segunda-feira, 23 de maio de 2005

A campanha contra a APF

A partir de uma notícia tendenciosa e mal informada do Expresso, desencadeou-se uma campanha caluniosa contra a Associação para o Planeamento da Família (APF). O objectivo principal é, claramente, o de denegrir uma associação que tem feito um trabalho sério e valioso na promoção do planeamento familiar. Pretende-se, particularmente, atacar a própria ideia de educação sexual na escola.
Quais são os factos?
A notícia do Expresso afirma que se pede aos alunos para «colorirem» as partes do corpo em que gostam de ser tocados, que se encoraja a masturbação e que se banalizam os casais homossexuais.
É isto verdade?
A APF negou que os manuais reproduzidos na notícia fossem recomendados por esta associação (Público, RTP, A Capital). Aliás, um deles apareceria apenas indicado na bibliografia. E negou que se incentivasse os alunos a terem comportamento sexuais, fossem eles quais fossem. Mais, na realidade não existe qualquer «programa» de educação sexual, o que me parece óbvio quando não há um espaço lectivo próprio. Existem umas meras «linhas orientadoras». Não é claro quantas escolas do país aplicam as tais «linhas directoras», e se nos recordarmos que Mariana Cascais ainda há pouco era Secretária de Estado e achava que a educação sexual deveria ser opcional, devem efectivamente ser muito poucas. Muito curioso é que o Expresso não tenha ouvido a APF antes de publicar a notícia. A notícia de A Capital (na parte não disponível na internete) refere um aspecto muito interessante: os «agrupamentos escolares» têm autonomia para decidir estas matérias, ao abrigo da «autonomia escolar». Os fanáticos da «escola descentralizada» e «próxima das comunidades» teriam portanto alguma responsabilidade, se os factos se confirmassem.
No entanto, a extrema direita católica já reagira, rapidamente. Poucas horas depois da notícia do Expresso, já existia uma petição exigindo a suspensão do «programa» de educação sexual, que esta passasse a ser opcional e que fossem apresentadas desculpas públicas...
Resumindo: de uma tempestade num copo de água os católicos ultraconservadores estão a conseguir fazer uma bola de neve. E como a fé concede essa graça muito particular que consiste em não ouvir os argumentos da outra parte, estão imparáveis. Blogues como este estão activíssimos, imunes aos desmentidos factuais, e a citarem Nuno Serras Pereira com todo o desvelo. A discussão séria, infelizmente, não é apanágio da blogo-esfera.

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