Mas a propaganda organizada dos proponentes do capitalismo selvagem, possível em virtude da concentração dos media nas mãos de uma minoria de multimilionários nos últimos 30 anos, permitiu que uma mentira grotesca e deliberada acabasse por ser aceite pela maioria dos cidadãos da Europa ocidental e dos EUA: a ideia de que o capitalismo selvagem é uma vitória da democracia e da liberdade de expressão. O fim da História dos neocons.
Este livro excelente é sobre a brutalidade dos proponents do capitalismo selvagem e sobre a quantidade de pessoas que morreram e morrem todos os dias às mãos dos nossos políticos mais simpáticos.
A autora resume o tema do livro nas páginas 18 e 19: “This book is a challenge to the central and most cherished claim in the official story – that the triumph of deregulated capitalism has been born of freedom, that the unfettered free markets go hand in hand with democracy. Instead, I will show that this fundamentalist form of capitalism has consistently been midwifed by the most brutal forms of coercion, inflicted on the collective body politic as well as on countless individual bodies. The history of the contemporary free market – better understood as the rise of corporatism – was written in shocks.”
Compreensívelmente, os grandes media têm evitado falar deste livro e os jornais e revistas que lhe fizeram recensões críticas, como de costume, preferiram atacar a autora com chavões e rótulos insultuosos (liberal, radical, etc.) do que contestar o conteúdo do livro.
Mas a verdade está aí, preto no branco. Como dizia Hannah Arendt, os piores criminosos não sujam necessáriamente as mãos: decretam a morte e a tortura de milhões de civis à porta fechada, em hotéis de cinco estrelas, entre dois coctails, nas cimeiras de Davos ou do grupo Bilderberg.
As cartas de Milton Friedman a Pinochet, as missas que o papa lhe rezou, o apoio incondicional de Thatcher ou da família real belga ao governo criminoso do general são exemplos públicos e banais desta realidade.
7 comentários :
"a ideia de que o capitalismo 'selvagem' é uma vitória da democracia e da liberdade de expressão."
É uma vitoria da liberdade individual, do direito de cada um arruinar-se da forma que escolher, fazer o que desejar, viver como quiser. Explicarei melhor como e porquê se necessario for.
Foi o "capitalismo selvagem" numa perspectiva macro-economica e da sua praxis que a Irlanda, Espanha, Coreia do sul, Taiwan, grécia, eslovénia, Inglaterra, Singapura, Hong Kong conheceram a prosperidade.
A Coreia do sul, terra de fome nos anos 60, é um caso pragmático e que conheço pessoalmente, salários médios de 2500 euros, o governo apresenta inidices de pobreza de cinco por cento, oito em dez chegam à faculdade, uma aristocracia universal e uma classe media universal, uma sociedade do conhecimento num estádio de desenvolvimento tecnológico superior em cinco a dez anos ao ocidente.
Preocupa-me que Naomi nao o veja.
Que estranho.
O caro david conhece pessoalmente e esqueceu-se, lamentavelmente de mencionar essa sui generis forma de capitalismo chamada chaebol.
E de como os chaebol que são tudo menos liberdade de expressão individual levaram a Coreia aonde ela está.
OS problemas de memória dos adeptos do neo liberalismo são frequentes...
Esta ideia da "prosperidade" devia ser melhor explicada. Se o Bill Gates entrar num restaurante o nosso rendimento medio das pessoas que la estao decuplica durante a hora do jantar. O "milagre economico" do Chile não aproveita grande coisa aos milhares de pessoas que estao em valas comuns ha 30 anos...
Os salarios medios no reino unido e em espanha são esclarecedores quanto ao fenomeno prosperidade. O salario base que os portugueses recebem em inglaterra pelos trabalhos que os britanicos recusam falam por si. Cerca de 1600 euros por mes
:o) e quanto é que custa uma renda de casa?
Caro David:
Duvido que os regimes que citou tenham regimes liberais - pelo menos se «ser liberal» corresponde a satisfazer todas as reivindicações daqueles que na nossa blogosfera mais insistentemente se assumem por essa designação.
O que me parece é que esses regimes, em comparação uns com os outros e com o nosso, são parcelarmente mais «liberais» em certas matérias e mais «restritivos» noutras. Há coisas, por exemplo, que as empresas espanholas podem fazer e que as portuguesas não podem, mas também há coisas que as empresas portuguesas podem fazer e as espanholas não.
Um liberal puro e duro exigiria que todas as empresas pudessem fazer tudo, e isso, que eu saiba, só se verifica no Iraque. E mesmo aí não é tudo, é quase tudo.
Sarmento nao falava do liberalismo que é local mas sim do capitalismo que é mais universal
Felipe, tenho dois conhecidos em inglaterra, o primeiro acabou o curso em biologia maritima e abalou a caminho de outras oportunidades e outros salarios. O segundo tinha o decimo segundo, que entre os 650 euros que ganhava escolheu os 1500 euros. Rendas nao as conheço
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