sexta-feira, 26 de maio de 2006

É assim que morrem as democracias

(João Miranda - Blasfémias)

17 comentários :

Pedro Viana disse...

A chamada de atenção indica um apoio ou uma crítica ao post referido?...

Democracia (Priberam online): sistema político fundamentado no princípio de que a autoridade emana do povo (conjunto de cidadãos) e é exercida por ele ao investir o poder soberano através de eleições periódicas livres, e no princípio da distribuição equitativa do poder.

Democracy (Oxford online): form of government in which the people have a voice in the exercise of power, typically through elected representatives; a state governed in such a way; 3 control of a group by the majority of its members - ORIGIN Greek demokratia, from demos ‘the people’ + -kratia ‘power, rule’.

Democracia quer dizer: "people rule"; a maioria decide.

Quem quer à partida limitar o modo como a maioria decide ou o modo como quer ser governada não é de certeza democrata. É alguém que não aceita o princípio da decisão pela maioria e quer controlar as decisões desta através de minorias não eleitas, e cujo poder não resultou da delagação explícita de poder pela maioria.

Não compreender que o João Miranda, um anarco-capitalista, é o oposto dum Democrata é demonstrar grande ignorância ideológica. O João Miranda, como anarco-capitalista que é, não acha sequer que haja qualquer coisa que a maioria possa decidir pois esta não tem o "direito" de impôr o que quer que seja a um indivíduo. E depois passa por Democrata... não há dúvida que parece conseguir iludir uns incautos...

Rui Fernandes disse...

Eu sabia que apresentar um enlace a um post do Blasfémias deste blogger sobre este tema seria para algumas almas sensíveis desagradável. No entanto neste mesmo blog o Ricardo Alves já havia enlaçado a pelo menos um post do João Miranda antes assim que de alguma forma me pareceu que o caminho estava bastante mais aberto. Quanto ao comentário anterior sobre o enlace, que realmente é "de apoio": existem definições muito diferentes sobre "ser cauto". A minha seguramente não será a do Pedro. E acima de tudo ninguém nunca disse que a democracia era incapaz de suicidar-se de vez em quando.

Rui Fernandes disse...

Perdoem-me a espanholização. Acima em enlaces e enlaçar substituam por ligar e ligações. Coisas do directo.

""#$ disse...

"""Não compreender que o João Miranda, um anarco-capitalista, é o oposto dum Democrata é demonstrar grande ignorância ideológica. O João Miranda, como anarco-capitalista que é, não acha sequer que haja qualquer coisa que a maioria possa decidir pois esta não tem o "direito" de impôr o que quer que seja a um indivíduo. E depois passa por Democrata... não há dúvida que parece conseguir iludir uns incautos... """


Por acaso vinha qui para escrever algo como isto.
Fiquei comovido com a terna perturbação do sr miranda acerca dos limites ao poder executivo serem removidos etc..
Tendo em conta aquilo que é padrão de escrita do sr miranda ficamos admirados com esta subita conversão à democracia,nomeadamente porque o sr miranda não é um democrata...mas enfim...

Pedro Viana disse...

"E acima de tudo ninguém nunca disse que a democracia era incapaz de suicidar-se de vez em quando."

É verdade? E depois? Por acaso o suícídio deve ser proibido?... Um indivíduo não tem o direito de se suicidar? E no caso da decisão "suicida" de acabar com a democracia (que não tem nada a ver com a eventual concentração de poder num executivo, desde que no mínimo esse executivo possa ser mudado através de eleições livres períodicas), há sempre a possibilidade (ao contrário do suícidio individual...) de reverter a decisão através dum levantamento popular, como tantas vezes aconteceu, tem acontecido e vai acontecer ao longo da história. É muito "ternurenta" a preocupação que o Rui Fernandes tem com a possibilidade da maioria dos cidadãos tomar decisões que **o** Rui Fernandes acha que não são no interesse dessa maioria de cidadãos... deve ter jeito para ama-seca.

Ricardo Alves disse...

O João Miranda já explicou várias vezes que considera o liberalismo económico mais importante do que a democracia política. Por isso, parece-me que ele critica o Morales por este estar a colocar em causa a propriedade privada, não por querer manter-se no poder.

dorean paxorales disse...

E' mais uma posta mirandesa do alto. Para quem gosta, e' preferivel ler directamente o Economist ou outro qualquer pasquim do genero. Para que intermediarios?

Rui Fernandes disse...

"O João Miranda já explicou várias vezes que considera o liberalismo económico mais importante do que a democracia política. Por isso, parece-me que ele critica o Morales por este estar a colocar em causa a propriedade privada, não por querer manter-se no poder."

A minha concordância pontual com o Jorge Miranda não significa que concorde com o conteúdo das teses em geral apresentadas por João Miranda. Isso por uma (primeira) parte. Por segunda parte eu também acho que colocar em causa de forma sistemática e ou absoluta a propriedade privada é, históricamente e na sua essência, totalitarismo.

""#$ disse...

"""O João Miranda já explicou várias vezes que considera o liberalismo económico mais importante do que a democracia política"""

o PROBLEMA É EXACTAMENTE ESTE.

