O Renato Teixeira do Cinco Dias, após uma sucessão de posts provocatórios incensando variados líderes islamofascistas, dignou-se explicar o seu apoio (teórico) à «Resistência Islâmica». Este debate tem também acontecido aqui no nosso blogue, por exemplo nesta caixa de comentários.
Como eu previra, a motivação principal dos defensores do islamofascismo é o combate ao imperialismo (estado-unidense, claro, porque não há outro): verificando que a questão israelo-palestiniana se eterniza, que os EUA estão no Afeganistão e no Iraque, e que o Irão desafia o «Ocidente», uma certa parte da esquerda decide que, perante um combate tão avassaladoramente importante como a «resistência» ao imperialismo dos EUA, toda a ideologia e acções islamistas podem ser ignoradas, e que vale a pena alinhar com fascistas de persuasão islâmica.
Há um par de reparos que vale a pena fazer. E depois, há um cenário a considerar.
Primeiro reparo: o mundo não gira à volta dos EUA. O que significa, por um lado, que há outros imperialismos para além do norte-americano, e por outro, que muito do que acontece no mundo islâmico se deve a razões locais.
Por exemplo: a ascensão dos talibã deve-se muito mais ao ISI e ao imperialismo paquistanês (e às madraças Deobandi) do que à CIA e ao imperialismo estado-unidense. E mesmo na fase mujahedin da guerra no Afeganistão, o papel dos EUA é sobrestimado: foi nessa época que as actuais redes islamistas (incluindo a Al-Qaeda) se forjaram com dinheiro saudita e do Golfo (oferecido voluntariamente, por solidariedade islâmica, e não por pró-americanismo), com campos de treino e bases de recrutamento (abençoadas por clérigos islâmicos), e com voluntários vindos do Paquistão e de todo o mundo árabe para combater o «comunismo ateu» (sublinhe-se: voluntários e não mercenários). Não querer ver isto, e insistir em que os movimentos islamofascistas são uma mera «reacção» ao «imperialismo ocidental», ou que a Al-Qaeda é uma criação da CIA (como insistem alguns), é subestimar a inteligência dos povos árabes ou asiáticos, a sua capacidade de ter motivações próprias, e, pior ainda, não entender o mundo em que vivemos.
Outro reparo: apoiar a causa palestiniana quando a OLP tinha a primazia, e visava uma democracia laica juntando israelitas e palestinos, não é bem a mesma coisa do que apoiar a Palestina autónoma quando esta é dominada pelo Hamas, que deseja varrer Israel do mapa. E nem todos os povos se «fascizam» na oposição ao imperialismo dos EUA (a América Latina está cheia de exemplos do contrário).
Finalmente: algures nos comentários, fui acusado de «não passar da primeira linha». Seja. Passemos para o cenário de última linha.
Imaginemos. Imaginemos que um dia a formidável aliança entre islamofascistas e meia dúzia de marxistas-leninistas (o parceiro menor, dado que a relação de forças é essa) derrota os EUA. Ou seja: a OTAN é escorraçada do Afeganistão e os talibã regressam ao poder; uma qualquer aliança xiíta toma o poder em dois terços do Iraque, pondo em fuga para o Curdistão as tropas americanas; e o Hamas expulsa os judeus de Israel, com o apoio do Irão e da sua bomba. Nesse mundo de maravilha, coberto de verde, que pensam os islamo-esquerdistas que acontecerá às mulheres e aos homens desses países? Cantarão a «Internacional» enquanto judeus, cristãos, ateus e homossexuais são enforcados, e enquanto o uso do véu se torna obrigatório para as mulheres? Se a cantarem, será melhor mudar a letra. O sonho islamofascista não é «uma terra sem amos». Eu diria que é mesmo «uma terra com amos». Faz toda a diferença.
Há um par de reparos que vale a pena fazer. E depois, há um cenário a considerar.
Primeiro reparo: o mundo não gira à volta dos EUA. O que significa, por um lado, que há outros imperialismos para além do norte-americano, e por outro, que muito do que acontece no mundo islâmico se deve a razões locais.
Por exemplo: a ascensão dos talibã deve-se muito mais ao ISI e ao imperialismo paquistanês (e às madraças Deobandi) do que à CIA e ao imperialismo estado-unidense. E mesmo na fase mujahedin da guerra no Afeganistão, o papel dos EUA é sobrestimado: foi nessa época que as actuais redes islamistas (incluindo a Al-Qaeda) se forjaram com dinheiro saudita e do Golfo (oferecido voluntariamente, por solidariedade islâmica, e não por pró-americanismo), com campos de treino e bases de recrutamento (abençoadas por clérigos islâmicos), e com voluntários vindos do Paquistão e de todo o mundo árabe para combater o «comunismo ateu» (sublinhe-se: voluntários e não mercenários). Não querer ver isto, e insistir em que os movimentos islamofascistas são uma mera «reacção» ao «imperialismo ocidental», ou que a Al-Qaeda é uma criação da CIA (como insistem alguns), é subestimar a inteligência dos povos árabes ou asiáticos, a sua capacidade de ter motivações próprias, e, pior ainda, não entender o mundo em que vivemos.
