, alguém que separa os "cidadãos" dos "políticos" desta maneira tão simplista, é um populista básico.

luís Vintém disse...

Caro Miguel, se procura informação sobre o Podemos e vai procurá-la a um pasquim ultra reaccionário como o La Gaceta está a perder o seu tempo. Se realmente quer conhecer o fenómeno Podemos sugiro-lhe que pelo menos contraste as notícias dos jornais de direita com outros como o eldiario.es, o infolibre.es, o publico.es ou o lamarea.com.

Desde que elegeu cinco eurodeputados que o partido de Pablo Iglesias tem sido alvo de um ataque cerrado e constante por parte da direita e do PSOE (a quem o Podemos retirou muitos votos) e dos seus meios de comunicação. A estratégia mais habitual tem sido a tergiversação e a calúnia, mas com a publicação recente de uma sondagem que prevê a eleição de cerca de 60 deputados do novo partido nas próximas legislativas os partidos tradicionais entraram em pânico e a espiral de violência dos ataques ao Podemos atingiu o paroxismo (a última acusação é de que são pró-etarras...)
http://www.lamarea.com/2014/06/24/el-terrorismo-de-eta-sera-politico-o-sera/

A ideia do referendo sobre a inclusão das medicinas alternativas no sistema de saúde não é uma proposta programática do partido. Foi lançada numa página de facebook de um dos "círculos" como ideia a discutir dentro do partido. O Podemos está organizado em círculos ou assembleias (mais de 500 dentro e fora de Espanha) e a maioria destes círculos tem página de facebook. Imagino que se procurarmos bem encontraremos propostas ainda mais abstrusas que aquela a que se refere o La Gaceta.

Quanto à questão da cidadania e da política, um dos cavalos de batalha da nova formação é a repolitização do espaço público, a participação cidadã e o aprofundamento da democracia. Os "outros" a que se refere Pablo Iglesias não são os políticos mas sim os poderes não eleitos que neste momento tomam todas as decisões relevantes na política económica, fiscal e social.

É normal este posicionamento quando sabemos que o Podemos é apenas a expressão eleitoral de uma série de movimentos sociais de defesa dos serviços públicos, contra as privatizações, contra os cortes no estado social e contra o drama social dos despejos (mais de 170.000 famílias desalojadas desde 2008).

Dê uma vista de olhos neste resumo de aparições televisivas de outro dos porta-vozes do Podemos, o Íñigo Errejón, e diga-me se as acha simplistas ou populistas básicas:
https://www.youtube.com/watch?v=0mnlmVjRWRs

Cumprimentos
LV

Miguel Carvalho disse...

Luís,

muito obrigado pelo comentário interessante.

Tem razão, a ideia do referendo não é uma proposta do partido em si. Deixei a ligação para La Gaceta, porque foi a primeira que me apareceu - não é jornal a que dê qualquer atenção.

Mas repare que os "outros" são mesmo os políticos:
http://www.ionline.pt/artigos/mundo/podemos-uma-esquerda-ousada-populista-quer-confirmar-se-alternativa-espanha/pag/-1

E esta divisão entre "cidadãos" e "políticos", é praticamente a fronteira do populismo.

Vou ver o vídeo