quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Um milagre!

Cheguei de fora e li a história de uns monárquicos que meteram a bandeira deles num edifício da CML. Achei a história divertida, por um lado porque tenho um fraquinho por actos de subversão não violentos, venham de onde vierem, e por outro porque os monárquicos - com ou sem ideias - aumentam a biodiversidade do país, o que é sempre bom. Eu tenho saudades dos MRPPs (menos do Durão Barroso, que já nasceu sério e nunca teve graça nenhuma).

Claro que seria melhor se os monárquicos tivessem ideias, mesmo vagas, como no tempo em que o PPM era o único partido verde do país... exagero: toda a gente sabe que dentro do movimento monárquico há correntes com ideias absolutamente claras. Conheço monárquicos de vária pena e pêlo, e não seria justo arrebanhá-los todos numa mesma massa informe e sem justificação teórica. Por exemplo, os miguelistas defendem um programa político perfeitamente definido e amplamente testado, dentro das linhas dos regimes de Pol Pot ou Kim Jong-il, mas com igrejas em vez de centros culturais revolucionários.

Outros monárquicos acreditam que as eleições têm sempre uma carga humilhante de populismo, em que mesmo os candidatos mais sérios e mais inteligentes têm de dizer que gostam do João Baião e de torresmos com vinho de má qualidade, beijar criancinhas e abraçar velhinhas, ou ir à missa, dizer bem do papa e outras coisas igualmente revoltantes. E têm muitíssima razão. Estão cobertos de razão. A democracia é um mal necessário.

Ainda outros monárquicos acham, com uma santa mas honesta inocência, que a existência de uma família real desincentiva o roubo, a corrupção e os favores políticos.

Mas acho que os monárquicos com ideias são poucos e que os comentadores que fizeram troça do movimento monárquico esta semana, acusando-o de ser o deserto das ideias, têm muita razão para se irritarem.

Porque a maioria dos monárquicos acha que Portugal é uma piolheira por ser uma república e que a Holanda, a Suécia, a Dinamarca e a Noruega são países ricos, democráticos, justos e civilizados, por serem monarquias. Ou seja, a maioria dos monárquicos constitui um grupo de alienados perigosos, com uma visão infantil e disfuncional do mundo, que acredita num milagre ainda mais inacreditável do que a virgindade da Nossa Senhora ou a santidade do Monsenhor Escrivá: acredita que o simples facto de trocar o Dr. Cavaco Silva pelo Sr. Duarte de Bragança transformaria Portugal numa Dinamarca ou numa Suécia.

E isto é uma ideia de fazer um ateu bradar aos céus! :o)

18 comentários :

João Ricardo Vasconcelos disse...

Viva,

Premiozinho para o Esquerda Republicana no Activismo de Sofá:
http://www.activismodesofa.net/2009/08/comprometidos-y-mas-2009.html

Cumprimentos,
JRV

Anónimo disse...

Excelente análise, muito obrigado, não podia estar mais de acordo.
fcl

Unknown disse...

Monárquicos com idéias? Calúnias!
O monarquismo tem uma superioridade moral que não carece de justificação teórica e ultrapassa convenções novecentistas de ideologia.
Aquilo que move um verdadeiro monárquico é a Estética e a Economia.

Quanto ao argumento da troca: será que o fim dos reinados da Grã-Bretanha ou da Espanha transformaria esses países num Portugal ou numa Turquia?

Pergunta para bónus: não houve aqui há atrasado um governante de certo território que pretendia submeter a sua bandeira azul e branca "municipal" à presente republicana e nacional?

Anónimo disse...

Tudo bem que os monárquicos não têm ideias e o vosso estereotipo até está bem achado...O mesmo se aplica aos republicanos que nos governam e as malandrices em que andam metidos (lembro-me logo do mui republicano Almeida Santos e dos seus boys de Macau o dos laranjinhas do BPN)..Agora o facto o PPM ter sido o 1º partido "verde" do país e do Arq. Ribeiro Teles ter sido a primeira pessoa a falar de politicas ecologicas e ordenamento do território devia ser algo a respeitar e não algo de que se faça chacota...Acho que para chacota devemos pegar nos mesquitas machados deste país que à sua maneira também ridicularizam o pensamento do Ribeiro Teles e nos fodem este país de norte a sul...

