quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Neocons

Tanta retórica, tantos filósofos – Poppers, Friedmans, Hayeks, Mills, etc. – e depois os políticos que os defendem são todos uns desgraçados... não há entre os dirigentes do PP e do PSD uma única pessoa com coluna vertebral, um único messias que os salve da mediocridade comezinha, dos pequenos escândalos com sobreiros e com cheques assinados “Jacinto Leite Capelo Rego”, das suspeitas de homossexualidade envergonhada, de incompetência, da cobardia, da corrupção, da ignorância, da hipocrisia, da cupidez, da parolice, etc.

Exactamente como aqui. Todas as semanas há mais outro republicano (‘value voters’ como eles se autodenominam) na primeira página dos jornais: um porque ofereceu 20 dólares a um polícia à paisana para lhe fazer sexo oral, outro foi preso na casa de banho de um aeroporto por espreitar e meter as mãos por baixo da baia da retrete do lado, outro (um pastor protestante) por ter sido encontrado morto na sala com dois fatos de mergulho vestidos, um por cima do outro, e um vibrador enfiado no rabo, hoje é um senador, David Vitter, a testemunhar num escândalo de prostituição... e isto são as coisas que não interessam.

As que interessam estão piores: a guerra do Golfo está perdida (mais de 1 milhão de civis mortos), agora descobriu-se que os soldados que voltam para casa se suicidam a um ritmo impressionante (120 por semana), as finanças estão numa desgraça, ninguém acredita em ninguém, a invasão do Líbano devia ser considerada um crime gratuito contra a Humanidade (600 criancas mortas e a morrerem ainda com as ‘cluster bombs’ que os ingleses, americanos e israelitas lhes mandaram para cima), os jornalistas são todos empregados dos partidos, não há debate de ideias, a separação da igreja e do estado desapareceu, para o ambiente, a educação e a justiça social esta década foi uma década perdida, e todos os dias os neocons nos espantam, quando julgávamos que já não se podia descer mais abaixo do que no dia anterior.

Assim, acho que os neocons e os defensores das virtudes da religião (os ‘value voters’) nos deviam explicar melhor a relação entre o que escrevem os profetas deles (Popper, Hayek, S. Marcos, S. Mateus, etc.) e a realidade que eles criaram na última década.

20 comentários :

David Lourenço Mestre disse...

"não há entre os dirigentes do PP e do PSD uma única pessoa com coluna vertebral"

Fico impressionado com as suas certezas. Todas elas dignas de se situar à ilharga de um calculo matemático

Preocupa-me antes que Portugal num espaço de dez anos, e aqui temos de nos situar em 2012 terá sido ultrapassado em nível de vida por 11 paises na Europa. Repito, 11 paises. Grécia, eslovénia, Chipre, republica checa, malta, estónia, lituânia, letónia, Hungria, croácia, eslováquia

"nos deviam explicar melhor a relação entre o que escrevem os profetas deles (Popper, Hayek, S. Marcos, S. Mateus, etc.)"

Essa salada de profetas ou é fruto de um delírio ou prova que nao sabe do que fala

Filipe Castro disse...

:o) Quem cozinha a salada do neoliberalismo e do cristianismo (na Constituicao Europeia!) nao sou eu! :o)

Ha vinte anos que ouvimos todos os administradores do Banco de Portugal e todos os ministros das financas contar a mesma historia: que é preciso mais flexibilidade de emprego, menos deficit, mais privatizacoes, menos custos com a seguranca social, menos pensoes de reforma... e agora somos o pais mais desigual da Europa dos 25 e fomos ultrapassados por 11 paises.

David Lourenço Mestre disse...

Antes de tudo vamos a esclarecimentos.

