Há quem defenda, no contexto do debate sobre a educação sexual nas escolas, que «as crianças são propriedade dos pais». Não e não: as crianças não são propriedade de ninguém, nem dos pais, nem do Estado, nem da Segurança Social, nem da comunidade religiosa. As crianças têm direito à sua individualidade, a que não lhes cortem as pernas, não as aterrorizem e não as privem de informação, conhecimentos úteis e bem estar.
Evidentemente, os responsáveis primeiros pela educação dos miúdos são os graúdos respectivos. Mas não vem mal ao mundo, antes pelo contrário, se a escola ensinar regras de higiene, difundir informação sobre saúde e sexualidade, ou tentar transmitir um pouco de civismo. A família pode não ser suficiente, e em muitos casos não é.
Afirmar que «as crianças» são propriedade dos pais pode servir, no limite, para justificar os casamentos arranjados e as mutilações sexuais de menores, práticas infelizmente ainda correntes, inclusivamente em Portugal.
Evidentemente, os responsáveis primeiros pela educação dos miúdos são os graúdos respectivos. Mas não vem mal ao mundo, antes pelo contrário, se a escola ensinar regras de higiene, difundir informação sobre saúde e sexualidade, ou tentar transmitir um pouco de civismo. A família pode não ser suficiente, e em muitos casos não é.
Afirmar que «as crianças» são propriedade dos pais pode servir, no limite, para justificar os casamentos arranjados e as mutilações sexuais de menores, práticas infelizmente ainda correntes, inclusivamente em Portugal.
28 comentários :
Eu tenho o direito de vender a minha propriedade, poderei vender os filhos que tiver? Será que me fazem um bom preço?
Um pequeno deslize na linguagem e está aí o cardume de piranhas pronto a rasgar a ferida.
"Afirmar que «as crianças» são propriedade dos pais pode servir, no limite, para justificar os casamentos arranjados e as mutilações sexuais de menores"
quando estão no útero são propriedade da mãe ou não? é que eu recordo-me das cenas da ana drago à porta dos tribunais a dizer que a barriga era dela. qual é a sua posição, ricardo?
o estado imiscuir-se na vida sexual dos alunos é tão mau ou pior como a religião fazer o mesmo com o estado. espanta-me a sua dualidade de critérios.
Um óvulo fecundado não é uma pessoa. Mais: o Estado não pode substituir o útero. Mas pode substituir os pais do recém-nascido...
"Um óvulo fecundado não é uma pessoa"
pode não ser uma pessoa, mas por essa ordem de ideias uma criança de meses não é uma pessoa: tem quase tantas funcionalidades como no útero - é completamente dependente e instintiva. se é errado matar um recém-nascido, não é porque ele é uma "pessoa" na completa acepção do termo (que pense, que fale, que ande): é porque é vida. e vida humana. e essa, meu caro, começa na fecundação, quer queira quer não.
"Mas não vem mal ao mundo, antes pelo contrário, se a escola ensinar regras de higiene, difundir informação sobre saúde e sexualidade, ou tentar transmitir um pouco de civismo"
vem mal ao mundo se for contra as ideias dos pais.
«vem mal ao mundo se for contra as ideias dos pais.»
E se os pais não quiserem que os filhos aprendam a ler? Será que vem mal ao mundo por ensiná-los?
"E se os pais não quiserem que os filhos aprendam a ler? Será que vem mal ao mundo por ensiná-los?"
isso é restringir o direito das crianças à educação, que nem tem discussão. mas, para mim, educação tem por base as ciências, as línguas, a história, etc. e é aí que deve acabar a instrução escolar (pelo menos em relação às disciplinas obrigatórias).
Zé Gato:
Ok. Ensinar matérias às crianças contra a vontade dos pais está certo, mas apenas desde que sejam as matérias que o Zé Gato acha que devem ser ensinadas, escolha essa fundamentada em "quanto a mim devia ser assim".
Nesse caso, tudo bem. É difícil argumentar contra tal critério de escolha.
«zé gato»,
a vida não começa na fecundação: transmite-se através da fecundação. Um espermatozóide também é vida.
Um recém-nascido pode ser entregue ao cuidado do Estado. Um feto não. A diferença é essa.
«zé gato»,
as ideias dos pais podem ser contra ensinar: o aparelho reprodutor (o que acontece na biologia do 12º ano), a teoria da evolução (o que acontece na biologia do 10º ano, talvez sem a devida insistência), o geocentrismo, a existência da inquisição, os aspectos negativos do nazismo, etc.
