domingo, 29 de julho de 2007

Escolas públicas e privadas (2)

O João Pedro tem toda a razão quando refere a importância do ambiente em que se cresce, das conversas que se ouvem, dos amigos dos pais que vêm jantar, dos livros que há em casa, dos filmes que se vêem, dos programas de fim de semana, etc. A qualidade do ensino, por si só, não é determinante para o sucesso dos estudantes na vida profissional.

Por exemplo, uma coisa importante nas escolas privadas são os amigos. A possibilidade de controlar com quem é que os nossos filhos se dão é uma vantagem importantíssima na educação deles.

Nos anos do cavaquismo, um amigo meu, a trabalhar numa empresa financeira qualquer, perguntou a um banqueiro amigo do pai porque é que o banco dele tenha deixado sair um determinado gestor (que segundo o meu amigo era extraordinariamente competente e tinha acabado de começar a trabalhar na empresa dele). O banqueiro respondeu que o gestor em questão “era de baixa extracção”. O meu amigo riu-se e perguntou se ainda fazia sentido nos anos oitenta ser-se snob no mundo dos negócios. O banqueiro respondeu-lhe que havia pessoas que eram de confiança – “dos nossos” – e pessoas que não eram de confiança. Por exemplo – dizia o banqueiro – a seguir ao 25 de Abril, uma data de trabalhadores de longa data tinham-se identificado com a revolução e não hesitaram em atacar os interesses do banco e das empresas da família dele. Lugares de responsabilidade deviam ser dados a “pessoas de confiança, com os mesmos valores que nós.”

As amizades que se fazem nos colégios – e não é preciso haver ordens secretas do tipo dos “skull and bones” – são de extrema utilidade na vida profissional.

10 comentários :

Tárique disse...

Dificilmente encontrarás mundo mais classista do que o dos negócios em Portugal. Na consultoria estratégico-financeira é quase impossível passar de junior consultant com um nome plebeu tipo José Alfarroba ou Manuel Casquinho, mesmo que se seja um génio (e acredita, é preciso sê-lo para ser contratado com estes nomes).
Por outro lado, um Bernardo Mello e Neto ou um Martim d'Orey e Bettencourt vêem o caminho alcatifado a vermelho aos seus pés.
Meritocracia? Lei do mais forte? Sobrevivência dos mais aptos? Querias!

Filipe Castro disse...

Comment delited? Mas eu não apaguei nada! :)

Filipe Castro disse...

O Tariq tem razão. Mas é assim em quase toda a Europa. Há uns meses li que iam prender o filho da Thatcher, que é um delinquente qualquer e que estava metido num golpe de estado em Africa. Mas eu admirava-me se lhe tocassem. Nunca mais ouvi falar nele :)

Anónimo disse...

É uma desvantagem da sistema liberal, é que neste há a exploração do homem pelo homem, enquanto no sistema socialista passa-se o inverso.

João Moutinho

Filipe Castro disse...

Eheheh. Mas as coisas nao tem de ser sempre pretas ou brancas. Para voces quem nao concorda com o Arroja e estalinista... :)

dorean paxorales disse...

Caro tárique,

E diz do homem-forte da Vodafone, um tal de Carrapatoso?

dorean paxorales disse...

Por outro lado, quem quer bettencourts vai aos Açores.

e-ko disse...

Para não falar do ilustre, e de nome sonante, benemérito do cds/pp Jacinto Leite Capelo Rego...

paulocosta disse...

Paulo Costa já para a alta finança!

Ricardo Alves disse...

Filipe,
os comentadores têm a possibilidade de apagar os seus próprios comentários.

Quanto ao resto, tens toda a razão. As capacidades de relacionamento social e os conhecimentos pessoais que se têm são mais importantes para o sucesso profissional do que o mérito ou a capacidade de trabalho. Não tenho é a certeza de que Portugal seja o único país que funciona assim. A Inglaterra, por exemplo, é muito semelhante nesse aspecto.