Popper é um filosofo mais ao gosto de democratas do que dos republicanos, tal como rawls muito apreciado pela esquerda nova-yorkina. Popper é um liberal, não um conservador, foi socialista e lido por muitos socialistas. Tinha uma opinião positiva sobre o moralismo do marxismo, repito, sobre o moralismo marxista embora denunciasse o socialismo cientifico como uma patranha, e nisto o raciocínio é matemático. Sobre o cristianismo:

“A religião crista exige de nós uma pureza de comportamentos e de pensamento que só pode ser totalmente alcançada pelos santos. Dai que se tenham malogrado sempre as inúmeras tentativas de edificação de uma ordem social intieramente animada pelo espírito do cristianismo. Conduziram sempre, e necessariamente, à intolerância e ao fanatismo.”

“Em busca de um mundo melhor” pg 191

Em “a sociedade aberta e os seus inimigos” apresenta duas opiniões. O cristianismo primitivo, igualitarista, e o cristianismo da idade media, totalitário. Convem lembrar que popper não é um filosofo politico.

Hayek. Também não é um filosofo politico. Mas serve para a esquerda e para a direita. Após thatcher o labour não desfez o que a “harpia” começou. Porquê? Por que o resultado foi positivo. Em Espanha zapatero não desconstruiu o que aznar começou. Porquê? Por que o resultado foi positivo. Clinton não arrumou na gaveta o legado de reagan. Porquê? Por que o resultado foi positivo. No Chile nenhum governo de esquerda destruiu o que pinochet começou. Porquê? Por que o resultado foi positivo.

Também podia falar da Suécia e da Dinamarca. Tenho aqui inclusive um estudo interessante sobre a Suécia.

De resto é este o caminho que Portugal deve seguir, é o que a Europa de leste fez, com cavada razoes e sem preconceitos ideológicos, eles saíram de uma ditadura de esquerda, nós tivemos o azar de sair de uma de direita, dentro de 5-10 não haverá país da Europa de leste com pouquissimas excepções que não nos tenha ultrapassado no índice ppp per capita. Enfim, Portugal de regresso às suas origens humildes, na cauda da Europa, na cauda do continente. Isto vai animar nos próximos anos, imagino os estragos que vai causar na psique dos indígenas

Conservadores.

Se procura conservadores comece por oakeshott e leo strauss – este é muito bom, mesmo muito bom. Não espere é evangelistas e filósofos a prescrever um regresso às raízes cristas. Leo strauss é judeu e não é crente. Insistia muito no dualismo do ocidente, a raiz judaica e a raiz grega. A sua visão sobre sócrates, platão, aristophanes, thucydides, é a melhor que eu conheço

Filipe Castro disse...

Bom Dia!!

Mas eu nao quero discutir a bondade e a decencia das ideias de Popper ou the Hayek (até porque não sou competente para isso). O que quero sublinhar é o facto das ideologias mascararem (em vez de clarificarem) a realidade: cristãos a bombardear crianças com 'cluster bombs', democratas a torturarem cidadãos, liberais a quererem ilegalizar o divórcio, etc.

O filho do Kristol (o que se gabava de ser o disciplo dilecto do Leo Strauss) tem aqui um pasquim onde só se fala de liberdade e de filosofia política e depois se avança a agenda mais sinistra do mundo (a seguir à do sociopata assassino Joe Liberman, que quer matar os árabes todos).

David Lourenço Mestre disse...

O Castro é um moralista, e como tal, vê o mundo por hiperboles, quanto a isso nao posso fazer nada.

De qualquer modo isto "liberais a quererem ilegalizar o divórcio, etc." nao é uma hiperbole, é uma contradiçao nos termos

De resto, preocupa-me mais a classe media portuguesa que encolhe todos anos, preocupa-me o facto de aqui a 5 anos situarmos no 24º lugar em nivel de vida numa europa a 27. Preocupa-me haja apenas 2 milhoes de trabalhadores activos em portugal - estou a excluir a funçao publica.

Nuno disse...

Engana-se DM, o FC está a tentar desmascarar um discurso, esse sim, moralista, mas que o é apenas na retórica não nas acções, sobretudo caracteristicas por cá de algum catolicismo. O DM está a aproveitar para demonstrar outras preocupações legítimas, em claro afastamento do tema. E claro q isto é apenas a minha opinião!
Cpmts

Anónimo disse...