Se moldarmos os programas à medida das ideias dos pais, pode ficar muito pouco para ensinar que seja realmente consensual...
ricardo:
um espermatozóide também é vida, concordo. mas não é vida humana. essa é que é a questão.
não conheço caso algum em portugal em que essas matérias tenham sido postas em causa pelos pais. e eu aprendi-as no 3º ciclo, não foi no secundário. e os miúdos também as aprendem hoje em dia antes do 10º ano. todas.
joão vasco:
não é só o "quanto a mim devia ser assim". é também a opinião da generalidade das pessoas (e de especialistas, já agora) que ideologias devem ficar à porta das escolas.
«é também a opinião da generalidade das pessoas (e de especialistas, já agora) que ideologias devem ficar à porta das escolas.»
Quais ideologias?
Se um professor ensinar que é errado roubar, está a ultrapassar as suas competências? Não creio que a "generalidade" das pessoas acredite nisso. (E isso seria argumento?)
E se o professor ensinar que os alunos não o devem interromper? Também está a ultrapassar as suas competências?
É que estávamos a falar de... «ensinar regras de higiene, difundir informação sobre saúde e sexualidade, ou tentar transmitir um pouco de civismo».
É isto que é visto como "ideologia". Se a minha ideologia for que o meu filho não é menos que os professores e tem o direito de os interromper, será que o estado "não se devia meter" e não ensinar ao meu filho que ele está errado?
"É que estávamos a falar de... «ensinar regras de higiene, difundir informação sobre saúde e sexualidade, ou tentar transmitir um pouco de civismo»."
eu estava a falar da parte do "contexto do debate sobre a educação sexual nas escolas"...
e a "educação sexual" que é proposta para as nossas escolas é uma ideologia.
Zé Gato:
Por um lado, dizer que as pessoas não devem roubar também é uma ideologia. Muito popular, mas é. Será que os professores ultrapassam as suas competências se defenderem este valor nas aulas?
Por outro lado, se o Zé Gato soubesse que a educação sexual nas escolas não tinha qualquer componente normativa, limitando-se a falar sobre o aparelho reprodutor, a puberdade, as DSTs, quais as diferentes formas para minimizar o risco que são possíveis, etc... nesse caso já diria que não se tratava de ideologia? Ou continuava a ser ideologia?
Ricardo & João:
Por acaso, por mero acaso, foi hoje entregue no TC o processo de legalização de um novo partido, o Portugal Pró Vida - PPV, que pretende dar umas luzes a gente com a ignorância do Ricardo e do João.
Talvez fosse bom que precebesse uma coisa: segundo a nossa Constituição, o estado não pdoe programar a educação das crianças, essa tarefa cabe aos pais.
Tudo o que você disser a cima disso é estupidez.
O estado tem obrigação de criar as condições para que os pais possam ter na escola a forma a educação que mais se adequa aos seus filho e ao meio social em que estão inseridos. O Estado é impessoal, logo não pode incutir valores ou ideologias, mas compete-lhe suportar as exigencias da educação dos portugueses.
Já a formação técnica e cintifica, é comum a todos e, por não ser ideologimentente manipulável (se lá não estiverem os ateistas, claro), não carece da aprovação dos pais.
Uma coisa é a "propriedade" dos filhos (lembro-me agora de um ateista que nacionalizou os filhos das familias - chamava Samora Machel), outra, bem diferente é o exercicio do poder paternal e a responsabilidade de poder defender os filhos das incursões da estupidez e da imbecilidade.
Porém, as suas opiniões sem qualquer nexo, vindas de quem vêm, não representam qualquer problema. O que é estupido, é que aidna haje imbecis na politica com o seu nivel de formação e conhecimentos - isso é que é grave!
Zequinha...
A educação especial que eu leccionei en nada tinha de ideologia...
Simplesmente ensinei os sistemas reprodutores (anotomia e fisiologia), as DST's e os métodos que minimizar a sua transmissão...
Isso é educação sexual. Ensina-se toda a informação de modo a que os alunos informados tomem as suas opções na vida...
Portanto, quando o Zeca fala em ignorãncia, só pode estar a referir-se a si.
Quanto ao novo partido, venha daí mais um... A democracia Pós 25 de Abril permite a existencia de vários partidos... É a democracia na sua excelência, a Democracia do 25 de Abril..
Zeca Portuga:
Eu estava a discutir com o comentador "Zé gato" que apesar de tudo não desata com ordinarisses e insultos a torto e a direito.
Bem sei que o Zeca apesar de tudo tem mais educação quando se dirige a mim que a tantos outros comentadores, e agradeço a gentileza. Ainda assim não consegue dispensar chamar-nos "ignorantes" e "estúpidos".
