quinta-feira, 16 de março de 2017

A derrota de Dijsselbloem não é uma vitória contra a austeridade

O facto principal das eleições neerlandesas é o quase desaparecimento dos trabalhistas locais (o PvDA), que perdem mais de três quartos dos deputados (de 38 para 9). Há uma lição que o PS português pode e deve retirar: o PvDA governou com a direita no governo anterior, e o resultado é uma tremenda «pasokização» (de 25% para 6%). Por outro lado, a derrota do partido de alguém tão detestado pelos portugueses como Dijsselbloem não significa que o próximo governo seja parte de um qualquer «arco anti-austeridade» na UE. Pelo contrário: o governo continuará provavelmente liderado pelo mesmo Mark Rutte, agora não em coligação com o centro-esquerda, mas sim associado com partidos de direita mais ou menos radicais. Portanto, são más notícias para a esquerda anti-austeritária e para os países do sul da Europa.



A derrocada dos trabalhistas neerlandeses deixa, quase «à grega», os pós-marxistas locais (eurocéticos) como o maior partido da esquerda (apesar da subida significativa dos ecologistas). Tal como no Reino Unido e na França dos últimos anos, os partidos habitualmente classificados como «esquerda» contam menos de 30%. A menos que Schulz consiga vencer na Alemanha, o prognóstico para este campo político é portanto mau. Mais: os partidos nacionalistas, populistas ou eurocéticos crescem (incluindo o segundo partido mais votado, o PVV de Wilders): no total, ocuparão quase um terço do parlamento.

A terminar, uma curiosidade: pela primeira vez, um partido clerical/islâmico (e pró-Erdogan, já agora) elegeu deputados na Europa ocidental (como se já não bastassem aos holandeses dois partidos clericais, um calvinista e outro protestante).

3 comentários :

victor sousa disse...

Obviamente! Já não diria o mesmo quanto à avaliação da postura fatalista e arrogante do sujeito...
Ou não se tratou de avaliar o que ele e acólitos sufragam? É que ter 9 onde eram 38, parece que é bem eloquente.

Jaime Santos disse...

Ainda assim, 'good riddance' para o senhor com o nome de flor impronunciável, que pelos vistos mentiu em relação ao seu CV (mas nós por cá não temos grande moral para o criticar ;-) ). Só é pena que as negociações na Holanda para formar Governo irão durar tanto que ele ainda andará a chatear o juízo ao Centeno mais 3 ou 4 meses. E é mesmo provável que o Partido do Trabalho nunca renasça das cinzas. O Pedro Adão e Silva notava este fim-de-semana no Expresso que a coligação entre a classe operária e os intelectuais e funcionários públicos que sustentava a social-democracia se está a romper porque os interesses dos primeiros e dos segundos (e os valores morais, digo eu) são hoje divergentes...

Pedro disse...

É mau para a esquerda que os partidos social- democratas estejam a desaparecer ?

Mas é mau porquê se esses partidos andam desde os anos 80 a praticar politicas de extrema direita neo-liberal.

Mais vale até que toda a esquerda desapareça do que o seu nome ser usado por extremistas de direita.

Nada me mete mais nojo do que atirarem-me á cara, com razão, que os "socialistas" estão a destruir o estado social e a fazer o jogo dos especuladores da finança - ainda por cima com razão.

Mais vale que estes porcos desapareçam e não usurpem o nome ao socialismo que construiu o estado social que eles estão a destruir.