Os comentários do David Lourenço Mestre são copy+paste de coisas do seu blogue, por isso parecem (e estão) descontextualizados

David Lourenço Mestre disse...

Anonimo, a salada à moda do vimieiro (Popper, Hayek, S. Marcos, S. Mateus, etc.) não é inocente.

Há uma clara tentativa de situar no mesmo plano moral o liberalismo e aquilo que o castro tachou de "neocons".

Os argumentos são falaciosos e ideologicamente comprometidos.

Chamar para aqui o exemplo de Portugal, faz sentido no plano economico, somos um país estagnado e empobrecido, a Inglaterra de thatcher e gordon brown a Espanha de aznar e zapatero, enfim a Europa “neo-liberal”, aquilo que castro critica implicitamente, é um Portugal virado do avesso.

O texto sobre popper e hayek ainda fazia mais sentido e nao podia estar mais dentro do contexto

Anónimo disse...

Vão-se **** com o Karl Popper,Hayek e semelhantes bestas.Esta é a realidae desenhadapor eles ao serviço dos juros compostos.Para abrir a pestana deviam ler Hellen Brown no
http://resistir.info/financas/brown_10nov07_p.html

Ricardo Alves disse...

«Após thatcher o labour não desfez o que a “harpia” começou. Porquê? (...) Em Espanha zapatero não desconstruiu o que aznar começou. Porquê?»

Porque a UE não deixa.

Filipe Castro disse...

Concordo. A concentracao da riqueza que resulta dos ataques à justica social da direita torna impossivel aos politicos repor a justica em tantas situacoes horriveis.

David Lourenço Mestre disse...

"Porque a UE não deixa."

Parece me que isto situa-se no mesmo campo que as declarações do castro sobre filósofos que mais tarde reconheceu não ter a competência para os discutir

Discutir a união europeia, ou a comunidade europeia que a precedeu, é um exercício inútil. A suécia fez reformas nas duas ultimas décadas, reduziu os impostos e reduziu o tamanho do estado na vida dos suecos, fez para debelar o desemprego e continuar a crescer. Teve sucesso mas há um aspecto, a suécia não deixou de ser uma social-democracia, apenas é uma social-democracia mais eficiente. A união europeia não impõe aos estados a social-democracia ou o “neo-liberalismo”.

Castro, mais uma vez fala sem saber do que fala

Isto nao tem nada a ver com direita ou esquerda.

João Vasco disse...

David Lourenço Mestre:

a) O peso do estado na ecnomia sueca é SUPERIOR ao peso do estado na economia portuguesa

b) O peso da função pública no estado português é mediano no que respeita aos países da UE

Muita falsidade por aí circula...

David Lourenço Mestre disse...

Nenhuma falsidade, escrevi linhas acima isto:

"A suécia não deixou de ser uma social-democracia, apenas é uma social-democracia mais eficiente."

Nao comnpreendeu o contexto mas se quiser explicaçoes estou cá para isso.

Ricardo Alves disse...

David Mestre,
há algum país da UE que, no pós-Maastricht, tenha conseguido seguir uma política mais social-democrata do que seguia anteriormente?

David Lourenço Mestre disse...

Ricardo, a suécia enquanto social-democracia deita por terra o seu argumento.

No entanto, já se deu ao trabalho de descobrir o que é o tratado de maastricht?

Mas vamos para o campo do ridiculo como você tanto deseja. Inglaterra não faz parte do euro, nem assinou o tratado de maastricht - embora após muita vaselina politica tenha aceitado alguns pontos - e para mais naqueles lados ninguem morre de amores pela união europeia. O tratado de qualquer modo tinha um travo fortissimo a social-democracia.

Lamento, mas o seu argumento é fraco e no campo puramente juridico absurdo. A união ainda não tem o poder que lhe dá. Duvido que alguma vez o tenha, não que eu não seja europeísta, mas os europeus nunca pensarao a uma só voz, concordarao quanto a medidas na higiene dentro dos aviarios, nunca concordarao quanto a medidas sistemicas no plano da economia

Ricardo Alves disse...

David Mestre,
vejo que não respondeu à minha pergunta. Por uma razão muito simples: sabe que tenho razão.

