quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Este post vai contra os padrões de comunidade do facebook

Algures numa discussão de facebook coloquei o seguinte comentário:


«
 " e o superávit no sector privado"

Nem por isso.
O estado proporciona bens e serviços ao sector privado (infra-estruturas, segurança, saúde, educação, etc.) pelo que é normal que o sector privado pague por esses serviços aquilo que eles custam.
Isso em si não corresponderia a nenhum superavit.
Mas além disso, nos países ricos o estado tem estado a perder património desde os anos 80, o que decorre dos défices, e isso tem contribuído para um aumento das desigualdades (https://1.bp.blogspot.com/.../Picketty_publicAssets_2.jpeg).
Se o estado recuperasse património teria de aumentar o seu património, o que implicaria cobrar mais ao sector privado do que aquilo que providencia em serviços. No longo prazo isso permitiria cobrar menos impostos ao sector privado já que contaria com o rendimento do seu património (ou pagaria menos em juros), mas até lá estaria a impor um défice ao sector privado, sim. Foi o que aconteceu na Europa a partir do fim da segunda guerra, e aquilo que aconteceu nos projectos de esquerda mais bem sucedidos, como a Suécia.
»

O facebook considerou que violava os padrões de comunidade e embora me tenha dado oportunidade de exprimir a minha discordância com a decisão, afirmou não ter recursos para a rever.

Aparentemente dizer que a esquerda devia ser orçamentalmente responsável vai contra os padrões de comunidade do facebook. 

4 comentários :

Miguel Madeira disse...

Isto não tem a ver com o ponto central (dos padrões da comunidade), mas mesmo com o ponto do "superavit"

Eu penso que quem falou no superavit não estaria a pensar que os serviços públicos que os privados utilizam são um superavit, mas sim na ideia que numa economia em equilibrio o estado precisará de ter um deficit para compensar o superavit (isto é, não gastarem/aplicarem o rendimento todo) do privado (nas versões mais radicais, que o superavir privado é uma variável endogena e é o deficit público que determina quanto o sector privado vai poupar).

João Vasco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Vasco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Vasco disse...

Olá Miguel,

Escrevi um artigo sobre isto na Gralha, sobre este assunto. Esse argumento torna ainda mais inacreditável que uma esquerda relativamente estatista defenda os défices.


Vejamos: à partida tens uma poupança total dada por (para ter a poupança total líquida terias também de descontar as amortizações):

tS = Y+REX+Trx-C-G

A poupança privada será dada por: S = tS +G - T = tS + SO

Tudo isto são relações contabilísticas.
Agora podemos pensar em termos económicos: o T-G positivo encoraja um aumento das poupanças totais ou não? Dir-se-ia que sim, empiricamente demonstra-se que sim (a equivalência riccardiana não se verifica na prática), e toda a lógica da política Keynesiana assenta nesse pressuposto. Mas vamos pegar na hipótese de que não, apenas porque ela é a mais DESFAVORÁVEL ao meu argumento.


Nesse caso, para um tS igual, quanto maior o superavit menor a poupança privada S, sim.

Mas pensa bem no que isso quer dizer, isso significa que a proporção do património acrescido que é do estado aumentar vai ter como consequência que a proporção do património acrescido privado vai diminuir. Para aquela esquerda mais estatista, como é que isto pode ser visto como uma enorme tragédia?

Isto para mim seria um problema se eu achasse que o peso do estado na capacidade produtiva total da economia seria excessivo e isso estaria a tornar a economia menos produtiva e dinâmica. E, para ser completamente sincero, acredito que existe um ponto onde isso é possível acontecer. Portugal está distante desse ponto (somos dos países da UE onde as empresas públicas têm um peso menor, por exemplo), mas concebo-o teoricamente.
Mas as pessoas que mais vêm com essa conversa que descreves nem sequer têm esse receio de um estado com um peso excessivo na capacidade produtiva. São pessoas para quem quanto maior proporção da capacidade produtiva estiver nas mãos do estado, melhor.
Mas depois ficam muito alertados que o aumento do património do estado signifique os privados não podem aumentar o património ao mesmo ritmo. Sinceramente, parece uma completa desconexão entre as implicações das políticas no curto prazo e no médio/longo prazo. Talvez porque acreditem que o capitalismo é tão inaceitável quem nem se deve assumir que vai continuar presente daqui a umas décadas, ou coisa do tipo.


PS - Apaguei os comentários anteriores porque tinham um erro de que entretanto me apercebi.