A primeira de todas é comentar que o raciocínio exposto partiu dos pressupostos da economia clássica: a mesma que é usada para passar a imagem - distorcida e enganadora, como creio ter demonstrado - que o salário mínimo desfavorece os trabalhadores menos qualificados, que pelo contrário são quem mais beneficia desta regulamentação do mercado.
Mas podemos pensar nas coisas de outra forma, e assumir que a linha da procura de mão de obra depende da distribuição de rendimentos numa sociedade, se estão mais ou menos concentrados, do balanço entre poupança e consumo, etc... A imposição do salário mínimo, ao afectar estes factores pode alterar a linha da procura e ter um efeito tal que o ponto de equilíbrio se encontre num valor superior em horas e preço ao do equilíbrio de mercado desregulamentado.
Ou seja: é possível que a imposição do salário mínimo, quer por concentrar menos os rendimentos, quer por colocar a percentagem de consumo num valor que mais se aproxime do valor óptimo no que respeita ao PIB da comunidade, quer por uma série de outros efeitos, leve a um aumento tal da procura de mão de obra, que mesmo que a hora de trabalho seja mais cara, ela acaba por ser mais transaccionada.
Explicando de outra forma, os empregadores podem optar por poupar os ganhos obtidos com a mão-de-obra muito barata, mesmo que a rentabilidade de tal poupança seja reduzida; mas se esta mão de obra passa de uma situação de quase-escravatura para uma situação em que tem algum excedente, pode criar uma série de mercados para sua satisfação, os quais levam a um aumento adicional da procura de mão de obra.
Assim sendo, se a economia clássica nos permite concluir que há situações em que a mão de obra pouco qualificada fica favorecida pelo estabelecimento do salário mínimo, mesmo pesando o desemprego que pode causar; pertinentes considerações adicionais podem mostrar que há casos em que esse efeito pode não ocorrer, e que o estabelecimento do salário mínimo pode acabar por diminuir o desemprego, mais do que causá-lo.
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