sábado, 21 de novembro de 2009

Israelitas e palestinianos

A religião é uma coisa fantástica: este grupo de pessoas (israelitas e palestinianos) etnicamente tão próximas, está dividido em duas facções que interpretam a mensagem do mesmo deus de maneiras diferentes.

Há poucas semanas vi um documentário sobre Joseph Campbell em que ele defendia que a religiosidade era uma forma das pessoas se relacionarem com coisas que não têm explicações simples, como o facto de morrermos, a necessidade de termos que matar para comermos e, enfim, os conflitos entre as nossas paixões e as nossas necessidades. Nesse sentido, não tinha dúvidas sobre a importância da religiosidade, que tentava explicar ideias por metáforas, para podermos tenter percebê-las melhor, mas deplorava a religião, que resultava da incompreensão das pessoas que tomavam essas metáforas como factos.

Segundo ele, no original (a filosofia da primeira metade do primeiro milénio antes da nossa Era, na India), a "terra prometida" não era um projecto imobiliário. E a virgindade da Nossa Senhora não era um facto ginecológico.

São metáforas escritas por pessoas inteligentes, sobre a necessidade de tentarmos compreender a nossa condição com as imagens que o conhecimento que temos do mundo, em cada geração, nos permitem.

E estes idiotas - israelitas e palestinianos - agarram-se a duas versões de uma mesma religião, que foi concebida por pastores da Idade do Bronze num mundo que era um quadrado com 250 Km de lado, e matam-se uns aos outros com um ódio racista e fanático difícil de conceber.

Tenho amigos israelitas formidáveis, razoáveis, generosos, bons. Excepto quando se lhes fala de árabes. Há uns tempos li, não me lembro aonde, que em 1947 ou 48 Martin Bubber (um homem adorável e um filósofo que advogava a paz e a coexistência) se mudou para a casa dum poeta palestiniano que foi despejado para o efeito.

Esta recusa em ver 'os outros' como seres humanos - Thomas Friedman descreveu eloquentemente em 'From Beirut to Jerusalem' os arrepios que sentia quando os israelitas diziam 'arranja-se um árabe para fazer isso' - transformou o Médio Oriente num inferno de estupidez e brutalidade indiscritíveis.

E, por favor, não me venham dizer que uns são piores do que os outros. A estupidez e a brutalidade sociopata são atributos igualmente abundantes entre estes dois grupos de selvagens, racistas e sociopatas.

8 comentários :

Anónimo disse...

' por favor, não me venham dizer que uns são piores do que os outros. A estupidez e a brutalidade sociopata são atributos igualmente abundantes entre estes dois grupos de selvagens, racistas e sociopatas.'

Eis aqui um pedaço de prosa redutor e,como um ateu pode ser tão estúpido qto um religioso.

Filipe Castro disse...

Se tiver seis horas, posso-lhe contar histórias.

Miguel Madeira disse...

Não me parece é que isso tudo tenha muito a ver com religião:

- os palestinianos muçulmanos e cristãos não se matam uns aos outros (pelo menos com regularidade)

- Até há pouco tempo os judeus seculares se calhar até eram mais "falcões" que os ortodoxos

- Alguns dos grupos palestinianos mais violentos dos anos 60/70 (FPLP,FDLP)eram dirigidos por cristãos convertidos ao ateísmo (sub-departamento "a religião é o ópio do povo")

Parece-me que isto é mais um problema de diferentes sentimentos de pertença histórica e cultural do que propriamente de religião - mesmo que todos eles se tornassem ateus de repente o conflito continuava.

João Vasco disse...

Miguel Madeira:

Sobre a ausência de conflitos envolvendo cristãos, temos de nos lembrar desse pequeno detalhe que foram as cruzadas. Já desde essa altura que havia luta por Jerusalém. Nessa altura havia paz entre os Islâmicos e os Judeus, e tolo seria usar esse argumento para alegar que as cruzadas não tinham raiz religiosa.

Isaac Rabin foi assassinado, e se não fosse esse assassínio o processo de paz poderia estar noutro patamar. Mas foi um grupo religioso (judaico) que o matou. Eu acredito que a maior parte das pessoas não acredita a 100% que se perder a vida no martírio vai encontrar as virgens e ser feliz para sempre. Mas existem alguns, mais susceptíveis e crédulos, que acreditam mesmo. Sem islamismo não haveria o mesmo martírio, e o processo de paz seria bem mais fácil.

Por isso, é de ambos os lados. O que Jerusalém tem de diferente de outras terras - e em várias houve guerras, mas geralmente não tão complicadas, não com tantas implicações internacionais, e duradouras (perde-se no tempo a guerra por esse punhado de terra) - é o facto de ser vista como sagrada por três (importantes) religiões diferentes. Mais nada.

Anónimo disse...

xor filipe castro,basta por exemplo ler isto,entre muitos outros e,não preciso de 6 horas.Israel é o policia dos EUA,na ordem capitalista(não sei se está a ver...)pq súcias a favor do capitalismo nada tÊm de esquerda.
Ora,leia e,se quiser tb há autores israelenses para levar com eles no seu intelecto 'imparcial'.

http://infoalternativa.org/spip.php?article1296

Já agora:comprimentos(sic) ao Vara....

Ricardo Alves disse...

Filipe,
obrigado pelo texto. Poupaste-me o trabalho de explicar os meus dois posts sobre o «horror» que tanta supresa causaram entre aqueles que não me compreendem.

Ricardo Alves disse...

Miguel Madeira,
os palestinos muçulmanos e cristãos não se matam, é certo; como os israelitas judeus e muçulmanos (druzos) não se matam (estes últimos até fazem parte do exército israelita).

Todavia: o facto é que o problema se tornou mais religioso nos últimos trinta anos. O campo secular tornou-se mais fraco tanto do lado palestino (a OLP foi substituída pelo Hamas na liderança dos palestinos), como do lado israelita (com a subida dos partidos ortodoxos). E o problema de fundo, neste momento, é que nem os israelitas abdicam do carácter judeu da democracia israelita (carácter «judeu» que impossibilita que Israel se torne um Estado de cidadãos), nem os palestinos parecem interessados em abandonar o apoio ao Hamas que tanta capacidade de sacrifício e intransigência (qualidades bem religiosas) tem mostrado.

Filipe Castro disse...

Com certeza que não é só a religião que mantém os ódios acesos. E é claro que a guerra fria influenciou políticas e viabilizou crimes. Mas a religião é um factor importantíssimo, em ambos os lados do conflito. Cada vez mais.

Quanto aos cristãos, lembro-vos que foram fundamentais no colapso do Líbano. E tão violentos e racistas como os outros grupos religiosos. Os masscres de Shatila e Sabra foram organizados e perpetrados por cristãos, com a conivência e o apoio de Israel (do criminoso de guerra Ariel Sharon).