domingo, 11 de novembro de 2007

O direito a converter

No debate sobre a laicidade dos hospitais, não faltou quem garantisse que jamais um capelão católico incomodou quem não desejava a sua presença (ver, por exemplo, esta caixa de comentários). Para esses, felizmente que a Palmira contou a história do abuso clerical que se passou com ela:
  • «Há exactamente 25 anos vivi o pior período da minha vida quando descobri que a minha filha mais velha tinha um problema de saúde muito grave. O 9º piso da Neurocirurgia do hospital de Santa Maria, onde se situava a UCI, a SO e a sala pediátrica, estava em obras, de forma que ficámos ambas numa enfermaria comum. Um padre que visitava os doentes, certamente com as melhores intenções, resolveu dar-me apoio (não solicitado) naquela hora tão difícil. Rapidamente se apercebeu que não me poderia dar qualquer tipo de conforto, mas ficou horrorizado com as implicações éticas e morais (para ele) das minhas opções: a minha filha de 18 meses não era baptizada. Naquela altura em que o Vaticano ainda não tinha abolido o limbo, tal era completamente inaceitável para o padre de que não recordo nem o nome nem a cara, apenas o total desrespeito por mim, pela minha dor e pelo meu estado (entretanto descobrira estar grávida da minha filha mais nova). Recordo a total insensibilidade com que me avisou que não tinha direito a não a baptizar, que o tumor da minha filha era castigo do meu ateísmo, que se não me arrependesse ou pelo menos não a baptizasse, o filho que carregava no meu ventre teria igual destino. Nem o desplante com que me informou, quando soube que a mais velha tinha sobrevivido à intervenção, que o tinha de agradecer a Deus que me dera uma segunda oportunidade de arrependimento.» (De Rerum Natura)
Infelizmente, este género de situações são protegidas pelos regulamentos hospitalares ainda em vigor, que dão aos capelães católicos (os únicos capelães que existem) direito de acesso a qualquer paciente de um hospital público. Praticamente um «direito a converter», ou pelo menos um direito a incomodar. O actual Ministro da Saúde, ao que dizem os jornais, tenciona alterar a situação de forma a que só ature os capelães quem quiser. E por isso tem sido insultado pela bispalhada. Há quem ache que a sua religião confere direitos sobre os outros.

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