Ricardo Alves disse...

Excelente artigo, Filipe. Totalmente de acordo.

Filipe Castro disse...

Eu não referi o Arqto. Ribeiro Teles em tom jocoso. Acho que ele teve um papel extraordinário no plano político, apesar de não ter tido mais poder do que o de persuadir as pessoas com argumentos racionais. Acho que as ideias dele eram vagas porque não há nenhuma relação entre a monarquia e a ecologia. Pelo contrário, a aristocracia rural tem uma história longa e notável de destruições predatórias. Havia um duque que dizia que o sonho dele era matar o último lince.

Filipe Castro disse...

Quanto aos mesquitas machados e os jorges coelhos, acho que mais do que vê-los ridicularizados, gostava de os ver com algemas, a entrarem para o carro da polícia. Mas como a sociedade ocidental não inclui os crimes de colarinho branco nos códigos penais, o mais que podemos fazer é odiar e desprezar toda essa escumalha miserável de gananciosos mesquinhos e aldrabões manhosos, sem princípios nem coluna vertebral, capazes das piores ignomínias por uma nota de vinte.

E não votar neles nunca, diga o Miguel Vale de Almeida o que disser, aconteça o que acontecer.

dorean paxorales disse...

Ó Filipe, desculpe lá mas um duque tem a ver com a monarquia tanto quanto um comendador com a república.

dorean paxorales disse...

Como por exemplo, o comendador Mesquita Machado (ordem do infante) e o conselheiro de estado Jorge Coelho...

Filipe Castro disse...

Os títulos só têm a ver com a monarquia! O Mesquita Machado pode ser comendador e até lhe podem dar 10 doutoramentos honoris causa, mas ele não os pode passar aos filhos. Ao passo que os duques casam com a prima-irmã e têm um duquezinho, com os olhos um bocadinho mais perto um do outro... :o)

dorean paxorales disse...

Nope. Os títulos não são (e não eram) necessariamente hereditários.

Essa dos olhos mais perto lembra a catalogação antropomórfica introduzida pelo dr.costa nas prisões republicanas de padres...
Ups, já voltei a falar do passado, raios! E do costa, coriscos! :)

Anónimo disse...

Sim Filipe Castro e esse duquesinho pode vir a ser um ecologista!Que argumentos mais fracos!!!
Já o Mesquita Machado não passa o título mas vai passando o dinheiro das vigarices que faz aos filhos,o que é bem pior do que passar um titulo.
Se ler com atenção as ideias e propostas do Arq. Ribeiro Teles vai perceber que as suas ideias não eram nada vagas. Para fazer afirmações dessas convem conhecer e saber do que se está a falar o que, notóriamente não é o caso...

Filipe Castro disse...

Mas ele saíu do PPM. E fundou outro partido (da Terra?).

Filipe Castro disse...

Se calhar não me expliquei bem: a maioria dos monárquicos que conheci (e um era dirigente) tinham saudades do 24 de Abril. Ponto. Não sabiam o que fosse ecologia, nem sustentabilidade, nem planeamento, nem urbanismo, nem qualidade de vida urbana. Nem queriam saber. Uma vez estive meia hora a tentar explicar a um dono duma herdade enorme que não devia pagar aos bicheiros por cada bico de águia que eles lhe traziam porque os predadores comem as perdizes e as lebres doentes e evitam que as doenças se espalhem. Podia ter-lhe esplicado isto tudo em chinês, que tinha sido igual. Defender os interesses desta gente e os do planeta, ao mesmo tempo, implica uma certa falta de rigor no projecto político do PPM.

dorean paxorales disse...

Filipe,

eu também já conheci "republicanos" que comem criancinhas ao pequeno-almoço (completamente aleatório) mas tenho a certeza que nem V. nem a maioria dos seus correlegionários são desses.

dorean paxorales disse...

a propósito de filhos e hereditariedade:

http://sorumbatico.blogspot.com/2009/08/isto-tem-algum-jeito.html

Ricardo Alves disse...

«Ups, já voltei a falar do passado, raios! E do costa, coriscos! :)»

Xii... Que obsessão.

dorean paxorales disse...

"Xii... Que obsessão."

eheheh...