A demagógica associação da UE à «paz europeia» pós-1945 (ver aqui e aqui), tem o seu único argumento favorável na inexistência de conflitos entre a Alemanha e a França, dada a regulação entre interesses divergentes instaurada pelo «Mercado Comum». Mas a União Europeia pode ser acusada de ter precipitado o desencadear das guerras jugoslavas com o reconhecimento, sob pressão alemã e vaticana, das independências da Eslovénia e da Croácia. De resto, não têm faltado guerras no mais civilizado dos continentes, da Grécia ao Ulster e à Geórgia...
terça-feira, 19 de maio de 2009
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7 comentários :
1- A paz europeia (no sentido da paz apenas entre os países da UE) não é demagogia nenhuma, nem é nenhuma paz de desprezar. Porque se recuarmos para além de 1945 a história da Europa central está pejada de guerras violentas. Basta visitar a região do Sarre, Mosela, Renânia, Alsácia, etc. As cicatrizes estão à vista e muitos dos culpados dessas guerras são republicanismos nacionalistas cegos (alguns de esquerda);
2- Quando foi assinado o Tratado de Roma, alguns dos países que o assinaram ainda tinham colónias onde se praticavam barbaridades bem piores do que as da guerra dos Balcãs. Por isso, percebo pouco essa "novidade" de alguns países da UE terem participado nesse conflito;
3- A decisão de participar no conflito dos balcãs foi da exclusiva responsabilidade de governos nacionais. O Conselho Europeu é uma reunião de chefes de Estado da UE, não é um orgão com membros próprios da UE, como o Parlamento Europeu ou a Comissão. Europeistas como eu defendem que o Conselho tenha menos poderes (talvez se tivesse evitado a guerra), mas o teu amigo M. Alegre acha que não, por exemplo;
4- As independências da Eslovénia e da Croácia eram inevitáveis com Vaticano ou sem Vaticano, com Alemanha ou sem. São povos distintos dos sérvios, com religiões, língua, escrita e literatura diferente. Não era a UE que iria travar alguma vez os nacionalismos exacerbados daquelas regiões;
5- É curioso insinuares que a UE tem alguma coisa ver com o conflito do Ulster ou da Geórgia... Sobretudo o do Ulster, onde desde de 1995 a UE tem gasto rios de dinheiro num programa de reconciliação, que já vai na sua terceira fase (PEACE III)
http://www.seupb.eu/programmes.htm
;
6- Após muitos anos de nomadismo europeu já conheço um bocadinho o continente e desconfio muito mais desse republicanismo exacerbado e nacionalista do Chevenement (basta ouvi-lo como fala da Córsega ou da Bretanha), do que qualquer papão da UE. Grandes europeus, alguns deles nómadas do continente, como Schuman, Simone Veil, Delors, Cohen Bendit, sabem bem onde iríamos com esse tipo de nacionalismos...
Atenção que não podemos resumir a Europa a uma mera aldeia de 800 habitantes chamada "Vaticano" e a um outro país. A Europa, mais ainda do que a UE, são muitos países.
"5- É curioso insinuares que a UE tem alguma coisa ver com o conflito do Ulster ou da Geórgia... "
Penso que a ideia do Ricardo Alves não é dizer que a UE originou os conflitos do Ulster ou da Geórgia, mas sim que não os impediu (recorde-se que este discussão tem por partida a tese que a UE gerou a paz na Europa).
Rui Curado Silva,
o Miguel Madeira entendeu-me melhor: eu disse que a UE não impediu conflitos como os do Ulster ou da Geórgia. E a paz (temporária?) no Ulster não se deve à UE.
Mas vamos aos teus pontos.
1- Eu concordo que a UE anulou o antagonismo entre a França e a Alemanha. Mas esse antagonismo potencial seria sempre irrelevante no contexto da «guerra fria».
2- Também de acordo quanto às barbaridades nos territórios coloniais, aos quais podemos acrescentar o massacre de Outubro de 1961 em Paris, ou o «domingo sangrento» de 1972 em Derry.
3- Eu referi-me muito concretamente ao reconhecimento das independências da Eslovénia e da Croácia, sob pressão de Genscher e Kohl, que chegaram a ameaçar suspender a aprovação de Maastricht se os outros membros da CEE não apoiassem o apoio alemão aos independentistas jugoslavos. Sabemos no que isso deu: uma década de guerras sangrentas no coração da Europa. Aí, a Europa não defendeu a paz, mas sim os interesses alemães. E voltará a fazê-lo com a adesão da Croácia.
Não conheço pessoalmente o Manuel Alegre.
4- A Índia tem não sei quantos alfabetos, religiões, etc. Mais próximo, a Suíça também tem religiões, línguas, etc. Ou a Espanha, etc.
5- A UE gasta dinheiro no Ulster como em muitos outros sítios da UE. O processo de paz local nada teve que ver com a UE.
6- O europeísmo é um nacionalismo. Mas mais jovem e artificial, logo mais intolerante e agressivo...
por coincidência, os mesmos Vaticano e Alemanha reconheceram, em 1941 a "independência" da Croácia(NDH).
AH.. até hoje o Vaticano nunca se desculpou pelo seu papel na Croácia-NDH!!! O papa nunca aceitou visitar Jasenovac e nem pedir perdão!
e mais... quando a Croácia e Slovenia eram partes da Áustria-Hungria, o Vaticano nunca falou de independência pros 2... pq?? pq o império dos Habsburg era muy catolico.
ah...durante a I Guerra Mundial, quando Roman Dmovski(nacionalista polaco) fora a Roma(ICAR) suplicar auxílio para a independência polonesa, tendo sido recebido com a maior desconsideração, visto como a hostilidade do Vaticano se inspirava em interesses políticos identificados com os da Áustria-Hungria e outros grandes poderes da Europa, os quais haviam agido contra as aspirações polonesas durante séculos. O extraordinário resultado disso foi que os Poloneses jamais conseguiram qualquer ajuda do Vaticano, nem mesmo quando se rebelaram contra os Czares – atitude que os revoltara a tal ponto que um dos seus grandes poetas nacionais, Juliusz Slowack, criou o famoso slogan de admoestação: “Polônia, tua ruína vem de Roma”.
muito interessante
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