Outro reparo: apoiar a causa palestiniana quando a OLP tinha a primazia, e visava uma democracia laica juntando israelitas e palestinos, não é bem a mesma coisa do que apoiar a Palestina autónoma quando esta é dominada pelo Hamas, que deseja varrer Israel do mapa. E nem todos os povos se «fascizam» na oposição ao imperialismo dos EUA (a América Latina está cheia de exemplos do contrário).
Finalmente: algures nos comentários, fui acusado de «não passar da primeira linha». Seja. Passemos para o cenário de última linha.
Imaginemos. Imaginemos que um dia a formidável aliança entre islamofascistas e meia dúzia de marxistas-leninistas (o parceiro menor, dado que a relação de forças é essa) derrota os EUA. Ou seja: a OTAN é escorraçada do Afeganistão e os talibã regressam ao poder; uma qualquer aliança xiíta toma o poder em dois terços do Iraque, pondo em fuga para o Curdistão as tropas americanas; e o Hamas expulsa os judeus de Israel, com o apoio do Irão e da sua bomba. Nesse mundo de maravilha, coberto de verde, que pensam os islamo-esquerdistas que acontecerá às mulheres e aos homens desses países? Cantarão a «Internacional» enquanto judeus, cristãos, ateus e homossexuais são enforcados, e enquanto o uso do véu se torna obrigatório para as mulheres? Se a cantarem, será melhor mudar a letra. O sonho islamofascista não é «uma terra sem amos». Eu diria que é mesmo «uma terra com amos». Faz toda a diferença.
7 comentários :
O islão não se baseia num livro, conjunto de textos, mandamentos ou leis.
Na verdade o islão basea-se numa atitude e essa atitude é a de lixar o outro nem que o outro seja o mais muçulmano, maomé ou o próprio allah.
VV
Enquanto judeus, cristãos, ateus, homossexuais, e depois, comunistas?!
Um dia vieram pelos judeus... E eu não quis saber porque não era judeu...
And so on
QUANDO TIVE O CUIDADO DE ESCREVER:
«Vocês preferem alertar a "INFILTRAÇÃO ISLÂmica na Grã-bretanha". Eu prefiro alertar para a infiltração da Grã-Bretanha e dos STATES no Médio Oriente".»
SÓ POSSO ACHAR ESTE POST TOTALMENTE DESONESTO AO INSISTIREM EM COLAR-ME AO APOIO AO "ISLAMOFASCIMO"
Se querem ser rigorosos, colem-me à resistência dos povos afegão, iraquiano e palestiniano. Resistência essa que é animada por diferentes métodos e facções, tendo um carácter de verdadeiros levantamentos nacionais contra os ocupantes estrangeiros. E podem fazê-lo que eu aceito de muito bom grado!
Se é para este tipo de truncagens, ignorem-me. Eu prefiro assim.
Caro Ricardo Alves,
só uma saudação republicana à pressa para saudar o seu post. O que se passou nas caixa de comentários dos 5dias foi, com efeito, uma autêntica incursão islamo-fascista, com um destacado marxista ultra-revolucionário da csa, Renato Teixeira, a trocar abraços fraternos e a exortar à fraternidade com um sinistro ou, de momento, só grotesco Salah al Din que quer cobrar com juros em vidas de judeus os "mártires" muçulmanos que morreram ao longo das últimas dezenas de anos. E que antecipadamente saboreia - como muitas piedosas almas católicas de outrora ansiosas de gozar o espectáculo do inferno - as decapitações que, com a vitória final sobre Israel, prevê como grande gala dos "verdadeiros crentes".
Abraço
msp
EUA tem parceria $$$ com Riad... e ignora os abusos cometidos por Riad...
Caro Miguel Serras Pereira,
seja muito bem vindo a este blogue.
Apreciei muito as suas intervenções no Cinco Dias, quer como autor quer como comentador. Concordo com o diagnóstico que faz do islamofascismo, e notei que foi dos poucos a entender o que é a burca e o que significa.
O Salah al Din é um conhecido anti-semita (ele deve preferir anti-sionista) das caixas de comentários da blogo-esfera. Também já passou por aqui.
Saudações republicanas.
Caro «Pedro-que-procura-Inês»,
eu não mencionei o nome. Só remeti para uma caixa de comentários onde esgrimes argumentos muito semelhantes aos do Renato Teixeira.
Quanto à substância da questão, ainda vais a tempo de dizer o que pensas dos argumentos que aqui avancei.
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