terça-feira, 29 de abril de 2008

Surpresa

Neste estudo encontrei a seguinte tabela:



Geralmente acredita-se que quanto mais jovem é um eleitor, maior a probabilidade de ser «de esquerda». Há quem justifique tal crença numa alegada viragem à direita que vai acontecendo com à medida que se envelhece, passando do idealismo sonhador ao pragmatismo temperado pela sabedoria da idade. Sempre me pareceu que esta justificação era disparatada, mas não sabia que o fenómeno que pretendia explicar era inexistente.

Pelo contrário: quanto mais velho é o eleitor, maior a probabilidade de ser de esquerda. Esta tendência ainda é mais significativa no que respeita à extrema esquerda, contrariando a noção comum de que os jovens têm tendência a ser os mais extremistas.

Será porque quanto mais velhos os eleitores, maior a probabilidade de terem contactado com o antigo regime, e toda a miséria e opressão que lhe estão associadas? Atendendo a que a oposição a este regime está mais associada à esquerda, essa poderia ser uma razão.
Ou será que é precisamente por os mais velhos serem maioritariamente de esquerda que os mais jovens não o são? Será um efeito geracional de afirmação de valores opostos aos da geração anterior, ou um simples efeito estatístico de regressão à média? Ou a causa deste fenómeno terá outra explicação?

Que razões justificarão esta tendência?

19 comentários :

Anónimo disse...

qual tendência?

João Vasco disse...

Vou alterar o artigo para tornar mais claro.
Obrigado pela pergunta.

João Vasco disse...

Já está.

no name disse...

é simples e já foi identificado pelo PR mais em baixo:

"O Presidente da República, Cavaco Silva, mostrou-se hoje "impressionado" com a ignorância de muitos jovens"

Filipe Castro disse...

Eu acho dificil acreditar que os jovens hoje sejam mais ignorantes do que os do meu tempo. Mas acho que a concentracao da riqueza de que temos falado incessantemente neste blog retirou muito poder aos politicos e tornou-os em larga medida uns fantoches sem relevancia para a nossa vida, o nosso futuro, etc. Neste contexto parece-me natural que os jovens nao se interessem por politica. Ou seja, num mundo em que a unica coisa que interessa é o dinheiro é natural que haja menos interesse pela política. O mundo da política é hoje um espetáculo lamentável, os políticos são uns desgraçados e quem manda são os bancos e as multinacionais.

João Vasco disse...

Filipe:

Mas em que medida é que te parece que a falta de interesse pela política conduz os mais jovens para a direita?
Será que é por conduzir a menos informação e conhecimento? Se for esse o caso, então isso é precisamente o que o Ricardo escreveu. Se não, então porque é que isso acontece?

no name disse...

bom, a minha frase era mais em tom de piada. na realidade os jovens hoje deveriam ser um pouco menos ignorantes que noutros tempos (maior acesso à informação, escolaridade mais completa, aumento da complexidade ambiental, etc). isso não quer dizer que não tenham na mesma uma boa dose de ignorância! aliado ao facto de serem, infelizmente, bombardeados com informação de propaganda norte-americana sobre os "benefícios" do capitalismo e neo-liberalismo, remetem-se a dizer o que ouvem sem pensar muito... ainda para mais as tendências de apresentação de programas políticos de direita costumam conter uma boa dose de populismo, ao invés que a tradição marxista é bem mais científica e estruturada --- e, lá está, isso requer racicionar um pouco... mas não se preocupem muito: tão ignorantes são que não existem muitas dúvidas que os mesmos jovens não seriam capazes de diferenciar "esquerda" e "direita". mais uns anos e quando começarem a pensar mais pela própria cabeça (aqueles que realmente o venham a fazer) e clarificam as ideias! :-)

Anónimo disse...

razões

- Queda do Muro. Os jovens hoje nascem num mundo de direita, os mais velhos nasciam num mundo bipolarizado.

- Desvanecer da moda "de Abril". Ser de esquerda era ser anti-fascista, era ser contra a barbaridade anterior ...


Concluindo, na minha opinião este estudo não reflecte uma tendência pessoal ou de personalidade mas sim uma mudança na envolvente (geo)política mundial.

Anónimo disse...

Nem a direita é populista - acaso a esquerda nao pode ser populista? - nem a esquerda inexoravelmente marxista - para lá de marx não há esquerda? em que campo ficam foucault, negri, etc?