Rui Fernandes disse...

A citação é do Ricardo Silva não é minha.

Rui Fernandes disse...

Jorge Miranda é João Miranda no meu comentário anterior...

Rui Fernandes disse...

e o ricardo silva é o ricardo alves...

Pedro Viana disse...

Caro rui fernandes,

1) Pode-se concordar com alguém pontualmente. Mas, a não ser que se partilhem as razões dessa concordância, que eu estranharia muito serem as mesmas em alguém que escreve num blog denominado Esquerda Republicana e o anarco-capitalista João Miranda, então não faz sentido andar a chamar a atenção para essa partilha, superficial, de opiniões. Por acaso o CDS-PP anda a dizer a quem o queira ouvir que o BE partilha da sua visão de que não devem existir círculos uninominais?...

2) Há que distinguir vários tipos de propriedade privada: de bens pessoais; dos meios de produção; de recursos naturais. A esquerda, mesmo a mais radical, genericamente nunca colocou em causa o primeiro tipo, e hoje em dia na prática já não exige que não haja meios de produção privados. O que hoje se vê é que certos governos de Esquerda, nomeadamente na Venezuela e Bolívia, estão a tentar recuperar a propriedade dos recursos naturais no seu território. Se o rui fernades acha tal como sendo totalitarismo então de certeza que não é de Esquerda. Pode discordar, e há quem na Esquerda discorde de tal, principalmente se tal implicar a não existência de propriedade privada (podia dizer "absoluta") da terra, mas chamar a tal totalitarismo é não saber o que significa a palavra.


Por segunda parte eu também acho que colocar em causa de forma sistemática e ou absoluta a propriedade privada é, históricamente e na sua essência, totalitarismo.

Rui Fernandes disse...

Então estamos de acordo. Falo do teu/meu último paragráfo, não falo disto: "Pode-se concordar com alguém pontualmente. Mas, a não ser que se partilhem as razões dessa concordância (...) então não faz sentido andar a chamar a atenção para essa partilha, superficial, de opiniões." Onde mostras excepcionalmente bem a tendência de alguma esquerda em realizar processos de intenções. Se concordo com o conteúdo do post do João na sua totalidade não percebo porque não posso ligarlo... Era só o que faltava estar a receber liçoes de "coerência partidária". Que tás a espera que me retrate? Estás a ser um pouco-bastante estalinista não sei se te dás conta disso.

Quanto a segunda questão eu estou a favor da nacionalização das fontes bolivianas de hidrocarbonetos. Leia o que eu disse aqui por exemplo. O problema não está aí, está no populismo autoritário que emana do discurso e das acções realizadas por Morales, ora na forma ora na forma e conteúdo. Morales já deixou claro que a sua política não busca solucionar apenas e em primeiro lugar os problemas econômicos e sociais em que o seu país vive, busca sim acima de tudo construir as alianças e discursos que sirvam de base para uma autocratização da bolívia. Só não vè quem não quer.

Rui Fernandes disse...

Um a parte em relação ao meu antigo post em outro lugar. Eu já não acho tanto que "o homem queira o melhor para seu país", e estou absolutamente seguro de que nunca esteve bem assessorado, a não ser talvez do ponto de vista eleitoral... Na verdade estou absolutamente seguro que Álvaro García Linera representa as forças mais perigosas que alcançaram o poder das mãos de Morales.
(Rui Fernandes)

Rui Fernandes disse...

(Entrevista na BBC com Garcia linera)Siguiendo con eso, ¿ustedes ven el proyecto del "evismo" sólo a cinco años? Porque alguna gente me decía que una de las ideas de la constituyente es implementar la reelección, porque cinco años es muy poco para hacer este cambio tan profundo.
No, aquí estamos planteando que lo que vayamos a hacer en política y economía es un cambio estructural y los ciclos políticos y estatales en Bolivia tienen una duración de 25 a 30 años.
No se trata necesariamente de algo en función de un hombre, sino de un proyecto de país: los indígenas en el poder. Es una economía al servicio de los sectores sociales, es la reivindicación de los derechos de igualdad. Ese es un proyecto, yo diría, de siglos, no sólo de cinco años.
Quien podrá encabezar eso es Evo Morales. Que lo haga en cinco años o lo haga 15 o 20, ese ya es un tema secundario. Lo importante es un proyecto de país.


O problema é que "este tema" estava e está longe de poder ser considerado secundário...

Anónimo disse...

"Democracia quer dizer: "people rule"; a maioria decide."
Não. Essa é a versão "Teoria da Soberania" da democracia. Depois, existe a democracia baseada na Teoria do Equilíbrio (checks and balances). A primeira é perigosa, muito perigosa. Porque nesse sistema a maioria pode acabar com a democracia. Porque nesse sistema o poder é quase absoluto (porque "legitimizado" pelo voto popular). É perverso.
A democracia baseada nos "checks and balances", mesmo não estando imune ao perigo de implosão, é mais justa, mais democrática, mais "livre". Porque não obriga o cidadão a submeter-se constantemente à ditadura da maioria, que, quer se queira quer não, é uma ditadura...