terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Da radicalização do PCP pós-eleições

Anda aí a teoria rebuscada que a perda de votos nas presidenciais do PCP para o BE, é sinal que o eleitorado do PCP não gosta do apoio comunista ao governo. A conclusão é que o PCP vai tirar o tapete ao PS.
Há uma coisa que não percebo: um eleitor comunista, para mostrar o seu desagrado com o apoio ao governo do PCP, vai votar na candidata do BE, partido este que... também tem apoiado o governo.
Eu percebo que haja gente desejosa de uma crise política, mas isto é wishful thinking puro.

É assim tão difícil aceitar, que as presidenciais são eleições mais pessoais e menos partidárias que as outras? Que o candidato do PCP teve uma campanha fraca, e a do BE, para lá da sua maior notoriedade, fez uma campanha inteligente?

5 comentários :

Jaime Santos disse...

Não se trata de aceitar ou não aceitar, trata-se de tentar criar na opinião pública a impressão de que a 'geringonça' está em vias de se desconjuntar. Pura manipulação, típica da imprensa da Direita, que quer vender jornais e capitalizar no suplemento de alma que foi a vitória de Marcelo nas presidenciais. A avaliar pelas sondagens para as legislativas divulgadas depois das presidenciais (Aximagem), a Esquerda permaneceria largamente maioritária na AR se as Legislativas se repetissem agora e o CDS estaria em vias de se transformar no partido do tuk-tuk, sendo que além dos centristas, só o PCP perderia votos relativamente a 4 de Outubro. Acham sinceramente que em face disto os comunistas querem ir agora a eleições? O que me espanta é que depois das trapalhadas do BANIF, o PSD não tenha levado um trambolhão. Se calhar, aconteça o que acontecer, a Direita toda junta nunca tem menos de 38% dos votos. Eles são crentes...

João Vasco disse...

A direita já chegou a ter menos de 33% dos votos, ainda antes do Barroso se demitir (e se calhar em parte por essa razão). Na altura fiquei convencido que abaixo disso não desciam, aconteça o que acontecer.
Mas essa proporção reflectida em deputados já dá para a esquerda fazer revisões progressistas na CRP. Por pouco, mas dá :)

Jaime Santos disse...

Sim, mas isso foi numa eleição para o Parlamento Europeu, não? Julgo que o pior resultado em Legislativas foi em 2005, aquando da Maioria Absoluta de Sócrates. E o segundo pior resultado foi a 4 de Outubro... E como o método de Hondt por círculos não é estritamente proporcional, sobretudo se a Direita concorrer coligada, eles até obtiveram 46, 5% dos deputados, mesmo se só 38% dos votos... Francamente, não percebo a falta de vontade de BE e PCP em não alterarem o sistema eleitoral. Seria possível alterá-lo sem abdicar da regra de Hondt, o que creio que não requereria revisão da CRP (mas posso estar enganado), para um sistema como o dinamarquês (círculos eleitorais mais pequenos, com compensação a nível nacional), que seria muito mais justo e aproximaria eleitores e eleitos...

Miguel Madeira disse...

Artº 149: "1. Os Deputados são eleitos por círculos eleitorais geograficamente definidos na lei, a qual pode determinar a existência de círculos plurinominais e uninominais, bem como a respectiva natureza e complementaridade, por forma a assegurar o sistema de representação proporcional e o método da média mais alta de Hondt na conversão dos votos em número de mandatos."

Lendo nas entrelinhas (nomeadamente a parte da "complementaridade" e até a possibilidade de circulos uninominais) dá-me a ideia que a CRP tal como existe até permitira um sistema à alemã.

Miguel Madeira disse...

Mas há alguma indicação que houve uma transferencia da CDU para o BE?