segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Dois passos à frente, um passo atrás

Ontem, Sócrates era finalmente a favor do casamento entre homossexuais. A JS e as associações LGBT rejubilaram. Hoje, já veio Santos Silva dizer que casamento sim, mas sem adopção. A isto, chama-se gestão de expectativas. E muito cuidadinho.
(É um pouco como passar da primeira página da moção de Sócrates; muda logo tudo.)

7 comentários :

L M D disse...

Sejamos francos, será que este tema vital para o desenvolvimento do país? É claro que não, além de "roubar" uma iniciativa da esquerda, Sócrates tem com isto a oportunidade de desviar a atenção dos reais problemas que o país enfrenta.

Ricardo Alves disse...

Vital para o desenvolvimento económico não será, mas é uma questão definidora para se entender como o actual PS confronta o conservadorismo...

Anónimo disse...

Em relação ao cuidadinho (sem adopção), mesmo para quem defenda que a adopção deve ser ampliada aos casais compostos por duas pessoas do mesmo sexo (o que não é o meu caso)a moção não é destituida de sentido (politico).

Isto porque tendo em conta que um casal heterossexual só pode adoptar 4 anos depois de casar, se fosse tudo tratado ao mesmo tempo o efeito útil seria nulo, visto que o casal homossexual teria que esperar os mesmos 4 anos.

Assim, o alargamento da adopção a casais de pessoas do mesmo sexo pode fazer parte do programa eleitoral de outras eleições, distribuindo o dividendo politico, com a desculpa do efeito prático ser o mesmo.

A mim o que me choca é que um partido chumbe uma proposta de outro, apenas por que não constava do seu programa (no fundo, porque não lhe apetecia agora), para 6 meses depois a prometer ao eleitorado.

Se fosse um dos interessados na questão, era gajo para não votar PS só por causa dessa suprema hipocrisia. Nunca ficou tão bem demonstrado que a politica é dominada pelas agendas eleitorais e não pelos interesses das eleitores.

TUSB disse...

Talvez não seja o tema vital para o desenvolvimento do país, mas é importante para todos os homosexuais como eu que têm o companheiro há 11 anos e que tem agora uma doença degenerativa. E só vou ter direito a metade das NOSSAS coisas, pois num testamento só se pode distribuir metade das coisas, o resto sendo para a familia dele que nunca quiseram saber dele.
Por isso, tudo o que estiver em nome dele, e que estivemos os dois a pagar, pois vivemos juntos, a casa por exemplo, terei de pagar metade da casa que ajudei a pagar durante 11 anos.
Mas não são eles que o vão ver morrer agarrado à cama, não são eles que lhe vão ter que limpar as fezes, não são eles que o vão ter que virar de 2 em 2 horas, e não são eles que o amavam mais que tudo...

Anónimo disse...

Unfurry,

"Familia", leia-se filhos. Se não tiver filhos o seu companheiro pode deixar-lhe tudo.

Realço que mesmo que já fosse casado consigo, o seu companheiro não podia de todo o modo afastar os filhos da herança.

Ou seja, a única diferença é que se já fosse casado teria direito também à sua parte da quota indisponível, para além totalidade da quota disponível (que já pode ter hoje).

TUSB disse...

Quando digo familia, leiam-se pais. Tão bons esses que o meteram na rua quando souberam que era um "contra-natura", uma abominação...
Eles terão direito a metade, além do testamento ainda poder ser contestado, e ficar com as nossas coisas congeladas durante anos até se resolverem... e talvez se tiver um juiz as direitas voltarei a ver as nossas coisas...
Sem falar de aparecer em tudo o que é média para poder ser ainda insultado na rua como já acontece pouco em blogues...
E vêm me dizer que o casamento homosexual não é importante... não é importante para quem não é!

Anónimo disse...

Unfurry,

É a mesma coisa. Mesmo casado com o seu parceiro, os ascendentes serão herdeiros na mesma.

É verdade que como conjuge terá direito a uma parte da legitima em concurso com os ascendentes, mas uma parte será sempre deles. Em vez de metade, será cerca de 2/6. É diferente, mas não muito diferente, a não ser que o património seja enorme.

Se o seu companheiro estiver de acordo, eu aconselharia a colocar já a casa em seu nome em vez de esperar por uma legislação que no fundo não vai resolver o seu problema...