domingo, 2 de março de 2008

Raúl Proença: liberalismo político e liberalismo económico

A citação que se segue é dedicada a estes e estes, e também a alguns destes.

  • «Pelo que se refere à liberdade económica, sabem já há muito todos os meus leitores da Seara Nova ser minha opinião que o "soi-disant" liberalismo económico nada tem que ver com a liberdade intelectual e política, pois que se não funda em razões de direito, no respeito da pessoa humana, mas numa pura concepção económica ou em interesses egoístas de classe. Pode-se ser partidário da liberdade económica (por exemplo, a Associação Comercial de Lisboa) sem se comungar o liberalismo político, como se pode ser partidário do liberalismo político sem partilhar o liberalismo económico. São dois conceitos que estiveram logicamente ligados, numa das fases dialécticas da Revolução, mas que o não estão logicamente. Há, pois, que dissociá-los.
  • Disse que essas duas espécies heterogéneas do liberalismo nada tinham que ver uma com a outra. Não exprimi afinal com inteira fidelidade o meu pensamento. Creio, com efeito, que todo o liberalismo intelectual e político leva logicamente ao intervencionismo económico, pois que não pode haver liberdade para todos os homens, se nem todos têm garantido um mínimo de independência. Donde o não se incorrer em nenhuma espécie de contradição ao copular, como tantas vezes tenho feito, estas duas palavras: socialismo liberal.
  • E não pense V. Exª que estou isolado. Como eu, falava Jaurés, quando afirmava que o socialismo é o "individualismo lógico e completo".» (Raúl Proença, Seara Nova, nº239, 19 de Fevereiro de 1931.)

A distinção já se fazia em 1931. Ainda hoje é necessário recordá-la.

3 comentários :

Anónimo disse...

Já em 1931 havia quem entendesse que um homem pode ser livre sem ter o direito ao produto do deu trabalho.

João Vasco disse...

Ainda hoje há quem entenda que um homem pode ser livre mesmo que não tenha acesso à alimentação, ou saúde.

Ricardo Alves disse...

«anónimo»,
se pagar impostos é perder a liberdade, então tem uma concepção bastante subalterna de liberdade.