###Soa estranhamente falso ouvir Olmert dizer, também ontem, que acredita que o Hezbollah foi já desarmado e 700 de seus postos eliminados, no mesmo dia em que o Hezbollah alcançava o seu recorde numérico e de distância no lançamento de foguetes contra alvos israelitas. Neste mesmo dia por outro lado o seu braço militar afirmava pela boca do já citado Dan Halutz, que apenas cerca de 300 terão sido realmente eliminados. As confusões acumulam-se. O mesmo Dan Halutz, dia 27 de Julho, teria afirmado que "não há solução militar para este conflicto", para uma semana e meia depois voltar a insistir que "nada pode deter Israel até que este alcance os seus objectivos". Israel parece desorientado, ou a querer aparentar que está desorientado, com a sucessiva apresentação de vitórias mais que dúbias (exemplo maior os vários anúncios de conquista de Bint Yebel correspondentemente desmentidos pelo continuar dos combates) ou a encenação de grandes vitórias a propósito de conquistas de pequenas aldeias. Para colmo se contabilizam em um centenar de milhões de dólares as perdas econômicas diárias de Israel geradas pelo conflicto, e em particular, pela paralização do norte de Israel, onde só Haifa representa de 20% a 25% dos sectores do comércio, serviços e indústria do país. Se além disso somamos a facilidade com que as cifras da ordem de centenas de mortos entre militantes do Hezbollah (mas poucos mortos ou prisioneiros entre os seus líderes) serão substituídas em um futuro Líbano econômicamente destroçado, e onde o ódio a Israel se terá multiplicado milhares de vezes, é dificíl desde um ponto de vista realista, não aceitar que esta aventura militar do executivo Israelita figurará seguramente como um dos maiores falhanços da história do seu país. Para isso nem precisamos incluir o impacto que todo o conflicto tem para a diplomacia israelita e para o agravamento dos ódios que Israel acumula no mundo árabe vizinho. De qualquer forma tal como uma vez terá dito Kissinger: Israel não possui política exterior... mas digo eu que o problema é que tem exterior, com política ou sem política para ele.
O resultado global deste conflicto dificilmente é de festejar seja por quem seja, a não ser pelos inimigos da paz. E tudo provavelmente pela insegurança de um executivo israelita sem medalhas militares no peito para escudar a cautela perante os sequestros de soldados, e havendo-se visto cercado pelo que parece realmente ter sido uma mostra de força relativa dos radicais, que pelo menos influenciados por interesses iranianos e sírios, realizaram simultâneas operações de sequestros de soldados em ambas frentes palestina e libanesa, respectivamente organizadas pelo Hamas e Hezbollah. E provavelmente também por pressão dos falcões militares israelitas que há bastante tempo alertavam para o real fortalecimento da milícia xiita libanesa. Dada a fragilidade política interna de Olmert em Israel naquele momento, tudo parece se ter conjurado para que o seu executivo não soubesse ver claro o suficiente e evitar assim os danos futuros e imediatos de uma acção militar em que finalmente e infelizmente se terminou por meter.
Para cúmulo de tudo isso um Estados Unidos da América liderado pelo pior chefe político da sua história recente, não soube perceber a importância, inclusive do próprio ponto de vista dos interesses norte-americanos na zona, de (nem que seja ao nível das aparências, já que em política o que parece também é) manter um mínimo distanciamento em relação à política israelita, tal como o seu antecessor Clinton e até mesmo o Bush pai souberam fazer, com o fim de poder assim ser considerado como interveniente minímamente aceitável por parte do mundo árabe com credencial de freio de Israel. Imagino que por todo o mundo Árabe, com felicidade ou com tristeza, de Irão à Árabia Saudita, se está tomando nota de tudo isso neste momento, e seria importante que algo fizesse com que estas notas fossem revistas. Para Israel, e em boa verdade também para todo o Médio Oriente e o mundo, o que pode surgir de aí é particularmente perigoso. Se Estados Unidos deixa que seja Israel a decidir a sua política para o Oriente Médio não está a criar uma potência regional com capacidade de influência, Israel nuna poderá vir a ser tal coisa, apenas cria vazio que alguns dos actores mais ou menos radicais da zona procurará desesperadamente preencher. Entretanto Irão já se colocou por agora como primeiro da fila, mesmo que por sua ascendência xiita tenha poucas chances de o lograr de forma completa.
Nestes dias pudemos ouvir dizer o chefe de tropas israelitas Dan Halutz textualmente a barbaridade de que por cada Katiusha lançado contra Israel, Israel bombardearia 10 edificíos dos bairros xiitas, e que faria retroceder o Líbano 20 anos, provando mais tarde que é cumpridor de suas promessas. O principal problema da barbaridade israelita se revelará como sendo a sua ineficiência. Nos gostaria acreditar nas informações sobre uma vitória sobre o Hezbollah para bem de Israel e de Líbano, mas o nosso cepticismo nos proibe tal coisa. E fica então só a barbárie sem desculpas que não seja a incopetência que é pouca desculpa. Atrás do resultado de alhos e bugalhos que dá titúlo a este post se esconde o resultado ainda temporal muito mais desagradável de pelo menos 177* crianças contabilizadas mortas só no Líbano desde o ínicio do conflicto até hoje. O problema é que por detrás deste número de três digitos estão realmente crianças. Mortas. Mas como não queremos terminar este post assim, e tentando ser construtivos em meio de tanta porcaria, e já que não podemos desejar por cépticos que o Hezbollah tenha realmente sido desarmado tal como nos querem fazer acreditar as altas instâncias israelitas, nos falta desejar que no futuro próximo Israel tenha mais sorte com os seus líderes e que estes tenham mais felicidade nas suas decisões, para bem da sempre insegura segurança nesta zona do mundo. E já agora que os americanos saibam escolher melhor os seus mais altos representantes no futuro, para bem da segurança no mundo inteiro. E me perguntam sobre Palestina, Líbano, Irão, etc, etc: não queres desejar que saibam também eles escolher melhor os seus líderes? Sobre estes não vale a pena fazer depender demasiadas ilusões e esperanças por agora, e agora mesmo por "culpa nossa" ainda menos. Que sejamos mais responsáveis, apesar da irresponsabilidade de outros, será no final de grande ajuda para que os outros consigam também vir a ser-lo.
*Entretanto as cifras totais aproximadas avançadas pelo primeiro-ministro libanês, Fuad Siniora, diz que seriam em realidade 900 o número de mortos libaneses desde o inicio do conflicto, um terço dos quais com menos de 12 anos, além dos 3000 feridos e um milhão de deslocados. Do lado israelita as fontes públicas deste país somam para o lado de Israel 27 mortos civis e 39 baixas militares. Se temos em conta que o primeiro-ministro cifra em 700 o número de militantes do Hezbollah mortos nos ataques e combates, parece que apenas quereria deixar de fora as crianças, e não todas... Um caso mais para o compêndio histórico de hipocrisias que se escondem por detrás das contabilidades macabras das guerras.
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