quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O sermão é uma arma

Quem se arroga a faculdade de enviar ingénuos para o «inferno» ou para o «paraíso» também, facilmente, se auto-atribui o direito de os induzir a votar num candidato ou noutro.

A eleição presidencial nos EUA não escapa a esta regra. Os relatos não param de chegar: ou é um bispo católico que escreve aos seus diocesanos aconselhando a votar contra o «abortista» Obama, ou uma igreja cristã que afixa um cartaz terrorista aconselhando o voto nos conservadores, ou ainda um pastor protestante que apela ao voto em McCain. Os exemplos abundam, até porque existe quem defenda activamente que as igrejas devem fazer política.

Deveria ser óbvio que a liberdade de expressão não inclui a prerrogativa de abusar do poder que se detém («espiritual» ou não), para influenciar a votar num ou outro sentido. A Associação República e Laicidade explicou isto mesmo há uns anos, e foi violentamente criticada. Mas estes sacerdotes eleiçoeiros, com tanto desespero em apelar ao voto em vez de confiarem em «Deus» para a vitória dos seus valores, parecem mais ateus do que eu...

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

2 comentários :

JDC disse...

Concorde-se ou não com o sentido de voto induzido pela igreja, porque não tem direito a aconselhar? Por possuir uma grande influência espiritual? Então e os media? Qual é o meio de comunicação social que não tem uma agenda política? Quem não notou a notória viragem à direita do Público?
Não é à toa que se diz que o 4º poder é a comunicação social e não a igreja. A verdade é que, em política, a própria forma de veicular a mensagem dos diversos partidos está sujeita a um filtro dos próprio media que dão mais ou menos ênfase a cada assunto consoante as conveniências...

Se o padre/bispo/whatever ameaçar os seus párocos com expulsão ou excomunhão, estou inteiramente de acordo convosco. Mas se servirem do seu estatuto para os aconselhar está plenamente no seu direito. Aliás, só vai à igreja quem quer e mais, é-se livre de escolher qual igreja que se quer ir. E, mesmo assim, é-se livre de não acatar os conselhos do padre. Ou será que não podemos confiar na soberania do povo? Qual a diferença de ouvir as crónicas do prof. Marcelo ou ler um cartaz da igreja?

E não me venham com obediência à igreja e essas tretas, toda a gente sabe que as pessoas cada vez mais pensam por elas próprias e ligam menos aos avisos paroquiais... Como, aliás, sempre deve ser na nossa vida, quer acreditemos em deus ou não...

Anónimo disse...

Pergunto-me o que aconselhará aquela igreja supremacista negra a que o obama pertencia...