terça-feira, 27 de setembro de 2005

Peña-Ruiz: «A Laicidade...»

«A Laicidade é um valor essencial, com a preocupação de liberdade de consciência e de igualdade de todos os homens, quer sejam crentes, ateus ou agnósticos. O ideal laico não é um ideal negativo de ressentimento contra a religião. É o maior dos contra-sensos ver-se na laicidade uma espécie de hostilidade de princípio à religião. Pelo contrário, é um ideal positivo de afirmação da liberdade de consciência, da igualdade dos crentes e dos ateus e da ideia de que a lei republicana deve visar o bem comum e não os interesses particulares. É o que se chama o princípio da neutralidade da esfera pública
(Henri Peña-Ruiz, filósofo, Setembro de 2003)

5 comentários :

Geosapiens disse...

...este conseguiu resumir o que pensam todos os que defendem a Laicidade do estado...um óptimo post...um abraço...

CA disse...

Ricardo

Num comentário ao post anterior tinha escrito:
"O meu problema aqui é que Soares acha que realmente é através das religiões que os homens se podem entender."
Agora a laicidade "é um ideal positivo de afirmação da liberdade de consciência, da igualdade dos crentes e dos ateus e da ideia de que a lei republicana deve visar o bem comum e não os interesses particulares".
Mário Soares pode defender a laicidade (a lei republicana deve ser igual para todos) sem com isso negar a utilidade das religiões para os homens se entenderem. Ou o Ricardo vai mais longe do que Peña-Ruiz e defende a exclusão total das religiões?

Ricardo Alves disse...

Caro CA,

«Mário Soares pode defender a laicidade (a lei republicana deve ser igual para todos) sem com isso negar a utilidade das religiões para os homens se entenderem.»

1) O logro é afirmar que Mário Soares é laicista, quando ele até se pronunciou favoravelmente à Concordata em 1999.
2) Não é através de um diálogo entre as religiões que os homens se entendem. Pelo contrário, é pondo de parte as «pertenças» religiosas quando discutem os problemas comuns daqueles que podem ser das mais variadas religiões ou de nenhuma.

«Ou o Ricardo vai mais longe do que Peña-Ruiz e defende a exclusão total das religiões?»

Não sei o que entende por «exclusão total das religiões». Eu defendo que as igrejas sejam tratadas como as outras associações da sociedade civil. Nem mais, nem menos.

CA disse...

"Não sei o que entende por «exclusão total das religiões»."

Por exclusão total das religiões quero dizer considerar que os políticos não devem fazer referências às religiões, que o estado não deve manter relações com as associações religiosas ou até proibir as associações religiosas.

"Eu defendo que as igrejas sejam tratadas como as outras associações da sociedade civil. Nem mais, nem menos."

Nesse caso a sociedade portuguesa está mais próxima do laicismo do que pode parecer. Basta comparar as relações do estado com as religiões e as relações do estado com associações como clubes desportivos, por exemplo.

Ricardo Alves disse...

«Por exclusão total das religiões quero dizer considerar que os políticos não devem fazer referências às religiões, que o estado não deve manter relações com as associações religiosas ou até proibir as associações religiosas.»

São três aspectos bastante diferentes.
1) Sim, acho que os políticos não devem fazer referência às suas crenças religiosas. Mas não acho que deva ser proibido. Acho que deve ser uma questão de ética.
2) Sim, acho que o Estado não deve reconhecer associações religiosas. Deve limitar-se a reconhecer associações.
3) Não, não acho que as deva proibir. Onde defendi isso?

«Basta comparar as relações do estado com as religiões e as relações do estado com associações como clubes desportivos,»

Pois, mas eu defendo que o futebol profissional seja proibido. ;););)