quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A estranha «independência» do Kosovo

  • «O estatuto jurídico do Kosovo é importante, mas não é o essencial. O Kosovo independente será semelhante à Bósnia-Herzegovina «soberana» e totalmente dependente, onde o «alto representante» da União Europeia faz leis e destitui representantes eleitos que considera inoportunos. Como poderá tal situação ser uma resposta à crescente rejeição da presença internacional e à crescente perturbação de uma população cuja taxa de desemprego ultrapassa os 50 por cento? Alimentada a conta-gotas, a província transforma-se num supermercado improdutivo, tendo por moeda o euro que por sua vez impede qualquer protecção dos seus produtos contra as importações ocidentais compradas pelo pessoal das instituições internacionais, que aufere salários mirabolantes. Todos os anos são eliminados cerca de 1000 hectares de terra arável, para serem construídos essas grandes superfícies comerciais que, a par dos quiosques, lojas e salários internacionais, alimentam o «crescimento».
  • As pressões do Fundo Monetário Internacional (FMI), a ausência de Estado social e de créditos públicos, a incerteza sobre o estatuto e a propriedade conduzem a uma desindustrialização absoluta: 90 por cento das cerca de 500 empresas públicas deixaram de funcionar. Tal como acontece com os abundantes recursos em lenhite, as várias dezenas de minas do complexo Trepca no Norte, que registam uma produção de 60 milhões de toneladas de minerais não ferrosos, são objecto de grandes conflitos de propriedade entre a Kosovo Trust Agency (KTA), encarregue das privatizações pela ONU, Belgrado e os albaneses do Kosovo.
  • A União Europeia desempenha o mesmo papel negativo que os Estados Unidos e as instituições da globalização, na medida em que impõe uma zona de comércio livre, rigor orçamental e financiamentos privados. Dito de outro modo, a União impõe ao Kosovo o inverso do que aconteceu em França depois da Segunda Guerra Mundial: nessa altura a reconstrução realizou-se, num quadro capitalista, é certo, mas com base numa certa planificação e em financiamentos públicos» (Catherine Samary no Le Monde Diplomatique)

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