Com os resultados do Bloco de Esquerda, se Francisco Louçã fosse um político responsável nunca o poderíamos ouvir falar em “vitória” ontem. O objectivo de um partido de esquerda responsável seria, retirando a maioria absoluta ao PS, ter mandatos suficientes para conseguir uma maioria em conjunto com este partido. (Para uma coligação ou para um simples acordo parlamentar, depois se veria.) Mas não assim. Excluído que parece estar um acordo com a CDU (a menos que se queira Portugal fora da NATO e da União Europeia), uma maioria de esquerda só me parece possível para propostas “fracturantes” ou em casos pontuais como um imposto sobre as grandes fortunas. A esquerda responsável, por isso, falhou. Mas nada disso parecia importar a Francisco Louçã, que estava mais preocupado com o seu partido do que com a governação do país. Sempre ouvimos falar da “arrogância” de José Sócrates. Após o que ouvimos ontem, será mesmo Sócrates o “arrogante”? A primeira coisa que o líder do Bloco de Esquerda fez, na noite de ontem, foi “exigir” a substituição de Maria de Lurdes Rodrigues sem propor nenhuma contrapartida. Ao ouvi-lo, apeteceu-me que Sócrates descesse ao átrio do Hotel Altis acompanhado da ainda ministra da Educação, anunciando que a manteria no seu cargo se fosse designado primeiro ministro. A verdadeira natureza de Francisco Louçã, escorpião pronto a picar a rã que o poderia ajudar a atravessar o rio, revelou-se aqui. Quem pudesse ter pensado na viabilidade de uma coligação do PS com um partido liderado por este indivíduo terá encontrado aqui a resposta. Enquanto o Bloco não decidir se é um partido de poder ou de protesto, tal não será possível. Mas, para o Bloco ser um partido de poder, terá que ser com outro líder. Neste momento, Francisco Louçã é o maior problema da esquerda portuguesa.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
A natureza de Louçã
Com os resultados do Bloco de Esquerda, se Francisco Louçã fosse um político responsável nunca o poderíamos ouvir falar em “vitória” ontem. O objectivo de um partido de esquerda responsável seria, retirando a maioria absoluta ao PS, ter mandatos suficientes para conseguir uma maioria em conjunto com este partido. (Para uma coligação ou para um simples acordo parlamentar, depois se veria.) Mas não assim. Excluído que parece estar um acordo com a CDU (a menos que se queira Portugal fora da NATO e da União Europeia), uma maioria de esquerda só me parece possível para propostas “fracturantes” ou em casos pontuais como um imposto sobre as grandes fortunas. A esquerda responsável, por isso, falhou. Mas nada disso parecia importar a Francisco Louçã, que estava mais preocupado com o seu partido do que com a governação do país. Sempre ouvimos falar da “arrogância” de José Sócrates. Após o que ouvimos ontem, será mesmo Sócrates o “arrogante”? A primeira coisa que o líder do Bloco de Esquerda fez, na noite de ontem, foi “exigir” a substituição de Maria de Lurdes Rodrigues sem propor nenhuma contrapartida. Ao ouvi-lo, apeteceu-me que Sócrates descesse ao átrio do Hotel Altis acompanhado da ainda ministra da Educação, anunciando que a manteria no seu cargo se fosse designado primeiro ministro. A verdadeira natureza de Francisco Louçã, escorpião pronto a picar a rã que o poderia ajudar a atravessar o rio, revelou-se aqui. Quem pudesse ter pensado na viabilidade de uma coligação do PS com um partido liderado por este indivíduo terá encontrado aqui a resposta. Enquanto o Bloco não decidir se é um partido de poder ou de protesto, tal não será possível. Mas, para o Bloco ser um partido de poder, terá que ser com outro líder. Neste momento, Francisco Louçã é o maior problema da esquerda portuguesa.
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17 comentários :
O Louçã falhou aquele que eu acho que deveria ser o principal objectivo do BE, embora ele nunca o tenha afirmado durante a campanha (e muitas vezes tenha dito o contrário): ser indispensável a um governo PS. Talvez por isso, fez um discurso desastrado, inclusivamente quando tentou capitalizar a inevitável saída de Lurdes Rodrigues.
No entanto, nem por isso acho que ele seja o maior problema da esquerda portuguesa. O maior problema é o sectarismo de todos: PS, BE e CDU. Sem uma cultura de diálogo e colaboração entre as forças de esquerda, a esquerda estará sempre condenada a ser poder com governos do PS sozinho - o que não é bom, como se viu nestes últimos quatro anos.
