No sábado, a reunião do eurogrupo (o conjunto de ministros das finanças da UE que não se chamem Varoufakis) terminou quase com a Grécia a sair do euro. Quem colocou a «Grexit» em cima da mesa, significativamente, foi Schauble. No domingo, os chefes de governo foram até à madrugada de hoje para conseguirem manter a Grécia no euro, o que foi possível graças a Hollande.
De tudo o que se sabe do que se passou no fim de semana, há três conclusões a tirar. Primeira, que a Europa não pode ser feita por tecnocratas. Não é a economia, é mesmo a política que tem que liderar. E os estadistas não nascem feitos, fazem-se em provas duras como as das últimas semanas. Segunda conclusão, quem quer a Grécia fora do euro é Schauble (ainda mais do que Merkel), e a esquerda radical que insiste em colocar essa questão (por cá, o PCP de modo cada vez mais claro) deve reflectir em se não estará a fazer o jogo da direita alemã. Terceira conclusão, o equilíbrio de forças das últimas horas esteve mais próximo da França (e da Itália) do que era habitual há muito tempo. No momento em que a Grécia se aproximou do precipício, foi a esquerda dos países latinos que impediu o passo final. Portanto, uma outra UE pode ser possível.
Nada disto minora a pesada continuação da austeridade na Grécia. Todavia, a grande vitória é que o governo grego continua em funções, e insistindo na reestruturação da dívida. Consegui-la ou não, não depende só do Syriza.
2 comentários :
Temos de continuar a a denunciar a forma como a democracia está a ser tratada, em particular por uma instituição sem legitimidade formal ( o Eurogrupo) e aproveitar para explorar as brechas que se abriram com paises a tomar posições diferentes na negociação. Denunciar também este "nosso" governo colaboracionista que, em nome de interesses eleitorais, está a agir contra os interesses do nosso pais e contra um projecto de paz e democracia para a Europa, que levou dezenas de anos a construir.
Discordo que Schaeuble quisesse de facto a saída da Grécia do Euro. Limitou-se a constatar que os Gregos foram para a negociação sem qualquer alternativa que não a permanência na moeda única e estavam por isso condenados a aceitar o que lhes foi imposto. A estapafúrdia proposta de Grexit temporário (que não consta dos tratados, tal como não consta um haircut de dívida, pelo menos direto) mais não foi do que uma manobra para forçar a Grécia a uma capitulação humilhante. Mais valia que Varoufakis e Tsipras tivessem conduzido a negociação com mais discrição e aceitando mais cedo as condições impostas, provavelmente teriam saído de Bruxelas com um acordo melhor. Quem quer esticar a corda, tem que estar preparado para que esta se parta. Agora, eu, que considero que a adesão à moeda única foi um erro que estamos a pagar caro desde a nossa entrada, interesso-me pouco se faço ou não o jogo da Direita alemã. A questão está em saber se podemos esperar uma reforma das instituições europeias, a começar pelo Euro, que se traduza em mais do que austeridade durante pelo menos 20 anos. Muito sinceramente, acho que quem pensa assim está a ser ingénuo...
Enviar um comentário