- «(...) o centralismo hierárquico do poder eclesiástico no cristianismo levou a certas soluções (e.g. o secularismo) que não podem transferir-se mecanicamente para outras religiões onde tal centralismo não exista (...)».
Presume-se portanto que só os países que são ou foram de maioria cristã é que podem gozar as delícias da laicidade. Os outros que se amanhem com uma teocracia qualquer ou, na melhor das hipóteses, com um confessionalismo moderado. No fundo, BSS concorda com Huntington em que a separação entre Estado e religião só é possível no «Ocidente». Mas BSS acredita também nas potencialidades «emancipatórias» da religião:
- «(...) o cristianismo, o islão e o judaísmo têm uma origem comum, o monoteísmo de Abraão; na base de todas elas, estão grupos sociais oprimidos que procuraram a sua libertação através da religião (...) é possível uma teologia islâmico-cristã da libertação».
Daqui se poderia concluir que todas as religiões referidas são «narrativas emancipatórias de libertação». As mulheres, os ateus, e os socialistas anticlericais andariam todos enganados há mais de duzentos anos. Em vez de combaterem as igrejas de Estado e os conservadorismos de raiz religiosa, deveriam ter procurado as raízes das suas lutas na teologia. E porque será que não o fizeram? Porque será que não encontraram na Bíblia (ou no Corão) a defesa da igualdade de direitos entre homens e mulheres, a liberdade sexual ou a liberdade de expressão? Será por não estarem lá? Será por frequentemente estar lá o exacto contrário?
Conclusão pessoal: o pós-modernismo é o maior aliado objectivo do obscurantismo e do clericalismo na cultura universitária portuguesa. E BSS é o seu profeta.
3 comentários :
Além disso está a dizer que só certos povos é que podem ser democratas ou viverem em democracia porque estão destinados a isso.
Que só certos povos é que podem ser capazes de praticar separação entre Estado e religião e outros não.
Porque são inferiores para isso?
Isto é de um etnocentrismo europeu/americano quase insuportável.
Parecem as teorias de há 70 anos segundo as quais certos países do sul da Europa não poderiam nunca estar preparados para poderem vir a ser democracias porque ... não era da sua natureza serem-no.
Isto é determinismo e preconceito elevados à quinta essência.
É o mesmo tipo de argumentação que o senhor arroja utiliza.
Exemplo: os pobres são pobres porque querem e porque não utilizam nem cultivam o pensamento abstracto que os levará a pensar deixarem de ser pobres, porque tal está determinado.
E a conclusão acerca do centralismo hierárquico ter levado a outras soluções - secularismo - é quase hilariante.
Escrito daquela maneira quase dá a impressão que existiu um ritual contratualizado - um contrato debatido entre o "poder centralizado" e "a comissão secular" que dirigia as negociações para a adopção do secularismo.
Como é belo e simples isto.
Não explica a Turquia secular ex-ante não centralizada hierarquicamente, por exemplo, mas é belo e simples.
Mas o papa não decretou recentemente ue quem não concordar com a visão dele vai para o Inferno?!
Como, aliás, declararam antes o governador do Texas Rick Perry e o multimilionário saudita Bin Laden.
Parece-me que difamam BSS!
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