quinta-feira, 27 de maio de 2010

A malta é jovem; os velhos são cotas; eu próprio me sinto desorientado

Devo estar a ficar velho, mas o meu primeiro reflexo - ao ver surgir simultaneamente em três-blogues-três um manifesto semi-anarquista convocando para sábado uma «concentração anticapitalista» - foi escrever um post irónico do género: «Jovem: se tens menos de 30 anos, frequência universitária e mochila, sentes a testosterona a correr nas veias e uma revolta sem sentido, junta-te a nós à margem dos reformistas da CGTP e faremos de Lisboa uma outra Atenas! A rua será nossa! De máscara na cara e calhaus na mão construiremos um mundo novo iluminado a cocktails molotov (...)».

É escusado despejar insultos na caixa de comentários anexa a este artigo. O momento é de crise, mas a crise não é só económica.

Há a esquerda dos sindicatos e a ex(?)-altermundialista. A CGTP tem os números todos (os números são uma seca, eu sei), e um conjunto de propostas razoáveis que seriam social-democratas há apenas vinte cinco anos (taxa adicional de IRC para grandes empresas, tributação especial das transacções em bolsa, diferenciação do IMI para imóveis de luxo, impostos sobre grandes fortunas).  O problema deve ser mesmo esse: a CGTP ser tão sensata. Não aquece o sangue da malta jovem. Preferem os manifestos «à la» Hardt & Negri, que incluem fatalmente as palavras «império», «guerra social», «motins», «barricadas» e «ocupar a rua», e criticam a «obsessão legalista da esquerda parlamentar e dos sindicatos» e «as medidas pontuais exigidas pelo sindicatos e pela esquerda reformista». Os «legalistas» e os «reformistas» são aqui, note-se, o PCP, o BE e a CGTP. Os malandros dos (subitamente) «moderados». E qual é o projecto dos rapazes neo-furiosos, depois das pedradas nas montras dos bancos e dos cocktails molotovs no MacDonalds? Ninguém sabe. Suspeito, aliás, que ainda nem pensaram nisso.

2 comentários :

Anónimo disse...

O problema do comunismo

Micael Sousa disse...

Esta suposta mensagem de mobilização parece-me toda ela uma grande ironia.
Agora qual o objectivo não sei. Mas dá que pensar e reflectir.

Lendo isto a uma abordagem mais sério, qual o objectivo de manifestações e tomadas de posição quando as ideias base me parecem tão confusas...

Pode haver força para atirar pedras, mas e para atirar argumentos válidos numa sã discussão?