Votaram na eleição presidencial de domingo 4,3 milhões de cidadãos, menos do que na primeira eleição de Marcelo em 2016 (4,7 milhões) e na reeleição de Cavaco Silva em 2011 (4,5 milhões), mas mesmo assim só francamente pior do que em 2006, quando votaram 5,5 milhões (e não vale a pena recuar mais). Num contexto de pandemia e de reeleição, foi uma participação muito boa.
O facto maior da eleição é obviamente a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa (havia um único cargo em disputa, o resto são vitórias morais, derrotas simbólicas e testes de popularidade), e também ter sido tão expressiva (61%), só inferior às releições de Soares em 1991 (70%) e de Eanes em 1980 (62%). Venceu em todos os municípios (creio que nunca acontecera). A partir de Março, a maioria parlamentar de esquerda enfrentará em Belém um Presidente empoderado por um resultado historicamente frágil do campo progressista: uns meros 24%. Duvido que não paguemos este resultado muito caro: habitualmente, os segundos mandatos dos presidentes são bem menos equilibrados e centristas.
O principal responsável por a esquerda não conseguir sequer um quarto do eleitorado chama-se António Costa. O mesmo político que conseguiu quebrar com quatro décadas de muro entre as duas esquerdas parece não ter compreendido que os acordos de 2015 lhe conferiam uma responsabilidade especial, e que a partir daí nada seria igual. Talvez não tenha compreendido que a partir de agora é um Primeiro Ministro precarizado.
Ana Gomes teve um resultado honroso em condições políticas e pessoais muito difíceis. O PS ter faltado à chamada, mesmo muito mais do que quando o candidato era Alegre ou Nóvoa, é algo que deveria fazer reflectir sobre se não faltará um partido menos acomodado nessa área. E, felizmente, André Ventura foi estúpido ao ponto de prometer demitir-se se ficasse atrás de Ana Gomes e de lhe ter chamado a «candidata cigana». Sem esses dois gestos fúteis, o político mais incoerente e histérico da 2ª República talvez tivesse ficado em segundo.
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