Ao mesmo tempo, o senhor era, como é costume, socialmente conservador: queixava-se de que havia a ideia arreigada de que durante uma vida só se haveria de viver numa só cidade, ter uma só casa, um só emprego, um só casamento. E frisou: de tudo isto, a única instituição a preservar era a do casamento, que ele achava muito bem que fosse único e para a vida toda; deveríamos estar preparados para mudar tudo o resto. Ao menos o senhor não escondia nada ao que vinha. Só não passa por aquela cabeça que, com toda a precariedade que ele defende, é cada vez mais difícil as pessoas casarem e terem família. Se um trabalhador tem que estar sempre pronto para mudar de emprego, de casa e até de cidade, necessariamente a sua família terá que estar também. O que poderá ser impossível com filhos em idade escolar e com o cônjuge igualmente empregado. A menos que – deve ser isso que o sr. Monteiro preconiza – o homem “sustente a família” e a mulher foque em casa a tratar da mesma.
O argumento do sr. Armindo Monteiro sobre a “desigualdade” do despedimento não colhe. É evidente que a sua proposta não constitui uma situação de igualdade – um patrão também pode fechar uma empresa livremente, contra a vontade dos trabalhadores, bastando indemnizá-los. O que constituiria uma situação de igualdade verdadeira seria, a qualquer altura, o trabalhador poder despedir livremente o patrão. No dia em que um trabalhador puder pôr um patrão da empresa para fora, eu serei a favor da liberalização dos despedimentos.
3 comentários :
Esses propagandistas do neoliberalismo realmente nem sequer se apercebem das consequências inevitáveis do que defendem - inclusivamente para instituições que prezam enquanto conservadores, como o casamento.
Quantos postos de trabalho criaram, Ricardo e Filipe? Quantos ordenados pagam?
Eu acho que só quem paga salários -e muitos - é que se devia pronunciar sobre economia, política fiscal, laboral, etc..
Não são parte interessada, mas são mais que os outros. As suas opiniões são mais desinteressadas e justas, e também mais válidas que as dos outros.
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