A Suécia diminuiui os impostos e o peso do Estado na economia depois de Maastricht, como o próprio David já assumiu. Portanto, já caiu em contradição.

Mas, já agora: o David será tão ignorante que não tenha ouvido falar no Banco Central Europeu? A independência dos bancos centrais (uma medida claramente «liberal»), aconteceu por geração espontânea?

E será tão ridículo que não oviu falar dos critérios macroeconómicos fixados por Maastricht?

Passe bem.

David Lourenço Mestre disse...

O seu argumento é um absurdo. É de lamentar que nao o veja.

A inglaterra tem o seu proprio banco central. Relembra-se do seu argumento original?

Maastricht tinha muito de social-democrata, simples, na altura a social-democracia ainda nao tinha caido em descredito, porque de um modo geral ainda eram viaveis e funcionavam razoavelmente bem. O tratado foi escrito antes da estagnaçao e do desemprego em massa

Uma das razoes porque os britanicos nao assinaram o tratado foi a natureza social-democrata do tratado.

A social-dmocracia na suecia é sinal de que os europeus, cada pais europeu segue o seu caminho. A alemanha e a frança sao - ainda que falidas - sociais-democracias, eram pelo menos há relativamente pouco tempo

A suecia é uma social-democracia, quando diminuiu os impostos foi para reduzir o estado de 80 por cento do pib para 50. Nisto tenho de ir confirmar

A medida nao é neo-liberal, de direita, ou seja o que for, foi feita para salvar a social-democracia e evitar o colapso.

Até em cuba após a queda da uniao sovietica - acabava o cheque russo - houve uma restruturação economica. A culpa na mais chã sabedoria do ricardo é dos patifes do banco central europeu.

"(uma medida claramente «liberal»)"

What the fuck????!!!

PS As minhas desculpas desde já, any reply só amanha

David Lourenço Mestre disse...

Antes de me ir embora e continuando

O banco central é uma medida centralizadora, embora europeista

Há entregas de soberania, os estados reconhecem a soberania da união europeia em medidas fátuas como a higiene nos aviários, em medidas primarias na estabilidade da moeda – espaço euro – mas as medidas sistémicas estão nas mãos dos estados.

O caminho que cada um segue, social-democracia ou neo-liberalismo, para me auxiliar em chavões, cabe aos estados.

Mais uma vez isto nao tem nada a ver com direita ou neo-liberalismo ou com a social-democracia e a esquerda, é mais uma relaçao entre crescimento e desemprego e sustentabilidade de modelos a curto e a medio prazo

A suécia não vai abdicar de todo o social framework porque está escrito em pedra algures em Bruxelas, e vice-versa, espanha nao vai desfazer o que aznar começou

David Lourenço Mestre disse...

Para terminar a conversa.

Um estado que custa 50 por cento do pib é caro, muito caro, um estado que custa 80 é um estado e uma economia em sarilhos. Nenhuma social-democracia custa 80 por cento do estado. Entao como se chega a este numero obsceno?

A economia começa a arrefecer. O desemprego aumenta. As despesas sociais crescem. A economia encolhe. Entramos numa espiral de decrescimento e desemprego. Se nao forem tomadas medidas os 80 passam eventualmente para 90 e os 90 passam para 100 e daqui para a frente é um festival com muito tango e mambo. É um zimbabwe, uma korea do norte. Mugabe pode estar nas tintas para o seu povo. Os governos suecos nao. Estao numa democracia e tem de prestar contas. Se nao houver mudanças o governo é castigado. O proprio marx chamou a atençao para os perigos de descurar a economia. A propria uniao sovietica passou por reformas economicas nos anos trinta, porquê? por que a economia pedia capital. Cuba fez o mesmo nos anos 90, inglaterra, nos anos 80, espanha e suecia nos anos 90. Hoje a suecia é mais social-democracia do que era nos anos 90. Há mais dinheiro na economia, os suecos ganham mais, o pib e o ppp per capita cresceram, os suecos consomem mais e o estado arrecada mais capitais via iva e irs.