O problema da esquerda foi José Sócrates e a sua arrogância. O problema da esquerda foi um PS onde poucos se levantaram contra o Rei Sol. O problema da esquerda foi o ataque incessante ao Bloco e ao seu programa enquanto Portas ficou livre de marcação e usou de toda a demagogia.
No Bloco de Esquerda existem princípios que jamais poderão ser desrespeitados como Sócrates fez durante estes 4 anos: desde o neo-liberal código do trabalho ao ataque à educação, desde as privatizações dos lucros e nacionalizações dos prejuízos, desde os entraves no acesso à justiça pelos mais pobres às taxas moderadoras na cirurgia, desde a gestão privada da coisa pública à tributação de reformas baixas.
E culpar Louçã é a teoria mais absurda que já li no pós-eleições.
E eu que pensava que o maior problema da esquerda portuguesa, era o PS ter metido a sua ala esquerda , na gaveta.
E eu que pensava, que o maior problema da esquerda portuguesa, eram as politicas neo-liberais de Socrates, que nos conduziram a esta situação de 600.000 desempregados , 2.000.000 de cidadãos a viver abaixo dos niveis de subsistencia, e o Socrates a esbanjar TRES MIL MIlHÕES DE EUROS, para salvar meia duzia de banqueiros corruptos...
Afinal o problema é o Francisco Louçã , e a coerência de uma esquerda , que não se vende por uns TACHOS.
O que se aprende nos blogues......
PS: 557.000 portugueses e portuguesas, disseram ontem, que é com esta esquerda que contam, é muita gente......
Culpar o Louçã dos disparates de Sócrates é desonesto. Lurdes Rodrigues já arrumou certamente o gabinete. E a campanha de ódio ao BE levada pelo PS e pelos media em geral deixaram o terreno livre para o CDS a quem nunca ninguém apontou baterias. Mas o PS já dormiu com os centristas e pouco ou nada os separa! Eles saberão por certo governar-se... Até na Madeira o CDS ganhou um deputado ao PS. Culpa do Louçã? E também tem culpa se calhar do código de trabalho que o PS tanto criticou na oposição e depois veio a aprovar; e no desmprego histórico? nos ajustes directos à mota-engil? e na privatização da EDP e Galp? e na nacionalização da fraude do BPN? e na tragédia dos professores? e no aumento das custas judiciais? e na eleição de Barroso? e na gestão hospitalar? ...
Foi tudo culpa do BE! Haja paciência! O sectarismo começa quando o PS esboçou um programa que poderia ser do PSD! O sectarismo começou nos ataques de ódio ao BE! O sectarismo começou dentro do próprio PS com o manifesto contra o medo de Alegre! O sectarismo começou quando ao PS plural chegou o eucalipto Sócrates que tudo secou! O sectarismo começou quando o PS abdicou de valores essenciais de esquerda!
Mas P.Portas não é sectário, é uma maria vai com todos, dependendo só da oferta que estiverem dispostos a fazer!
Só faltava esta! Agora o Louçã é culpado das políticas absolutas que conduziram Portugal ao Abismo dos 2 milhões de pobres, do país mais desigual da UE, da conivência com os banqueiros fraudulentes, das negociatas com Coelho?
Mudem o nome do blog de Esquerda Republicana para Esquerda Socrática!
Afinal caro camarada, o que é para ti ser de esquerda afinal? É ser do PS e fazer de MAnuel alegre? Ou ser do PS e fazer de Vitalino Canas, o provedor da exploração do trabalho?
Porque a República não é da maçonaria...
Louçã afirmou milhares de vezes que não haveria coligação com o PS! Até soletrou N-A-O! Não!
Até os gatos repararam nisso e esmiuçaram o assunto na 6ª feira!
Aqui afirma-se que "Quem pudesse ter pensado na viabilidade de uma coligação do PS com um partido liderado por este indivíduo terá encontrado aqui a resposta." Mas querem fazer de nós parvos ou estão a fazer-se de parvos?
Um conselho: deixem a parvoíce para os media tradicionais que perderam nestes últimos 15 dias qualquer credibilidade.
Este post não tem nenhuma etiqueta de humor mas estou-me a rir À brava com a estupidez e azia de quem escreveu tanta parvoíce! Sócrates ao lado de Louçã é um mediocre! E a natureza do respeito por valores de esquerda se for um pecado para vocês, ok, são do PS, e habituados a vender ao diabo tudo o que se tinha alcançado! Quem quer transformar isto numa ditadura ao estilo chinês é o centrao ao tornar a vida miserável,a desigualdade uma realidade e os salários baixos um factor de concorrência!
O vosso ódio é a nossa força!
Anónimo das 17:13,
o vosso ódio é a fraqueza da esquerda.
