segunda-feira, 9 de julho de 2007

Revista de blogues (9/7/2007)

  1. «Em primeiro lugar, toda a discussão em torno dos custos para o contribuinte da monarquia britânica assenta num pressuposto falacioso, que é o de fazer passar a ideia de que todo o custo da manutenção do fausto monárquico passa pelo financiamento proveniente dos cofres do Estado. Assim não é, uma vez que apenas o que é alocado através da "civil list" é que entra nas contas da monarquia britânica e são esses os dados que são apresentados. O resto, os demais custos de funcionamento, são suportados pela fortuna pessoal da monarca – que, se bem se recordam, até começar a pagar impostos na década de 90 do século passado, era a mulher mais rica do país. Sucede que a dita fortuna pessoal do monarca não é senão resultado de vários séculos de acumulação de património imobiliário e mobiliário, resultante da confusão das esferas públicas e privadas do monarca. Ou seja, a riqueza pessoal do monarca, que suporta os restantes gastos da instituição, desonerando aparentemente o contribuinte, mais não é do que o produto da retenção daquilo que deveria integrar o património nacional, mas que ficou afecto à pessoa do rei (nos estados que implantaram regimes republicanos, o destino do referido património foi o da integração nos bens do Estado uma vez extinta a instituição da coroa). (...) Finalmente, ainda que as contas apresentadas espelhassem a realidade e a presidência da República custasse mais do que a monarquia britânica, a questão de fundo mantinha-se inalterada: devemos perpetuar a transmissão das funções de chefe de Estado por via hereditária, afirmando diariamente a desigualdade entre os cidadãos e promovendo uma forma de privilégio assente em argumentos irracionais, ou devemos continuar a eleger democraticamente o primeiro magistrado da República, exigindo-lhe uma prestação de contas no final do mandato e assegurando um exercício limitado, não vitalício, de funções?» («É, de facto, uma questão de valores», no Boina Frígia.)
  2. «Suponhamos, de uma forma muito imaginosa, que o Eng. Belmiro de Azevedo, e uso este nome apenas porque é muito conhecido, vinha dizer que a sua gestão da SONAE era inspirada por um deus qualquer, que teria aparecido na cúpula de um dos seus centros comerciais e lhe tinha comunicado as suas preferências através de um telemóvel Optimus. Logo seria alvo de dois tipos de epítetos, ou estava louco, ou era um grandessíssimo aldrabão, vigarista e outras coisas parecidas. Em qualquer dos casos o que estaria a fazer era tentar arranjar mais clientes para as suas múltiplas empresas. (...) Nas religiões organizadas o caso é, aparentemente, diferente, os constituintes das organizações fingem que nada ganham com o que fazem, fingindo que quem ganha são os adeptos. Se olharmos para a maneira de viver dessas pessoas verificamos que a maioria (há excepções) vive no luxo e goza de facilidades completamente interditas ao cidadão comum. Para manter esta situação todas as seitas necessitam de aumentar o número de adeptos para que as contribuições para o funcionamento da seita aumentem, e, portanto há que recorrer à publicidade. Para manter as aparências as seitas não podem pôr anúncios nos jornais ou na TV, por exemplo, dizendo que a seita X leva o adepto mais depressa para a salvação (o que quer que isso seja) sem estragar o fato. Têm que ser mais subtis, arranjam uns programas pseudo-culturais em que o objectivo é o mesmo, enviam visitantes a casa, ou abordam os incautos na rua. É isto o proselitismo. Acusar uma seita, como a ICAR, de proselitismo é o mesmo que acusar uma vaca de dar leite, ou uma águia de voar: faz parte da sua natureza e sem essa atitude não sobreviveriam.» («O proselitismo das religiões», no Croquete-matinal.)

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