Poucas pessoas poderiam ter deixado uma marca num cargo como Álvaro Santos Pereira poderia. De formação anglo-saxónica, doutorado numa boa universidade, desde logo causou surpresa ao prescindir do tradicional "professor doutor", caraterístico de uma sociedade fortemente hierarquizada e de uma cultura de submissão aos mais poderosos. Não: ele quis ser "o Álvaro", à maneira anglo-saxónica. E com isso, sobretudo graças a isso, passou a ser gozado. Passou a ser o bobo da corte, que era ridicularizado mesmo quando as suas propostas faziam algum sentido, como a questão dos pastéis de nata. (Os pastéis de nata estariam perfeitamente internacionalizados se se encontrassem em qualquer parte do mundo, mesmo sem uma forte presença portuguesa. Não é esse o caso: só se encontram com frequência em locais onde existem comunidades portuguesas. É muito, mas não é o mundo todo. Resta saber se cabia ao ministro da Economia apresentar uma proposta dessas.) E no entanto, fazendo um balanço da sua passagem pelo cargo, sem dúvida que é dos ministros mais ideológicos e com mais resultados para apresentar, nomeadamente a reforma das leis laborais, tornando o despedimento muito mais fácil, uma velha ambição da direita. Note-se que eu discordo totalmente das reformas do anterior ministro da Economia, mas reconheço-lhe o mérito de as ter conseguido implementar. Também tentou alterar um pouco as mentalidades, ao querer ser tratado pelo nome e não por "professor doutor". Mas isso já era pedir demais.
Por um lado, o ex-ministro da Economia fez vir ao cimo os preconceitos existentes em Portugal contra quem vem "de fora" e fez toda a sua carreira (principalmente se for uma carreira académica) no estrangeiro. Por outro, há que reconhecer que Álvaro Santos Pereira era efetivamente estrangeirado no pior sentido (desconhecia totalmente a realidade portuguesa, principalmente da economia) e era politicamente inábil e desajeitado.
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