quinta-feira, 12 de junho de 2008

A esquerda dividida

No Canhoto, lê-se um texto muito relevante de Paulo Pedroso.
Primeiro, uma análise correcta da mecânica partidária pós-PREC, que excluiu totalmente a colaboração do PS com a sua esquerda (tirando as eleições presidenciais e alguns episódios na CML).
  • «Portugal tem óbvia governabilidade quando pretende virar à direita, menosprezar as políticas sociais e adoptar medidas económicas liberais e políticas conservadoras: entrega o governo ao PSD sozinho ou em coligação com o CDS.
    O problema está quando os eleitores rumam à esquerda e o PS não tem maioria absoluta. O PS, ou está condenado a governos isolados no espectro parlamentar, como aconteceu a António Guterres e antes ao primeiro governo de Mário Soares, ou a alianças com forças conservadoras que se revelaram sempre contranatura, como no PS-CDS e no Bloco Central.»
Depois, a constatação do «impasse» que esta situação gerou:
  • «Estou convencido que o PS é um partido tímido perante o conservadorismo, reverente perante a Igreja Católica em matérias morais e complexado em relação a sindicatos e movimentos sociais, mesmo que tenha maioria absoluta, porque a sua elite dirigente interiorizou que só nas instituições mais conservadoras pode, quando no governo, desfrutar dos apoios, ao menos tácitos, bem como só com elas pode negociar soluções que permitam ao partido governar o país. Ou seja, a vulnerabilidade do PS ao conservadorismo não é ideológica nem estratégica, é uma adaptação táctica que se eterniza porque se eterniza o impasse.»
Finalmente, a solução de Paulo Pedroso:
  • «Quem quiser levar o centro mais para a esquerda e governar o país tem que exigir ao Bloco que se liberte das heranças da UDP e do PSR e corajosamente pense se pode e quer ser e em que condições a mão esquerda de um Governo de progresso. Há princípios básicos que teria que aceitar - as consequências da participação portuguesa no Euro, na União Europeia e na NATO, por exemplo. Teria que fazer agora o debate que fizeram os Verdes alemães há uma década.»
Se concordo com Paulo Pedroso que o BE, para ser governo, deveria deixar de parecer uma federação de tendências, as questões concretas que refere parecem-me exigir mais uma rendição do que um amadurecimento. Existem sectores da esquerda democrática europeia (embora minoritários) que se opõem a esta União Europeia (Chevènement, por exemplo). Outros (ou os mesmos), desconfiam da NATO. Portanto, nada existe aí de inultrapassável.

Pelo contrário, o partido que se deveria definir é claramente o PS. Concretamente, sobre se a defesa dos serviços públicos e dos direitos laborais, ou a laicidade, são objectivos programáticos para meter na gaveta cada vez que passa pelo governo. É que a «adaptação táctica», após três décadas, já parece ideológica...

10 comentários :

Filipe Castro disse...

Exactamente! Apoiado! O problema nunca foi a dificuldade de encontrar consensos à esquerda em materias particulares, como fazem todos os outros partidos do mundo que governam em coligacoes. O problema do P"S" é ser uma massa informe, uma agencia de 'jobs' para 'boys' sem alma nem ideologia, com sociais democratas e neo-cons misturados, uma faccao enorme de 'catolicos progressistas' horrivelmente snobs e presumidos e uma data de caciques, Lisboetas e regionais sem outra agenda que a de enriquecerem.

Anónimo disse...

Tenho é pena que este blog se tenha tornado apoiante do Bloco de Esquerda... desde quando é que os maoístas, trotkystas e comunistas divergentes do marxismo-leninismo são próximo de um Afonso Costa ou de um José Domingues dos Santos?? (um António Maria da Silva, um Bernardino Machado, um Teófilo Braga, um Alexandre Braga; ou indo mais longe, um Henriques Nogueira, um Manuel Fernandes Tomás, um Passos Manuel, um Antero de Quental, um Basílio Teles, um Alexandre Herculano, um Oliveira Martins, etc...)

A doutrina do P.R.P. (Partido Democrático) alguma vez se confunde com a de pessoas como os deputados do BE? Aquela miscelânea populista e sentimentalista?! Claro que não. Claro que não, essa doutrina recai muito mais em pessoas como Mário Soares, Augusto Santos Silva, Severiano Teixeira, Oliveira Martins, Marçal Grilo, Alberto Martins, Mariano Gago, António Vitorino, etc...

Anónimo disse...

http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Renovador_Democr%C3%A1tico_%28Portugal%29

Anónimo disse...

Por isso ,já não torno a votar no BE!!!O PS é um partido de direita e bem pode tocar música que,comigo não.E se o PS e o PSd levarem uma grande machadada,como é?Já tou a ver,governo anti-democrático e as 'esquecidas' bombas,i.e,a luta pela liberdade (de explorar)(o Terrorismo).É um erro se se pensar que estes gajos se vão redimir e, eu quero é que eles vão dar uma volta ao bilhar grande!Está-lhes na natureza-'dinheirinho,o que posso fazer por ti?'(vide,os pina mouras ,migas amagais, e toda a corja que já passaram pelos degovernos.Bah!

Ricardo Alves disse...

Caro anónimo das 2:44,
a linhagem política de Manuel Fernandes Tomás, Mouzinho da Silveira, Henriques Nogueira, Passos Manuel, Elias Garcia, Afonso Costa, Alexandre Braga e Raúl Proença não está propriamente bem representada no partido de Pedro Silva Pereira, e que conta com deputadas como Teresa Venda, Maria do Rosário Carneiro e Matilde Sousa Franco. Antes pelo contrário.

Ricardo Alves disse...

Ah, e este blogue não é apoiante do Bloco de Esquerda. O PS é que está cada vez mais à direita, menos republicano, menos democrático e menos social.

Anónimo disse...

os nomes invocados são sombras, são pessoas sem importância que de forma nenhuma definem minimamente o todo ou a essência do grupo.

Ricardo Alves disse...

O nº2 do governo é uma pessoa sem importância?!

Anónimo disse...

Pedro Silva Pereira não é de forma nenhuma uma personalidade que defina o PS.

Ricardo Alves disse...

Se não define o PS, por que há de ser ele a coordenar a comissão comemorativa do centenário da República? E porque é ele o nº2 do governo?