Após uma semana alucinante, no domingo reuniram-se todos para a missa: o pífio Pedro, o irrevogável Paulo, o mudo Aníbal e a Assunção. Porquê? O oficiante do ritual cripto-necrófago (o sr. Clemente) dissera no dia anterior, ainda antes de ser conhecida a rendição de Pedro e a revogação de Paulo, que recusava eleições, que queria «estabilidade»; e hoje acrescentou que «pelos responsáveis pelo governo da nossa pátria, oremos irmãos» (tudo devidamente transmitido pela RTP, claro).
Não houve, desde o Estado Novo, um governo tão anti-social como este. E não houve, desde o Estado Novo, um governo tão apoiado pela igreja católica portuguesa. Os exemplos abundam: na crise da TSU e perante a primeira grande manifestação, o Policarpo apelou a que não houvesse manifestações (não apelou a que os reformados tivessem uma pensão justa); quando se preparava a manifestação de Março, acrescentou que a sociedade portuguesa «aguenta tudo» - e falava da austeridade; o mês passado, durante a greve de professores que fez recuar Nuno Crato, Clemente apelou a que os professores parassem com a greve (não apelou a que Crato ponderasse); este fim de semana, abençoou a surreal «solução» governamental que segundo as sondagens tem o apoio de um terço do eleitorado. Não sugeriu eleições, o que está de acordo com a sua formação: não chegou a bispo por eleição dos católicos de Lisboa, mas sim por nomeação de um ditador estrangeiro (a quem já jurou obediência). Todavia, sendo um cidadão português de 64 anos, Manuel Clemente viveu a maior parte da sua vida em democracia. Poderia ter aprendido qualquer coisa. Infelizmente, é muito católico e nesta crise pensa principalmente no que a sua igreja pode lucrar.
Já o disse e repito: o neoliberalismo e o clericalismo fazem um casamento perfeito. O neoliberalismo destrói o Estado social, a caridade católica «acolhe-os» com hóstias e um sorriso cínico; no fundo, quanto mais pobres e miseráveis houver, melhor para a ICAR. É a isto que Clemente chama uma sociedade «que procura o bem comum», e Passos um «Estado magro». Serve aos dois. Só espero que desta vez a esquerda (toda) aprenda a lição e entenda de que lado está e estará sempre a ICAR.
4 comentários :
Acho que a esquerda não aprendeu, nem nunca vai aprender neste particular.Mário Soares disse uma vez que a igreja católica,em Portugal, não podia ser tratada como as testemunhas de jeová. Maria Barroso,apesar da sua vetusta idade, encontrava-se entre os presentes à citada cerimónia,sabendo embora no profundo significado político que ela encerrava.
Quando subscrevi "As minhas leituras" foi na expectativa de encontrar gente com ideias, que soubesse, no mínimo, interrogar-se e deixar interrogações mesmo aos que não bolinem nos ventos em que navega. Este artigo é um naufrágio medonho, capaz de concorrer com todas as histórias trágico-políticas. É de uma banalidade tal, tão sem ideias, sem capacidade de efabulação, interrogação e problematização que (Deus lhe perdoe) condená-lo a ser "ignorante, néscio e o mais que houver ser" é dar-lhe qualidade que palha que não merece. Quando se comenta, se questiona, se quer fazer opinião, pelo menos se deve possuir uma ideia, uma dúvida, uma interrogação. E não posso deixar de lembrar o nosso vetusto Camilo, o tal, o Castelo Branco, e a sua opinião quanto ao artigo de opinião: burros sem albarda a pregar no deserto.
Estou habituado a críticas destrutivas quando escrevo qualquer coisa que possa atingir, mesmo que remotamente, a ICAR.
Só escrevi a minha análise do que se passou. Se não concorda, poderia explicar porquê.
Mais do que destrutiva, a crítica é quase insultuosa.Parece que a palavra respeito só tem significado para certos adeptos das religiões, quando são eles os beneficiários desse respeito.Quando se trata de respeitar os outros,aí o caso muda de figura.Eu próprio não faço comentários em sites católicos que possam ferir susceptibilidade,apesar de estes sites estarem repletos de disparates da mais diversa ordem.Aliás, se o fizesse, estou certo de que me cortariam imediatamente o pio.Aprenda a respeitar os outros, se quer ser respeitado.
Enviar um comentário