Eu podia retorquir com o mesmo tipo de linguagem e discurso chamando o Zeca isto e aquilo, mas tenho mais que fazer.
Vou portanto centrar-me nos "argumentos", e esquecer a lingagem insultuosa:
«logo não pode incutir valores»
Eu quando era novo aprendi na escola - além de ter também aprendido em casa - que não se devia roubar; que se deviam respeitar as regras de trânsito; que não devia fumar nem beber em excesso.
Nós podemos não reconhecer nestas ideias ideologia, apenas porque são tão populares. Apenas grupos "extremistas" discordarão destes valores. Mas não é por uma ideia ser popular que deixa de ser "ideológica". Se falamos em "conhecimento" normativo e não descritivo, não estamos no campo da instrução "pura"; estamos no campo da ideologia.
Se o Zeca considera que o professor não tem o direito de ensinar que roubar é errado; que interrrompê-lo e desobedecer-lhe é errado, etc... então é coerente quando afirma que a ideologia deve ficar à porta da escola. Mas apenas se esquece de justificar essa posição extremista.
Se não, então a incoerência das suas posições foi demonstrada.
"Por um lado, dizer que as pessoas não devem roubar também é uma ideologia. Muito popular, mas é. Será que os professores ultrapassam as suas competências se defenderem este valor nas aulas? "
não é apenas uma ideologia, é um dos imperativos para uma coabitação entre seres humanos. é como o direito à educação - não tem discussão.
"Por outro lado, se o Zé Gato soubesse que a educação sexual nas escolas não tinha qualquer componente normativa, limitando-se a falar sobre o aparelho reprodutor, a puberdade, as DSTs, quais as diferentes formas para minimizar o risco que são possíveis, etc... nesse caso já diria que não se tratava de ideologia? Ou continuava a ser ideologia?"
tudo isso se aprende em ciências (pelo menos eu aprendi, e não sou assim tão velho). educação sexual seria apenas mais uma disciplina para entupir o já sobrecarregado ensino (que conta com disciplinas tão úteis com artes de fogo, métodos de estudo, área projecto, teatro/dança, entre outras - felizmente eu não apanhei nada disto).
Para não criar confusões, o meu comentário foi dirigido ao Zeca Portuga...
João Vasco:
Você alguma imaginou a quantidade de pades que se encontram a leccionar (Português, Filosofia, História, EMRC, Geografia, Latim, Grego)?
Já alguma vez viu que os colegios católicos têm as melhores notas do país?
Você sabe há quantos anos a disciplina de EMRC aborda a educação sexual?
Vamos supor que o Estado resolvia impôr a obrigatoriedade de toso os alunos ter EMRC. Será que a sua abertura era a mesma? Será qeu ainda entendia que os pais não devem intervir nas disciplinas que os filhos têm?
Será que aceitava?
Zé Gato:
«não é apenas uma ideologia, é um dos imperativos para uma coabitação entre seres humanos.»
Eu concordo que não se deve roubar. Mas existe quem discorde.
De qualquer modo, a ideia "não se deve roubar" é normativa e não descritiva, pelo que não poderia deixar de ser "ideologia" no mesmo sentido em que argumenta que a educação sexual o é.
Claro que pode argumentar que essa ideologia (não roubar) está certa, e a outra (a alegada ideologia da educação sexual) está errada. Mas nesse caso o seu problema não é que o estado ensine ideologia, mas sim que ensine ideologia que não é a sua...
«tudo isso se aprende em ciências»
Repare, que quando eu pergunto "se A fosse verdadeiro, acharia B?" estou precisamente a perguntar isso.
Dizer-me "mas A é falso" não responde à pergunta que lhe fiz.
Por isso, repito a pergunta:
«Por outro lado, se o Zé Gato soubesse que a educação sexual nas escolas não tinha qualquer componente normativa, limitando-se a falar sobre o aparelho reprodutor, a puberdade, as DSTs, quais as diferentes formas para minimizar o risco que são possíveis, etc... nesse caso já diria que não se tratava de ideologia? Ou continuava a ser ideologia?»
Zeca, infelizmente existem muitos padres a leccionar que tiram os lugares aos verdadeiros professores que deveriam estar a realizar essas funções.
Educação sexual na disciplina de EMRC, acredito, mas falta na disciplina de EMRC uma parte indispensável para a Educação Sexual, a parte científica e do conhecimento. A educação sexual pretende acima de tudo dotar os alunos de competências de cidadania e de tomada de decisões informadas. Logo, quando se fala em sexualidade, só o conhecimento dos diferentes sistemas reprodutores, do seu funcionamento, das DST's, dos métodos contraceptivos, vantagens e desvantagens de cada é que se pode falar de educação sexual...
