sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A existência e a bondade

Ao debater com crentes (aparentemente católicos) nas caixas de comentários de outro blogue, apercebi-me de como muitos crentes (talvez uma esmagadora maioria), não conseguem separar a questão da existência de «Deus» da respectiva bondade.

Ora, «Deus» existe ou não independentemente da sua «bondade» (ou da sua «maldade»). Mais: antes de abordar a questão das escolhas morais que «Deus» faz (ou não), antes sequer da questão de saber se «criou» um mundo injusto (ou justo), está a questão da existência.

Penso que a confusão dos católicos a este respeito tem duas origens. Por um lado, acham que sem acreditar em «Deus» não há razões para ser «bom». Por outro, acham que o universo tem um propósito (ético).

A primeira ideia é ofensiva, e é desmentida pelos factos. A segunda apela a um desejo de conforto com o cosmos, a uma esperança de que o universo seja mais do que poeira e pedra. É tocante, mas enganoso. E não me parece que seja conciliável com o que observamos na natureza, da violência entre espécies à morte térmica das estrelas, passando pelos tsunamis e pelo cancro da mama.

(Mas é sempre fascinante entender com que medos e desejos joga a religião.)

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

5 comentários :

JDC disse...

"Por um lado, acham que sem acreditar em «Deus» não há razões para ser «bom»."

A meu ver, que vale o que vale nem tenho formação em ética, sem Deus não é que não haja razões para se ser bom, simplesmente não há um imperativo, isto é, terá de ser eticamente aceitável ser-se bom ou ser-se mau, uma vez que a moral fica confinada à esfera pessoal. Sem Deus, parece-me, a única forma que a sociedade tem de condenar os seus elementos que optam por serem "maus" é o utilitarismo, como forma de maximizar o bem-estar geral da sociedade, o que será sempre (lá está) relativo...

Ricardo Alves disse...

...E com «Deus» enquanto única garantia do «imperativo ético», caímos numa visão utilitária da divindade.

Parece que não há saída para esta «pescadinha-de-rabo-na-boca».

A menos que aceitemos que sermos «bons» é uma expressão dos nossos deveres para connosco e para com os outros.

Filipe Castro disse...

O Nietzsche escreveu palavras muito sábias sobre este assunto :o)

Zeca Portuga disse...

Que Deus lhe acuda Ricardo!

Porque razão você tem que meter sempre Deus nos Negócios dos homens?

Ele é bem mais omnipresente na sua vida do que na de um crente!!!

Um crente tem principios e valores - segue-os e não se preocupa mais. O crente sabe que Deus percebe as suas fraquesas, que o ampara, que lhe estende a mão... Mas você passa a vida a mendigar socorro, borrado de medo, mas armado em corajoso - cão que ladra não morde!

Esse Deus, de que você fala, é feito à medida da sua imperfeição e da sua imaginação. Não é o Deus que os católicos seguem!

João Vasco disse...

Zeca:

Obrigado por ilustrar o texto do Ricardo. Acredito que involuntariamente, mas isso não tira eloquência à ilustração, pelo contrário.