- «Exmª Srª Chanceler Merkel,
Escrevemos-lhe em antecipação à sua visita oficial a Portugal no próximo dia 12 de Novembro. No programa dessa visita há uma oportunidade perdida: a Srª Chanceler vai falar com quem já concorda com as suas políticas. E mais ninguém.
Julgamos poder afirmar que a maioria dos portugueses discorda das suas políticas e poderia ter consigo uma conversa honesta e para si instrutiva acerca do que se está a passar no nosso País e na Europa.
Uma das primeiras coisas que lhe poderíamos explicar é como Portugal perdeu, só no último ano, 22 mil milhões de euros em depósitos bancários — mais do que aquilo que agora é obrigado a cortar em despesas sociais. Mas há mais: em transferências de capitais, Portugal perdeu pelo menos 70 mil milhões de euros desde o início da crise. Se este número faz lembrar alguma coisa é porque ele é praticamente igual ao montante do resgate ao nosso país. O que isto significa é que a insolvência de Portugal é, em primeiro lugar, o resultado das insuficiências das lideranças europeias e de gravíssimos defeitos na construção da moeda única.
Portugal tinha à partida problemas e insuficiências. Os cidadãos portugueses sabem disso melhor do que ninguém. É por isso que lhe podemos dizer: as políticas atuais agravam os nossos problemas e impedem-nos de os resolver. Quanto mais prolongadas estas medidas de austeridade forem, mais irreversíveis serão os seus efeitos negativos. É por saberem isso, por verem isso no seu quotidiano, que os portugueses estão angustiados e indignados. Talvez no seu breve percurso por Portugal possa ver que muitos de nós pusemos panos negros nas nossas janelas. A razão é muito simples: estamos de luto.
Estamos de luto pelo nosso País. A Srª Chanceler virá entregar a cem jovens portugueses bolsas de estudo na Alemanha. Deveria saber a Srª Chanceler que os portugueses vêem como uma tragédia que a nossa juventude, a geração mais formada da nossa história, em que tanto investimos e de que tanto orgulho temos, esteja a abandonar em massa o nosso país por causa das políticas que a Srª Chanceler foi impondo. Esta sua ação é vista como mais um incentivo para a fuga de cérebros, de que tanto precisamos para a reconstrução do nosso país. A maioria dos portugueses não entende como é possível que não se procure criar condições para que os milhares de jovens licenciados que fogem de Portugal todos os anos queiram voltar para ficar. Tal como também se vive aqui como uma provocação a Srª Chanceler vir acompanhada de empresários alemães, com o propósito de fazerem negócios proveitosos para o seu país, mas desastrosos para o nosso que vê todos os dias nas notícias o seu património a ser privatizado para lucro de todos menos do povo português.
E estamos de luto também pela Europa. O grau de distanciamento e recriminação entre os povos e os países da União é estarrecedor, tendo em conta a trágica história do nosso continente. Desafiamo-la a reconhecer, Srª Chanceler, que cometeu um grave erro ao ter recorrido a generalizações enganadoras sobre os povos do Sul da Europa — ao mesmo tempo que condenamos as expressões de sentimento anti-alemão que mancham o discurso público, onde quer que apareçam. As nossas nações europeias, todas elas históricas, são diversas entre si mas iguais em dignidade. Todas devem ser respeitadas e todas têm um papel a desempenhar na União.
Cara Srª Chanceler, esta loucura deve parar. A Europa volta a estar dividida ao meio, não por uma cortina de ferro, mas por uma cortina de incompreensão, de inflexibilidade e de irrazoabilidade. Estamos disponíveis, enquanto seus concidadãos europeus, a abrir um verdadeiro debate transparente e participado sobre a saída desta crise e o nosso futuro comum, para que possamos fazer na nossa Europa uma União mais democrática, mais responsável, mais fraterna — e com mais futuro.
Mude o programa da sua visita a Portugal. Fale com quem não concorda consigo. Use esta visita como um momento de aprendizagem. Use a aprendizagem para mudar de rumo.
Com os nossos cordiais cumprimentos,»
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Um desafio à Chanceler Merkel
Sou subscritor da carta «Um desafio à Chanceler Merkel» reproduzida mais abaixo. Quem a quiser assinar deve fazê-lo até sexta-feira às 11 horas, aqui.
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4 comentários :
os portugueses vêem como uma tragédia que a nossa juventude esteja a abandonar em massa o nosso país
Qual tragédia qual carapuça! Trágico era que cá ficassem, a ganhar mal ou no desemprego. Agora, se vão lá para fora e arranjam emprego bem remunerado, isso é ótimo! Fico satisfeito por eles.
Ainda agora soube de uma, era funcionária de escritório de uma casa de saúde, pisgou-se de repente, literalmente de uma semana para a outra, com mais o marido e o filho, para o Luxemburgo. Já com emprego arranjado, parece que ia trabalhar num supermercado. Fico feliz por ela.
E outro que conheci, engenheiro civil, andava por aí no desemprego, ofereceram-lhe um emprego na sua profissão, na Noruega, disseram que lá na Noruega gostam tanto dos engenheiros portugueses que estavam dispostos a dar-lhe tudo, casa, emprego para a mulher se a tivesse, tudo. Foi-se logo embora.
Felizes dos que partem. Devemos é ter pena dos que cá têm que ficar.
Sim, que maravilha!
Viver longe da família e dos amigos anos a fio!
Ver ir lá para fora engenheiros que custaram dinheiro ao Estado português a formar!
Ver o país a esvaziar-se das melhores cabeças!
Sim, porque um país que vale a pena não é um país do qual não apetece emigrar, pois não Luís Lavoura?
Ver ir lá para fora engenheiros que custaram dinheiro ao Estado português a formar!
O erro, que foi ter pagado a formação de engenheiros que não seriam necessários, já foi feito. Não há forma de o emendar.
Ver o país a esvaziar-se das melhores cabeças!
Se estão desempregadas ou subempregadas, então é porque, apesar de serem tão boas, são inúteis (aqui e agora). Quando forem úteis certamente que regressarão (ou virão outras para as substituir).
Viver longe da família e dos amigos anos a fio!
Foi isso que os meus pais fizeram. A minha mãe veio do Porto, o meu pai da Bairrada, ambos para Lisboa. A minha mãe visitava a famnília duas vezes por ano, o meu pai quatro.
E hoje em dia as viagens estão baratas. Uma prima minha tem o marido, trabalhador da construção civil, emigrado. Ele vem cá visitá-la, de avião, uma boa meia-dúzia de vezes por ano.
Luís Lavoura,
será que não tem capacidade para pensar acima do chinelo das decisões individuais, e julgar se uma política que provoca uma fufa de cérebros é *boa* para o futuro deste país?
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