sábado, 1 de outubro de 2005

A monarquia absolutista é uma tradição de liberdade

É visível na blogo-esfera portuguesa uma obsessão recorrente em criticar o Expresso. No entanto, este jornal de fim de semana, para além de trazer suplementos muito interessantes (o horário dos cinemas, por exemplo) tem duas grandes qualidades:
  1. há pelo menos uma edição por mês em que 10% das manchetes da primeira página correspondem à verdade;
  2. é o único jornal de grande circulação em que escreve João Carlos Espada.
Não sei se terei já aqui falado neste blogue de JC Espada: este intelectual de formação marxista-leninista-estalinista-maoísta(1) é uma das minhas figuras de culto, a par de João César das Neves e de Boaventura Sousa Santos. A sua defesa vigorosa(2) do liberalismo exprime-se através de uma prosa desassombrada, auto-irónica e despreconceituosa. Os textos teóricos em que explicou que o verdadeiro liberalismo consiste em usar gravata (e não calças de ganga) ou usar sapatos de biqueira fina no pino do Verão (e não chinelos) são clássicos do pensamento liberalista, assim como a sua defesa apaixonada da verdadeira tradição da liberdade: o clericalismo católico romano.
Na edição de hoje, JC Espada, iconoclasta como sempre, dedica-se a reclamar das autoridades públicas e privadas portuguesas(3) uma homenagem condigna à batalha de Trafalgar e à acção modernizadora da monarquia britânica, nomeadamente através de uma estátua aos ocupantes ingleses em geral e aos assassinos de Gomes Freire de Andrade(4) em particular. Como bónus, esclarece-nos de que Cavaco Silva não será uma «ameaça da direita», mas deixa a suspeita de que Mário Soares será uma «ameaça da esquerda», quiçá mesmo de extrema esquerda(5).
JC Espada é, efectivamente, um dos nossos grandes intelectuais pós-modernos. Só é imperdoável que, desta vez, tenha escrito um artigo inteiro sem uma única palavra em inglês.

(1) Espero não me ter esquecido de nada.
(2) Um liberal genuíno escreveria «vigorosa defesa», mas eu não sou liberal: sou conservador.
(3) Uma distinção irrelevante para um liberal verdadeiro, veja-se o caso de Avelino Ferreira Torres...
(4) Segundo JC Espada, um precursor do ideário político do Bloco de Esquerda.
(5) JC Espada usa, aqui, a linguagem da extrema direita.

3 comentários :

Anónimo disse...

JC Espada é um caso perdido. É de pessoas assim que eu costumo dizer: «Não é uma besta perfeita. Ninguém é perfeito».

João Pedro disse...

Também li o artigo. Para JC Espada tudo o que é britânico prende-se ao liberalismo e à tradição liberal. Só faltou falar de vultos como Beresford, ou do caso do mapa cor-de-rosa, esse grande exemplo de liberalismo inglês.E, claro, declarar que Nelson não usava xanatas.

Anónimo disse...

Plenamente de acordo :))))