sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Banalidades finais

Afinal, um Presidente serve para quê? E quais serão os assuntos em que um Presidente fará a diferença no próximo mandato?
Os que votam em Cavaco Silva dizem acreditar que o Presidente Cavaco será qualquer coisa entre o treinador de bancada e o consultor de finanças do Governo. E não vêem (ou vêem e e é isso mesmo que querem...) que Cavaco criará um sarilho institucional se tentar cumprir a ilusão que construiu. Eu encontro aí a minha razão principal para não votar Cavaco, sendo a razão secundária o fundo conservador das forças que o apoiam e que vetarão um milímetro de avanço em qualquer matéria ligada à laicidade do Estado ou à evolução dos costumes.

Os que votam Soares votam sobretudo na «bonomia» e na experiência. Pessoalmente, penso que Soares já fez a sua parte, goste-se ou não. E penso que infelizmente há uma geração inteira que acredita que ser «republicano e laico» é fazer juras de amor à ICAR cada vez que se fala num assunto remotamente relacionado. Esse problema continuará, aconteça o que acontecer.

Quem vota Jerónimo vota no segundo maior exército civil português (o primeiro é a ICAR), como se viu no Pavilhão Atlântico. Vota na «instituição» que preserva os direitos mínimos daqueles portugueses que pouco têm e que vivem a sul do Mondego. Mas um exército, mesmo igualitário, nunca é uma escola de liberdade individual.

Louçã esforçou-se e continua a esforçar-se por se tornar um social-democrata credível, preenchendo o imenso espaço ideológico vazio entre o PCP e o PS. Deu mais um bom passo nesse sentido nesta eleição presidencial, independentemente do resultado que obtenha. Não tem «máquina» por trás, e começa a parecer claro que não tem espaço para a construir, a não ser a longo prazo (o BE é, nítidamente, o movimento político mais jovem).

Garcia Pereira teve a única qualidade de fazer ver que o sistema mediático não deu um tratamento igualitário às diferentes campanhas. De resto, tem ideias lunáticas (como instituir «Supremos Tribunais» na Madeira e nos Açores).

Alegre é a primeira oportunidade, em trinta anos de democracia, de votar num cidadão que não foi aprovado por directório partidário algum. Vacilou em questões importantes (ver mais abaixo neste blogue), na medida exacta em que as sondagens o colocavam cada vez mais frequentemente à frente de Soares.

Durante o próximo mandato, será discutida a «Constituição Europeia» (com esse ou outro nome). O único que acredito que seria favorável a um referendo, dos três que podem ser eleitos, é Manuel Alegre. E é um social-democrata, o que não pode ser dito, na realidade, de Cavaco.

2 comentários :

Paulo Alexandre disse...

Quanto a mim, sou militante do PS, e a direcção do PS decidiu apoiar o Mário Soares sem me perguntar nada. De modo que decidi apoiar o Manuel Alegre sem perguntar nada à direcção.

Ricardo Alves disse...

Pois é Paulo, pois é...