Sobre marx

O marxismo enquanto "ciencia" economica é algo fragil, enquanto corrente historicista - como qualquer corrente historicista - deixa de ser ciencia e passa a mero misticismo, tao valido quanto as toleimas da astrologa maya

Lenine queixava-se - muito justamente - que feita revoluçao a partir do marxismo nao havia nada de substancial para montar um programa economico quanto mais um projecto de sociedade.

A mais valia - ou a componente trabalhista de valor - nem sequer é o ponto essencial da "ciencia" marxista porque como marx muito bem viu tudo no fim acaba por revolver em torno da oferta e procura.

E mais grave do que isso marx jamais foi capaz de imaginar a transigencia do capitalismo mesmo quando este comçou a desenvolver se debaixo das suas barbas, esteve sempre convicto que o capitalismo trilharia caminho inverso - isto é profundamente afilosofico, sinal de que nao estava acima das questiunculas humanas

Continuando, o marxismo mais do que objectivamente ahistorico é subjectivamente historico - filha do seu tempo - fora dela nao tem nada de substantivo para dizer - nao tem o poder explicativo newtoniano nem o poder sedutor do hegelianismo

no name disse...

dlm, em português "tendências de apresentação de programas políticos" significa o hábito e não a regra. quanto ao que diz, "O marxismo enquanto "ciencia" economica é algo fragil", prima ---tal como os tais jovens que aqui se discutem--- pela ignorância. sugiro que leia o john roemer, por exemplo:

Analytical Foundations of Marxian Economic Theory

para poder ver quão redondamente se engana.

Ricardo Alves disse...

«em que campo ficam foucault, negri, etc?»

Pela parte que me toca, ficam no campo do balde do lixo. ;)

Anónimo disse...

Mas em portugal o idealismo de esquerda pára em meados do seculo XIX?

há quem considere negri e foucault marxistas, o que nao interessa nada para o caso

O ricardo carvalho nao quer apresentar os principais pontos do livro - venham dai as respostas tortas

Anónimo disse...

definitivamente ambos sao anti-capitalistas - foucault e negri

Filipe Castro disse...

Sim, sim, eu acho que o desinteresse os torna menos aptos para se defenderem da propaganda neo-liberal e da direita populista: os emigrantes são uns malandros que nos tiram os empregos, os pobres são preguiçosos & etc.

E concordo com o Tárique quando ele lembra que a queda do muro de Berlim anulou o outro lado da propaganda: contra o racismo, a xenofobia, o machismo, a injustiça social, os abusos de poder, etc.

Anónimo disse...

eu insisto, ricardo, nao quer expor os argumentos do autor do livro?

"contra o racismo, a xenofobia, o machismo, a injustiça social, os abusos de poder, etc."

o castro conhece tao bem os jovens portugueses como eu conheço dallas, a conclusao que chega é completamente inverosimil, a esquerda está aberta à contigencias do tempo - novidade? nenhuma - no entanto as novas geraçoes sao muito menos racistas, xenofobas, machistas que as anteriores - e estamos a falar de portugal, o que aconteceu nos estados unidos nos anos 70 aconteceu cá nos anos 90

E nem tudo é propaganda

Igor Caldeira disse...

Falta conhecer o universo de inquiridos. Se para jovens tiverem ido à Universidade Católica e para mais velhor para junto de repartições públicas, estranho será que os resultados não tenham sido mais invertidos.

João Vasco disse...

Igor:

Qualquer que seja o estudo de opinião, é sempre possível que seja manipulado, ou que as metologias sejam más.

Mas sem uma boa razão para suspeitar disso, não creio que faça sentido. De outra forma, não temos maneira de desfazer os nossos preconceitos, se eles forem injustificados.

Igor Caldeira disse...

Admitindo que o universo de entrevistados é representativo, há explicações bastante razoáveis. Uma das melhores é a que o Estado Providência é utilizado de maneira a aniquilar qualquer esperança no futuro por parte dos mais jovens. É impossível acreditar no futuro quando se sabe que se vai passar o futuro a pagar as reformas sumptuosas do passado.

Em todo o caso, parece-me uma explicação demasiado rebuscada. O argumento mais simples é que se trata de uma questão geracional: como eu dizia há 10 anos, quando na adolescência me revoltava muito, há gerações de revolução e gerações de reacção. E a minha é de reacção.

Anónimo disse...

Conhecem o professor Hespanha?