A Câmara Municipal de Lisboa não deveria construir uma mesquita pelas mesmas razões porque não deve construir igrejas católicas ou templos de qualquer outra religião. Infelizmente, é isso mesmo que está a acontecer neste momento na Mouraria. Porquê?
Não pode ser com certeza por um critério de representatividade: os muçulmanos serão talvez a quarta comunidade religiosa de Lisboa, atrás dos católicos, dos evangélicos e das testemunhas de Jeová. E não há memória de a CML alguma vez ter financiado a construção de igrejas evangélicas ou de «Salões do Reino». Os precedentes de apoio - mas creio que não de assumir totalmente os custos, como parece ser agora o caso - são curiosamente de comunidades ainda mais pequenas, como o centro hindu de Telheiras ou a mesquita (ismaelita) das Laranjeiras. Há portanto comunidades religiosas que merecem o apoio camarário (as «antigas» ou «históricas») e outras que não merecem (se a IURD pedisse um espacinho à CML, duvido muito que tivesse resposta positiva).
O porquê de a CML gastar três milhões de euros na mesquita da Mouraria é claramente outro: quer dar um «sinal de tolerância», de «repúdio pela islamofobia». Será uma intenção louvável. Simplesmente, não é discriminando positivamente o Islão que se atenua ou previne uma discriminação negativa que em Portugal não existe (a islamofobia em Portugal não tem expressão relevante). E uma discriminação positiva a favor de alguns é uma discriminação negativa dos outros.
- (*) Há 100 anos atrás, a construção de templos religiosos às custas do Estado estava proibida (e bem): «A República não reconhece, não sustenta, nem subsidia culto algum; e por isso, a partir do dia 1 de Julho próximo futuro, serão suprimidas nos orçamentos do estado, dos corpos administrativos locais e de quaisquer estabelecimentos públicos todas as despesas relativas ao exercício dos cultos» (artigo 4º da Lei de Separação).
2 comentários :
O post até à imagem está bom, depois dela descarrila um bocado.
Eu diria que para a Câmara de Lisboa não se trata apenas de dar uma melhor integração ao Islão, mas sobretudo de dar uma melhor integração aos bengalis e paquistaneses, que são quem frequenta aquela zona do Martim Moniz e serão os principais frequentadores da sala de oração islâmica atualmente lá existente. Não se trata tanto de integrar uma religião quanto de integrar uma comunidade imigrante. A maioria dos outros muçulmanos frequenta a mesquita central de Lisboa, o problema aqui são os muçulmanos sul-asiáticos.
E porque é que os muçulmanos hão-de ter o privilégio de lhes construírem uma mesquita? Os cristãos ortodoxos (quase todos eslavos) são muitos mais e não lhes foi dado esse privilégio. Os neopentecostais (IURD) são em grande parte estrangeiros (brasileiros e não só) e a CML também não lhes construiu um templo.
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