Relativamente aos colégios católicos, que supostamente têm as melhores notas, é muito fácil ter boas notas quando os alunos são seleccionados e constituem a fina sociedade...
Fala-me dos colégios católicos que albergam as crianças vindas de zonas problemáticas...
E dou-lhe os parabens que foi o primeiro comentário que vi seu, sem insultos... Como vê, a evolução chega a todo o lado...
«Você alguma imaginou a quantidade de pades que se encontram a leccionar (Português, Filosofia, História, EMRC, Geografia, Latim, Grego)?»
Hã? Em que é que isso está relacioando com o assunto em discussão?
«Já alguma vez viu que os colegios católicos têm as melhores notas do país?»
Têm as melhores e as piores. Não estou a gozar: há colégios privados católicos no topo do ranking e no fundo do ranking.
Mas se um colégio só aceita alunos que podem pagar X, é natural que as notas sejam superiores às de uma escola que não pode recusar aluno algum....
«Você sabe há quantos anos a disciplina de EMRC aborda a educação sexual?»
E na catequeze também falam sobre como estava a Galileia no tempo dos romanos, e não tenho mesmo nada contra, mas isso não dispensa as aulas de história...
joão vasco:
veja este post a propósito deste assunto:
http://cachimbodemagritte.blogspot.com/2009/05/quem-e-que-eles-julgam-que-sao-para.html
Li o post.
Discordo, como é natural, do princípio enunciado pela razão que já referi: mesmo os pais que acreditam que roubar não é errado, ou que os seus filhos têm o direito de faltar ao respeito aos professores, sujeitam-se à "ditadura da maioria" que é os seus filhos aprenderem na escola que essas coisas são erradas - e isto não é errado. Aliás, se calhar os educandos até deveriam era aprender essas lições melhor...
Mas o post não responde à pergunta que lhe fiz, até porque - suponho - não foi escrito por si.
Por isso repito a pergunta:
«Por outro lado, se o Zé Gato soubesse que a educação sexual nas escolas não tinha qualquer componente normativa, limitando-se a falar sobre o aparelho reprodutor, a puberdade, as DSTs, quais as diferentes formas para minimizar o risco que são possíveis, etc... nesse caso já diria que não se tratava de ideologia? Ou continuava a ser ideologia?»
A resposta a esta pergunta é mesmo importante para prosseguir o diálogo consigo.
«Por outro lado, se o Zé Gato soubesse que a educação sexual nas escolas não tinha qualquer componente normativa, limitando-se a falar sobre o aparelho reprodutor, a puberdade, as DSTs, quais as diferentes formas para minimizar o risco que são possíveis, etc... nesse caso já diria que não se tratava de ideologia? Ou continuava a ser ideologia?»
não.
Então nesse caso o seu problema não é com a existência da cadeira de educação sexual, mas sim com quem delineou os programas.
Mas se a crítica não é dirigida ao princípio abstracto de dar educação sexual e sim à forma como isso é feito, faltam informações, que a serem prestadas até poderiam fazer com que concordasse com a sua posição. Às tantas o ideal era mesmo concretizar: na escola XXX, o livro na página WWW diz YYY, em que YYY não é um facto objectivo, mas sim um valor altamente polémico.
Na falta desta informação, a crítica não tem qualquer peso: "eu acho que o programa está mal delineado, porque eu já sei como estas coisas funcionam" não é tão persuasivo...
apesar de não ser uma ideologia sabe tão bem como eu que uma disciplina de educação sexual nunca se há de restringir estritamente ao programa - contendo o que o joão vasco enumerou, pode perfeitamente ser ensinado numa hora e meia (eu mesmo tive uma sessão dessas quando andava no 8º ano, mais ou menos, em que tudo isso me foi ministrado). mais que isso e derivará para o domínio da ideologia, com perguntas dos alunos que originarão respostas que colidem com as opiniões, e mais importante, os valores que os pais querem para os seus filhos.
dou-lhe o exemplo do preservativo. ora o programa certamente contempla o preservativo como um dos meios de evitar gravidezes e DST's. mas para os católicos, o meio de evitar essas situações passa pela castidade e pelo parceiro único, após o casamento. como é que o estado se pode arrogar a incentivar filhos de católicos a uma opção que, para os pais, é moralmente errada?
e quem dará a disciplina? sexólogos género marta crawford? professores sem conhecimentos?
quem decidirá quais os professores que leccionarão os alunos? os pais? a escola?
p.s. - bem sei que é um caso extremo, mas imagine o que será os seus filhos apanharem uma professora destas:
http://www.youtube.com/watch?v=B3Tlt4BPvzk
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