Anónimo das 15:39,
você tem um problema com as vírgulas, desde o tempo em que comentava no Barnabé! Você é inconfundível.
A todos: eu não escrevi que Louçã era o único problema da esquerda: escrevi que era, hoje em dia, o principal. É a minha interpretação. Claro que aceito outras.
parece que grande parte dos comentadores só leu uma frase do post. o discurso de louçã de ontem foi, de facto, muito despropositado. anunciava medidas como se tivesse sido eleito PM (que não foi) ou tivesse poder para as colocar de facto em prática (não tem; neste momento é muito pouco provável que PS+BE venham a ter maioria). e, como indica o filipe, "anunciou" estas medidas sem qualquer margem negocial. eu não sei se isto é arrogante ou simplesmente uma parvoíce, mas concordo que louçã tem que perceber que não vai ser eleito PM e que a sua "maioria de esquerda" passa necessáriamente pelo PS e pela CDU, sendo que o PS será, quase de certeza, sempre o maior e principal parceiro. para quê hostilizar? e para quê iniciar um novo "estilo" que tanto criticou? a forma como o fez, ontem, deixa poucas dúvidas que, alguma vez se visse louçã eleito PM em maioria absoluta, a "voz plural da esquerda" seria antes a "voz singular do seu pensamento". sem dúvida, esteve mal. ainda para mais quando poderia ter estado muito bem, com pouco esforço, com um discurso mais aberto e mais em busca de soluções (ao invés de mais problemas e mais conflito)... enfim.
Não poderia estar mais de acordo com a analise feita. O Louçã não é mais do que uma pedra bruta que se recusa a talhar a si mesmo e o seu mito quanto à sua diferença face aos "restantes" pouco a pouco de desvanesse não passando a ser apenas mais um que se limita às criticas destrutivas.
E quem perde? Toda a esquerda, o que é pena.
Sebastião José de Carvalho e Melo
Com o problema com as vírgulas do anónimo das 15:39, o Filipe Moura deu, sem dúvida alguma, a estocada final no argumentário do seu já velho conhecido. Parabéns.
Não poderia estar mais em desacordo quanto a saber quem é o principal problema da esquerda em Portugal. Foi o PS que deu mau nome à esquerda com todas as suas políticas de direita, enunciadas pelo seu amigo anónimo.
Quanto ao problema que o PS é, não resisto a remeter para um texto de um economista francês,Frédéric Lordon, de que já, noutro comentário neste blogue, tinha falado: Le centrisme, erreur anthropologique et Bayrou, vote révolutionnaire (o link: http://www.mouvements.info/Le-centrisme-erreur.html). O tema não é, obviamente, o PS português, mas há muita coisa lá dita sobre o PSF que se transpõe, sem alteração de uma vírgula, para o PS de Sócrates. Breve citação:
"La gauche de gouvernement ayant, ces deux dernières décennies, déserté avec constance son rôle politique historique, et démontré son incapacité à se reconstruire en dépit même des gifles électorales les plus retentissantes (22 avril 2002, 29 mai 2005), force est de constater que son maintien dans l’existence est maintenant le principal obstacle à la reconstitution d’une vraie gauche. Ce que la reconduction d’un président « socialiste » rend tout à fait impossible, l’élection d’un président Bayrou pourrait le faire avec d’assez bonnes chances de succès : tuer le PS – en fait déjà cérébralement mort – et créer les conditions d’une re-création de la gauche. Résumons nous : Bayrou tue Ségo au premier tour, Sarko au deuxième, le PS au troisième, et lui-même au quatrième… Pour un centriste réputé mollasson, on avouera qu’il ne manque pas d’abattage."
P.S.: Filipe Moura, se houver algum problema com as vírgulas deste texto, não hesite em dizê-lo. É sempre bom aprender umas coisas.
O Filipe tem toda a razão. UM distraído que tivesse visto apenas as declarações do Louçã ontem à noite julgaria que ele venceu as eleições ou que tem alguma capacidade real para determinar as políticas dos próximos tempos. SE uma pessoa que acabou de ser o 4.º partido mais votado com menos de dez por cento dos votos fala daquela maneira, venham-me cá chatear com a "arrogância" de quem governou com maioria absoluta e agora teve mais do triplo dos votos do Bloco...
Eu acho que a verdade está no meio. Se Louçã é muito criançola e é muito mais útil como uma consciência no parlamento do que como um CDS da esquerda, também é verdade que o P"S" atropelou todos os ideais da esquerda e por isso não se deve irritar se as pessoas de esquerda não se revêem no projecto centrista deles.
