João Cardoso Rosas no Diário Económico (22-1-14):
Algo vai muito mal com a política de ciência em Portugal. A face mais visível do problema é a redução drástica na concessão de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento por parte da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), apesar de não ter existido uma diminuição equivalente da sua dotação orçamental.
Mas o que se passa verdadeiramente por detrás disto?
Em primeiro lugar, há um problema de revanchismo. O Governo actual e a FCT decidiram desmantelar o trabalho antes feito, sob a tutela do ministro Mariano Gago. Note-se que esse trabalho, embora não isento de problemas, permitiu a criação, pela primeira vez na nossa história, de uma verdadeira comunidade científica, com um bom número de doutorados e investigadores pós-doutorados. Mas a política actual quer acabar com isso porque os seus responsáveis consideram que todo o financiamento deve ir para "investigadores excepcionais" e não para a comunidade científica que temos (e podemos ter). Trata-se de um erro de palmatória já que, sem a massa crítica dos investigadores, nem os excepcionais conseguirão vingar.
Em segundo lugar, há um problema de incompetência técnica. A FCT decidiu mudar todos os procedimentos concursais para atribuição de bolsas e financiamento de projectos. Mas, indo contra as regras mais elementares de qualquer manual de políticas públicas, não acautelou a consolidação dos novos procedimentos nem o seu background tecnológico. A consequência de tudo isto tem sido um perfeito caos: atrasos sucessivos, incumprimento dos prazos, incongruências na avaliação de candidaturas, falta de transparência, etc. Presume-se que o dinheiro que deveria ter chegado à ciência terá em parte ficado perdido em todos estes processos.
Em terceiro lugar, há ainda um problema ideológico, especialmente grave nas áreas de ciências sociais e humanas. Estas têm sido ainda mais penalizadas do que as outras porque, segundo se diz no meio, a FCT consideraria que os investigadores em ciências sociais e humanidades são geralmente "de esquerda" e, portanto, lhes deveria ser retirado financiamento. Não sei se isto é verdade, mas há sinais preocupantes. Ora, por um lado é absurdo encostar toda uma área de investigação a um dos lados da dicotomia política (aliás, é simplesmente falso). Por outro lado, a ideologização da política de ciência - à direita ou à esquerda - produz sempre péssimos resultados e há muitos exemplos históricos disso mesmo.
Mas o problema maior de tudo isto é que o revanchismo, a incompetência e a ideologização estão a destruir a nossa melhor juventude. Muitos estão a desistir da ciência e a voltar-se para trabalhos não qualificados, outros estão a emigrar para os quatro cantos do mundo. O que está aqui em causa é a destruição de vidas e do futuro do país.
Algo vai muito mal com a política de ciência em Portugal. A face mais visível do problema é a redução drástica na concessão de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento por parte da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), apesar de não ter existido uma diminuição equivalente da sua dotação orçamental.
Mas o que se passa verdadeiramente por detrás disto?
Em primeiro lugar, há um problema de revanchismo. O Governo actual e a FCT decidiram desmantelar o trabalho antes feito, sob a tutela do ministro Mariano Gago. Note-se que esse trabalho, embora não isento de problemas, permitiu a criação, pela primeira vez na nossa história, de uma verdadeira comunidade científica, com um bom número de doutorados e investigadores pós-doutorados. Mas a política actual quer acabar com isso porque os seus responsáveis consideram que todo o financiamento deve ir para "investigadores excepcionais" e não para a comunidade científica que temos (e podemos ter). Trata-se de um erro de palmatória já que, sem a massa crítica dos investigadores, nem os excepcionais conseguirão vingar.
Em segundo lugar, há um problema de incompetência técnica. A FCT decidiu mudar todos os procedimentos concursais para atribuição de bolsas e financiamento de projectos. Mas, indo contra as regras mais elementares de qualquer manual de políticas públicas, não acautelou a consolidação dos novos procedimentos nem o seu background tecnológico. A consequência de tudo isto tem sido um perfeito caos: atrasos sucessivos, incumprimento dos prazos, incongruências na avaliação de candidaturas, falta de transparência, etc. Presume-se que o dinheiro que deveria ter chegado à ciência terá em parte ficado perdido em todos estes processos.
Em terceiro lugar, há ainda um problema ideológico, especialmente grave nas áreas de ciências sociais e humanas. Estas têm sido ainda mais penalizadas do que as outras porque, segundo se diz no meio, a FCT consideraria que os investigadores em ciências sociais e humanidades são geralmente "de esquerda" e, portanto, lhes deveria ser retirado financiamento. Não sei se isto é verdade, mas há sinais preocupantes. Ora, por um lado é absurdo encostar toda uma área de investigação a um dos lados da dicotomia política (aliás, é simplesmente falso). Por outro lado, a ideologização da política de ciência - à direita ou à esquerda - produz sempre péssimos resultados e há muitos exemplos históricos disso mesmo.
Mas o problema maior de tudo isto é que o revanchismo, a incompetência e a ideologização estão a destruir a nossa melhor juventude. Muitos estão a desistir da ciência e a voltar-se para trabalhos não qualificados, outros estão a emigrar para os quatro cantos do mundo. O que está aqui em causa é a destruição de vidas e do futuro do país.
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