segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Protestos de boas intenções…

Acho muito mais fácil gostar dos neoliberais daqui do que dos europeus, porque eles aqui são incomparávelmente mais honestos. Aqui defende-se publicamente a prática de abortos obrigatórios para as operárias das fábricas de roupas que engravidam e querem manter o emprego, persegue-se os sindicatos abertamente, culpa-se os pobres pela pobreza e advoga-se a invasão dos países muçulmanos com o fim de os converter ao cristianismo. Abertamente, sem complexos.

Em Portugal os protestos de boas intenções dos neoliberais soam a banha da cobra: os teóricos do país que já é o mais desigual da Europa vêm-nos dizer que isto é para nosso bem, que não há dinheiro para a solidariedade social, que devemos ajudar os ricos a criarem mais riqueza para si próprios porque isso é bom para nós, que cria empregos, que o salário mínimo é um estorvo à economia e um encorajamento da preguiça e da irresponsabilidade, que a concentração dos media não tem perigo nenhum para a democracia, que “o mercado” resolve tudo, que devemos ler melhor os nossos Poppers, Hayeks e Mills, etc.

Mas as estatísticas mostram bem a trajectória que eles traçaram e cujas consequências são evidentes: o empobrecimento da classe média, a concentração obscena da riqueza, o empobrecimento e a exploração ignóbil de um terço da população do planeta, o ataque continuado aos direitos dos cidadãos, o crescimento da indústria militar e o desenvolvimento de uma “fighting class” de soldados sem futuro nem aspirações.

2 comentários :

Anónimo disse...

"que devemos ajudar os ricos a criarem mais riqueza para si próprios porque isso é bom para nós"

tentarem-nos convencer disto é ignóbil, mas a verdade é que convencem muito boa gente. é como a cantiga que é melhor explorar alguém do que deixá-la no desemprego

PAULA JOYCE disse...

Exactamente o que eu penso!Parabéns por ter sido tão claro!