Governar nunca é fácil, mas eu acho que assim o parlamento se clarificou um bocado, com o P"S" no centro, o PPD na direita neo-liberal, o CDS na extrema-direita salazarista, tendência 'metrosexual', o PCP contra a UE e a NATO (e a sonhar com os bons tempos do KGB?) e o BE a mandar bocas, quase sempre inteligentes, oportunas e justas, mas raramente exquíveis no mundo real.
O Filipe Moura está tresloucado. E não percebe pevide de estratégia política. Ele gostaria muito de ver o PS meter o BE "em sentido" no âmbito duma coligação PS+BE, mas já não vai ter esse prazer. Felizmente tal coligação não tem maioria absoluta, o que retira ao BE a responsabilidade de ter que sustentar Sócrates como PM em contraponto a novas eleições que a Direita pode ganhar. Sócrates está em coma político, que será mantido pelo PSD até 2011, desligando então o "suporte de vida". Nessa altura, ou Sócrates realmente faz enormes concessões à Esquerda parlamentar (e felizmente que precisa de BE e CDU, pois assim nenhuma destas forças se sentirá demasiado tentada a ceder perante a possibilidade de chegar ao Poder governativo), ou está politicamente acabado, perdendo inevitavelmente as eleições seguintes após um 2010 que será terrível do ponto de vista económico-social. É esta realidade que motiva a raiva do Filipe Moura. E é esta realidade que motivou as declarações de Francisco Louçã. Sócrates está moribundo, e foi o BE que o colocou nesse estado. Tem todo o direito de aproveitar politicamente o momento.
Bom... tenmos aqui uma manifestação de satisfação porque o "sócrates" está moribundo... a precisar de uma botelha de oxigénio do feroz Louçã.
Porquê? porque o governo PS se tornou "neoliberal". Ora se se tornou neoliberal, tornou-se "farinha do mesmo saco" onde vegeta o PSD, como tartamudeia o Jero. Se o Sócrates é "farinha do mesmo saco" do PSD como é que se pode achar que o BE e a cdu contam pescoço em qualquer estratégia de governo? É a fábula da rã e do boi. A euforia pelo crescimento do Bloco, que o faria impor condições a um governo "neoliberal", esquece o básico: que o "centrão" que alguns acham, sem se perceber bem porquê que foi "recusado pelos portugueses", soma 36,5% do PS mais 29% do PSD, isto é, "apenas" quase dois terços dos votos... isto só não se torna mais claro enquanto a actual liderança do PSD estiver refém de um estratega, o sinistro Pacheco que está verde de bílis por inveja pessoal do Sócrates.
Há apressados que para dizer que a "esquerda" "ganhou", incluem o PS, mas para dizer que o PS levou nas trombas, não hesitam em incluí-lo na "direita" e torná-lo dependente do BE.
Altura de "rewindar" a coisa.
O BE, se tiver juízo, tem a oportunidade, se o Sócrates não acordar demasiado "neoliberal", de estabelecer compromissos para fazer passar algumas medidas em áreas "fracturantes" onde se esbatem efectivamente as diferenças entre PS e Bloco.
E é tudo.
DE resto, a sua grande vantagem é poder aliar-se à direita para derrubar o governo do PS.
O resto são fantasias. Noutra altura poder-s-ia dizer "lindas fantasias". O pragmatismo que o momento político aconselha e a leitura do programa do BE, dão um outro significado à palavra "fantasias".
(P.S: OK, talvez vamos a tempo de impedir os rodeos...)
Como é possível alguém pensar numa coligação entre o BE e o socialismo socrático que de esquerda só tem para apresentar temas fracturantes como o casamento gay? Afinal o que define o PS como esquerda? o punho envergonhado? o provedor dos precários? Os negócios manhosos? A nacionalização da fraude e crime económico? a privatização de bens públicos essenciais? o novo código do trabalho? Durão Barroso? O cartão de militante do Manuel Alegre? As agências de comunicação? A central de propaganda?
O bloco não nasceu para defender o situacionismo. Há princípios elementares de esquerda que este PS não consegue respeitar. Não é um regresso ao prec.
Antes de se venderem mais de 50% de acções da GALP e EDP estávamos afinal em que ano?
Queria agradecer os comentários todos. Em particular ao Rui e ao Pedro Viana, queria dizer que é um prazer reencontrar-vos por aqui e mandar um abraço. (Viana, não "amoleças" por isto e discorda sempre. É um prazer ter comentários inteligentes, mesmo que sejam o oposto daquilo que eu defenda. e é um prazer concordar contigo às vezes... Sexta feira estarei no CFP para um seminário sobre buracos negros.)
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