terça-feira, 8 de setembro de 2009

E que tal discutir política?

Cito integralmente este pequeno texto publicado no Diário de Notícias:

«O jornal i fez, ontem, o levantamento de algumas das exportações portuguesas durante o Governo de José Sócrates. Fez o levantamento, sim: aqueles negócios levantaram voo. Com a Venezuela (em quatro anos, quintuplicaram), Angola (triplicaram), Argélia (quadruplicaram), Rússia (triplicaram), Líbia e China (em ambas, quase duplicaram) e Jordânia (quase triplicaram)... Esse sucesso foi acompanhado (e, em alguns casos, foi motivado) por uma diplomacia económica em que os governantes não se importaram de fazer de caixeiros-viajantes. Nesses destinos há um país muito importante (Angola, já o quarto comprador) e outros são mercados tentadores (bastava lá estar a China). Eis, pois, um balanço extraordinário - mas que merecia discussão, agora que julgamos quem nos governou nos últimos quatro anos. Todos aqueles países são susceptíveis de crítica (mais uns que outros) sobre o seu comportamento democrático. Eu digo que sim, há que fazer esses negócios - e, daí, eu achar bons os resultados conseguidos. Mas gostaria de saber se isso divide os partidos. Gostaria que na campanha se discutisse política. E não hipóteses de primos, hipóteses de asfixias e tricas sobre carros oficiais.»

Passo a pergunta para o leitor: foi positiva uma política de diplomacia económica que ignorou ostensivamente as diferentes "debilidades democráticas" de diferentes mercados potenciais em nome da eficácia no incentivo ao aumento das exportações? Deveríamos ter abdicado dessa riqueza em nome da defesa de valores democráticos? Deveria ter existido uma solução intermédia?

5 comentários :

Ricardo Alves disse...

Pois. «Diplomacia económica». Mas era mesmo necessário juntar-lhe a diplomacia política, com a participação nas celebrações da implantação do regime de Kadhafi, e enviar até a Força Aérea portuguesa (diplomacia militar)?

no name disse...

concordo com o ricardo: podiamos ter-nos ficado pela parte económica; era suficiente. esta diversificação de destinos das exportações é, pragmaticamente, uma das razões pela qual estávamos em recuperação económica antes da crise, e pela qual estamos agora a passar pela crise bem melhor que espanha, irlanda, e companhia. e pode ser um boom muito importante para o pós-crise, o que não é de menosprezar... mas, como diz o ricardo, não me parece que isso implique juntar-se-lhe a parte política com participação da fap e tudo! isso era dispensável...

Jorge Santos disse...

Tambem acho que a graxa era escusada.
Ficavam-se pelos acordos economicos e deixavam o resto na gaveta, como diz o Soares.

Anónimo disse...

Será que a graxa era mesmo escusada? Se calhar fazia parte do acordo... Acho mesmo que sem a valsa diplomática pouco ou nada aconteceria. À primeira vista parece-me uma cedência bastante negativa.

Por outro lado, será que a longo prazo as consequências dessa cedência vão ter algum impacto no destino da Líbia, por exemplo? Estou a falar da condescendência para com o tipo de regimes. Qual é o verdadeiro impacto desta pequena cena de pantomina diplomática? Não estou a desconsiderar, estou a perguntar porque não sei.

Ricardo Alves disse...

Francisco,
o isolamento político dos regimes autoritários pode produzir efeitos. A longo prazo.