quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A "presunção de inocência" é quando um cronista quiser

"Tenho todo o direito de presumir que Sócrates é culpado daquilo que o acusam", escreve no "Público" o João Miguel Tavares. No "Observador", José Manuel Fernandes escreve mais ou menos a mesma coisa. Tudo bem; e eu tenho todo o direito de afirmar que, sendo assim, ambos são cronistas parciais e engajados, e o que escrevem sobre este assunto não merece a mínima credibilidade. No caso do João Miguel, grave é ele ser cronista do "Público" e achar que "pode pouco".

5 comentários :

Eduardo Pinto disse...

O problema, é que ele não percebe que a condenação no plano mediático é muito mais danosa para uma pessoa, do que a pena criminal propriamente dita, na medida em que a segunda é reversível e de carácter temporal, enquanto que a primeira (na dimensão do bom nome da pessoa) não é. O bom nome dificilmente poderá ser restituído e a dúvida se a pessoa é idónea ou não perdurará por muitos anos, senão mesmo para sempre.

João Vasco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Vasco disse...

Quem se envolve na vida política está sujeito à condenação no plano mediático mesmo sem ser suspeito de qualquer crime. Mal seria que não se pudesse "condenar mediaticamente" Pedro Passos Coelho por tanto mal que - legalmente - fez ao país, só para dar um exemplo (e sem me pronunciar sobre o mal que possa ter feito ilegalmente).

Aliás, as eleições envolvem constantemente julgamentos mediáticos com informação incompleta. Julgamentos face à competência, à inteligência e criatividade, aos valores e opções políticas, e também à confiança e integridade sugeridas pelo percurso de cada um dos candidatos.

Quem não quer ser condenado no plano mediático, seja porque razão for, não se deve envolver na política activa.

A Democracia representativa exige gente disposta a enfrentar a condenação no plano mediático, para o bem e para o mal.

Eduardo Pinto disse...

Estamos a falar de coisas diferentes, uma coisa é uma condenação politica e outra coisa é uma condenação judicial. Atentando ao exemplo dado, o de Passos Coelho, podemos dizer que ele é passível de uma condenação politica mas não de uma condenação judicial nos termos da lei, isto é, até à data de hoje em que ainda não foi constituído arguido num processo judicial.

O problema é que todos estes problemas radicam na superestrutura existente e nas instituições sociais que a compõe. Problemas estruturais não podem ser corrigidos, têm sim de ser transcendidos na medida em que a negação da superestrutura tem de se apresentar como uma mudança qualitativa e não quantitativa. Não como mais ou menos pobreza, democracia, igualdade ou corrupção como no caso acima exemplificado, mas numa superestrutura em que esses valores são intrínsecos a ela própria.

Eduardo Pinto disse...

Adendum: Corrupção e pobreza intrínsecos à superestrutura existente, não à alternativa, à que propõe mudança, que não precisa de propôr mais democracia. igualdade ou liberdade porque estes valores são intrínsecos.