terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O «regicídio» resultou de uma conspiração monárquica?

A tese de que o «regicídio» resultou de uma conspiração de uma facção dos «dissidentes progressistas» (um partido monárquico), é aflorada nesta entrevista de António Reis. Pareceu-me ser essa também a tese implícita no livro («Regicídio - a contagem decrescente»), recentemente editado e da autoria de Jorge Morais (que penso ser monárquico), onde são aduzidas algumas pequenas circunstâncias que poderão implicar José Alpoim e o visconde de Ribeira Brava (dirigentes dos Dissidentes Progressistas, um partido monárquico).

  • «(...) Hoje está provado que as mortes foram obra de um pequeno grupo de carbonários que actuou à revelia da alta venda, através de uma loja especial chamada Coruja. A maçonaria condenou o regicídio pela voz de Magalhães Lima. E, já nos anos 20, o próprio João Franco no jantar das bodas de ouro do seu curso de Direito, em Coimbra, onde era condiscípulo de Magalhães Lima , afirmou alto e em bom som que este não tinha as mãos sujas do sangue do regicídio. Aliás, nem à maçonaria nem ao Partido Republicano interessava do ponto de vista político um acto que poderia reunir a classe política monárquica, como em certa medida aconteceu, e atrasar a queda da monarquia. Não, por acaso, depois do regicídio há um governo de acalmação, com políticos monárquicos moderados e o Partido Republicano chegou em Abril/Maio de 1908 a encarar a hipótese de um pacto com a monarquia. Esse acordo terá sido inviabilizado pela oposição da rainha D. Amélia. (...) Mesmo antes de desaparecer, o processo não andou muito para a frente e foi boicotado pelos chefes de governo monárquicos, nomeadamente, Ferreira do Amaral e Teixeira de Sousa. Quanto foi possível apurar, os mais responsabilizados nesse processo eram políticos monárquicos, nomeadamente os da dissidência do Partido Progressista, como José Alpoim e o visconde de Ribeira Brava. Foi este quem comprou as armas e municiou os regicidas. Do ponto político, o regicídio foi uma conspiração da dissidência monárquica. Tudo isto está comprovado no famoso discurso de António José de Almeida, a 3 de Junho de 1908, nas Cortes onde condena o regicídio.» (Correio da Manhã)

4 comentários :

dorean paxorales disse...

nao e' dificil de entender que ao partido republicano, revolucionario, sempre tenha convindo essa dicotomia "republicano-monarquico" pois e' estrategia fundamental de todos os movimentos totalitarios o maniqueismo dos rotulos: se nao estas comigo, es inimigo.

acontece, porem, que os partidos chamados monarquicos so o seriam se nunca tivessem posto em causa o regime. o que nao aconteceu de todo.

mas a propaganda transitou da imaginacao popular para os compendios.

hoje em dia, nao e' por haver um partido monarquico que todos os politicos dos outros artidos sao republicanos. serve isto para exemplificar como a tese da posta apenas se sustenta por meio dessa falacia.

enfim, perspectivas.

dorean paxorales disse...

ja agora, qual a razao das aspas em "regicidio"?

se faz confusao, pode sempre ser trocado por chefe-de-estadicidio.

Ricardo Alves disse...

As aspas são porque um «regicídio» não é fundamentalmente diferente de um «assassínio», a não ser no cargo que a vítima ocupava.

Quanto a dizeres que o partido republicano era «totalitário», sabes bem que é um disparate.

E quanto aos partidos que são monárquicos ou não, estás a baralhar tudo.

Bebe uma guiness que isso passa.

dorean paxorales disse...

"Quanto a dizeres que o partido republicano era «totalitário», sabes bem que é um disparate."

Quantos partidos existiam na primeira assembleia da republica? quantos partidos pretendia o costa que existissem?
guiness, talvez seja boa ideia. os trinas de maracuja' nao parecem ajudar-te a ti...