terça-feira, 3 de abril de 2007

Liberdade política e credibilidade científica

A facção Baptista dos comentadores deste blogue não gostou do meu regozijo por o artigo de Jónatas Machado ter sido retirado do Ciência Hoje. Respondo-lhes em forma de artigo porque vale a pena explicar algo de importante.
  1. Politicamente, reconheço a total liberdade dos criacionistas para difundirem as suas ideias através das suas igrejas, dos seus media, das aulas que dão nas suas associações, ou através de propaganda distribuída na rua. Defendo o direito de quem acredita que a Terra é plana a difundir as suas ideias através de associações privadas.
  2. Também ao nível político, considero um escândalo que o Estado português financie o ensino do criacionismo, ainda por cima na escola pública, e se dependesse de mim a Educação Moral e Religiosa Evangélica já teria terminado (e a EMR Católica também, por razões de princípio).
  3. Uma publicação que se pretende de divulgação científica (como o Ciência Hoje geralmente consegue ser) não pode incluir artigos anti-científicos ou pseudo-científicos, como era o caso do referido artigo de Jónatas Machado, pela simples razão de que afecta a sua credibilidade, e confere crédito àqueles que querem trocar a ciência pelos dogmas religiosos. É auto-agressão.
  4. Que eu saiba, as revistas evangélicas ou católicas não incluem artigos a explicar os erros científicos dos dogmas respectivos (o que está de acordo com a tradição abrâamica de fuga ao livre exame). Se a religião entrar nas universidades ou nas revistas científicas, deve ser apenas para ser estudada cientificamente, e eventualmente refutada. No entanto, não defendo que tal refutação seja absolutamente necessária, e até acho que no ensino público os professores se devem abster de abordar a religião (à excepção, evidentemente, da aulas de História ou de Filosofia).

5 comentários :

David Cameira disse...

Deixo apenas um link muito interessante:

http://www.xmission.com/~fidelis/volume4/chapter5/beach.php

Anónimo disse...

Ainda bem que apesar da faccção Baptista ainda temos o direito á livre associação.

Marco Oliveira disse...

Se alguém escrever num jornal desportivo que o Desportiva da Cascalheira é o melhor clube do mundo, a maioria de nós vai rir. Provavelmente até pensaremos que o autor é brincalhão ou lhe falta um parafuso. Os adeptos do Desportivo da Cascalheira é que vão ficar todos contentes.

Se alguém escrever num jornal de Economia e Finanças que a Mercearia da Esquina é a maior empresa portuguesa, a maioria de nós vai rir. Provavelmente até pensaremos que o autor é brincalhão ou lhe falta um parafuso. Os donos da Mercearia da Esquina é que vão ficar todos contentes (e aqueles clientes que passam lá a vida a falar com eles também vão gostar de ler essa notícia).

Mas se alguma dessas colunas de opinião for primeiramente publicada e depois retirada, isso é um acto de censura. Por muitas justificações que se encontrem será sempre um acto de censura. Bem podemos dizer que um jornal desportivo credível não pode publicar aquelas coisas sobre o Cascalheira; ou que um jornal de Economia e Finanças que se preze não pode dar voz a certas patetices.

Nestes casos, não há nada como meia dúzia de explicações lógicas e racionais para explicar a verdadeira dimensão do Desportivo da Cascalheira e da Mercearia da Esquina. Exige-se um contraditório esclarecedor.

É verdade que os media ganham e perdem credibilidade com os textos que publicam; mas também ganham e perdem credibilidade com outras atitudes, nomeadamente, ao censurar ou eliminar artigos.

Foi exactamente isso que aconteceu no Ciência Hoje. A credibilidade deste site não se perdeu com a publicação do artigo do Jonatas Machado; perdeu-se quando retirou o artigo, abdicando de um contraditório.

Ricardo Alves disse...

Tiago,
como antes de 1910 estavam na clandestinidade, não se esqueça de agradecer ao Afonso Costa a liberdade de associação. ;)

Marco,
num portal chamado «Ciência Hoje» espera-se ciência, não se espera religião. Como n´A Bola se espera ler futebol, e não culinária ou política asiática. Evidentemente, uma publicação de ciência pode ocupar-se da religião como objecto de estudo. Mas publicar textos religiosos como o do Jónatas não é estudar religião. É publicar religião num portal de ciência.

Anónimo disse...

A distinção entre ciência das origens e religião é uma ideia que nem todos têm que aceitar. A mesma parte de um entendimento muito controverso da religião e da ciência.