sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

2016: o início de um novo ciclo?

Talvez daqui a dez anos olhemos para trás com a certeza de que foi em 2016 que o consenso do pós-guerra fria acabou. De 1989 até agora, parecia inevitável que a globalização era uma força irresistível e que a UE seria alargada e aprofundada, que cada vez mais Estados seriam democracias, que os EUA eram a única «superpotência», que o preconceito contra imigrantes e minorias recuaria sempre.

E no entanto, 2016 foi o ano em que o consenso que durava há um quarto de século foi abalado. O Reino Unido - um país nada menor - votou para sair da UE (estagnada), e os EUA pelo isolacionismo; a Turquia regrediu de democracia periclitante para semi-ditadura repressiva; os EUA foram superados pela Rússia na Síria e nas suas próprias eleições; a xenofobia ou até o racismo banalizaram-se nas campanhas políticas.

2017 chegará como um ano em que talvez tenhamos que aprender novos verbos, como «desglobalizar» ou «desdemocratizar». Em que o mundo pode ficar dominado por um eixo Trump-Putin, que entalará uma Europa desorientada e em crise permanente. E em que mais Estados europeus podem eleger maiorias eurofóbicas ou apenas euro-regressivas.


Os poucos sinais de esperança vêm de periferias: o primeiro governo apoiado por toda a esquerda em Portugal (passe o luso-centrismo) e a vitória do ecologista Van der Bellen na Áustria. Uma União Europeia que ajudou a terminar com a Guerra Fria porque prometia democracia e prosperidade tem que cumprir as suas promessas. E, ao mesmo tempo, a esquerda que era anti-imperialista tem que entender que a Rússia é o novo Império. Mas desconfio que Trump lhes vai explicar.

5 comentários :

Patrícia Gonçalves disse...

Valha-nos Santa Merkel

Mats disse...

O internacionalismo estava condenado ao fracasso enquanto existisse a liberdade.

Ricardo Alves disse...

Ahn? Pode explicar melhor?

Mats disse...

A condição natural do ser humano é defender os seus (nacionalismo e patriotismo). O internacionalismo só avançou devido 1) a tremenda propaganda anti-nacionalista dos últimos 60/70 anos, 2) censura das vozes anti-internacionalistas.

Mas agora que temos a internet, as vozes nacionalistas levantam-se, e o internacionalismo está condenado a 1) ser imposto à força nos países outrora livres, ou 2) ser rejeitado.

Ricardo Alves disse...

A condição natural do ser humano é matar o seu próximo.
O condicionamento social é não o fazer, e é aí que entram várias convenções/abstrações como o «nacionalismo» e o «internacionalismo». Que são preferíveis ao «estado de natureza».