É possível observar que existiram vozes ignoradas ou silenciadas (e pessoas demitidas) nos diferentes serviços de informação por tentarem trazer a público as lacunas na alegação das ADMs no Iraque. E que neste sentido, tendo tido a casa branca um papel importante no silenciamento destas vozes, o erro não podia deixar de ser da responsabilidade do presidente e dos seus colaboradores mais próximos.
É possível notar que existiu fraude deliberada na tentiva de associar Saddam à compra de urânio da Nigéria. Fraude com intenção de enganar não apenas o povo americano, mas a comunidade internacional, tendo em vista o alargar da «coalition of the willing».
É possível referir que perante os factos de que todos dispunham antes da invasão, não deixaria de ser um erro de análise grosseiro assumir que (parte d)os serviços de informação americanos estavam correctos no seu receio face às ADMs, e que os restantes serviços de informação em todo o mundo (mesmo a injustiçada Mossad) estavam equivocados por não ter detectado nada, bem como toda a informação publicamente acessível a respeito da destruição de grande parte das armas químicas de que Saddam chegou a dispôr. Ter nessa assunção disparatada confiança ao ponto de planear com base nela uma gigantesca campanha militar, sem confirmações adicionais de nenhum tipo.
Mas demos tudo isso de barato. Esqueçamos a fraude deliberada, imaginemos que a casa branca não silenciou nenhuma voz crítica nos seus serviços de informação, consideremos que não existiu qualquer erro de análise na confiança elevadíssima que o presindente depositou nos serviços de informação do Pentágono, mesmo que em contradição com toda a restante informação disponível.
Ainda assim teria sido um erro a invasão do Iraque.
Poucos se parecem lembrar que as nações unidas tinham enviado para o Iraque um conjunto de inspectores. Saddam começara por dizer que estes não podiam entrar no seu território, mas acabou por temer o ataque norte-americano, e deixou entrar os inspectores para que estes procurassem as ADMs.
E à medida que o tempo passava, e os inspectores não encontravam nada, as potencias ocidentais pressionavam o regime de Saddam para que aos inspectores fosse dada maior margem de manobra, para que o escrutínio pudesse ser mais eficaz. O regime resistia, mas acabava sempre por ceder. O governo dos EUA mantinha a sua indignação pelo facto das armas não aparecerem, e anunciava um ataque para breve. Hans Blix pedia mais dias, manifestando a sua vontade de encontrar as alegadas armas, mas dando já a entender algumas suspeitas de que as mesmas podiam não existir.
Sabendo-se que Saddam estava com as mãos e pés atados para usar qualquer ADM que pudesse ter em seu poder enquanto os inspectores por lá estivessem, não existiu qualquer justificação para que não tivesse sido dado mais tempo à comissão de Hans Blix. Aqui não há «erros de análise» ou «confiança nas pessoas erradas», ou qualquer tipo de legitimação parcial desta atitude. Foi unilaterialismo belicista, violento, arrogante, imperialista.
Desta tragédia, espero que ao menos tenha saído uma lição da dimensão da asneira.
4 comentários :
«Maciça»?!
Destruição «maciça»?
Quando fica tudo em pó a destruição é «maciça»? ;)
A expressão é usada em artigos de jornais (tipo público e expresso) e por todo o lado. Parece-te pouco correcta?
Posso substitir por "em massa", mas creio que a expressão já é parte do léxico nacional.
João Vasco
Ok, reli o teu último artigo e já tenho a resposta a essa pergunta :p
Mas já tinha alterado este texto, de qualquer forma.
Não é por fazer parte do léxico nacional que deixa de ser um disparate... ;)
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