domingo, 20 de julho de 2008

Salário mínimo

Os neo-cons daqui desataram a dizer que a inflação aqui tinha que ver com a subida do salário mínimo. Para os economistas neo-liberais as coisas são simples. A guerra, que custa biliões e biliões de dólares, foi uma oportunidade de negócios e agora a subida do salário mínimo é que veio perturbar o equilíbrio de uma economia perfeita (só os derrotistas e os antipatriotas é que acham que está em recessão).

Subir o salário mínimo cria desemprego, dizem eles, e impede a criação de novas empresas. E mostram-nos umas equações.

Mas hoje ouvi uma notícia sobre um estudo da Universidade da Califórnia, Berkeley, que demonstra que na prática este último aumento não produziu nenhum despedimento. Afectou positivamente 13 milhões de pessoas, das quais um quarto são pais, uma percentagem importante deles mães sózinhas.

13 comentários :

Anónimo disse...

É espantoso como aqui se acha que "neo-con" e "neo-liberal" é a mesma coisa, ou, pelo menos, que uma acompanha a outra. Nos EUA, tidos pela esquerda portuguesa como o grande satã "neocon e neoliberal", são mesmo posições politicas de sinal contrário. Chamar liberal a um republicano é uma ofensa de morte. Quem é conservador não é liberal e vice-versa. Bush não é liberal. No sentido europeu do liberalismo econónimo é, mas isso são todos os americanos sem excepção, incluindo todos os democratas. Será assim tão dificil de perceber???

Outra moda ridicula e usar o prefixo "neo" como pejorativo. Chama-se "neo" liberais aos liberais para a coisa soar mal,para dar uma carga negativa. Para a esquerda tuga, qualquer liberal, é "neo". Aliás, ainda estou para perceber o que separa um liberal de um "neo" liberal, para além do ar de nojo e repugnância com que a esquerda usa a palavra "neo". Se um tipo se considera liberal é logo proscrito com o epiteto de "neo", como se tivesse lepra. Quem defende o menor peso do Estado na economia é logo um tipo que quer matar os velhinhos. Não há pachorra para tanto sectarismo acefalo.

Ricardo Alves disse...

«anónimo»,
o termo «liberal» tem em Portugal uma longa história (geralmente associada à «esquerda»). Hoje, é usado quase exclusivamente por conservadores (de direita), que não se limitam a defender o menor peso do Estado na economia. Alguns «liberais» tugas actuas até elogiam Salazar e Pinochet. Não era isso que o termo significava.

Anónimo disse...

Sim, há muitos conservadores que se hoje se denominam de "liberais". Mas o que eu vejo aqui é se mete sempre tudo no mesmo saco. Há liberais que, sendo verdadeiramente liberais, são a favor também da não intervenção do estado na vida das pessoas, seja despenalizando IVG, seja permitindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo, seja legalizando a eutanásia, seja defendendo um estado verdadeiramente laico. E esses liberais, em que me incluo, irritam-se um bocado quando lhe chamam "neo cons". (o que, hoje em dia, é constantemente)

Lembra-me um bocado a estratégia dos estados totalitários, que intitulavam de "perigosos comunistas" todos os que defendiam a mudança para a democracia. Ou, no caso de cuba, quem defenda a abertura do regime, será logo um "perigoso contra revolucionário".

O termo "liberal" continua a ter o mesmo significado. Sim, há ai uns meninos a dizer que se devia acabar com o salário minimo porque trava a economia. Mas isso não é um liberal. É um palerma que deve ouvir a avó a queixar-se que já não há criadas como antigamente...

Mais uma vez, esses "neo" liberais que defendem pinochet não são liberais, são conservadores. Nos EUA, o horrivel grande satã "neoliberal" ninguém os chama de liberais ou neoliberais. São conservadores, ponto final.

João Vasco disse...

http://esquerda-republicana.blogspot.com/2007/10/socialismo-e-liberalismo-i.html

http://esquerda-republicana.blogspot.com/2007/10/socialismo-e-liberalismo-ii.html

http://esquerda-republicana.blogspot.com/2007/10/socialismo-e-liberalismo-iii.html

Algumas considerações feitas sobre o liberalismo neste blogue.
Como é fácil de entender pelo esquema no segundo texto, liberalismo é uma categoria bem mais abranjente do que neo-liberalismo.

Ricardo Alves disse...

«anónimo»,
este blogue tem uma etiqueta «neoliberalismo»:

http://esquerda-republicana.blogspot.com/search/label/neoliberalismo

Pode verificar aí se há coerência o uso do termo.

Quanto ao fundo da questão: «neoliberal» é um termo útil para os «liberais» conservadores. Não o usaria para os do MLS, por exemplo. E, aliás, tenho dúvidas de que os «liberais» da «escola austríaca» sejam liberais no sentido que o termo sempre teve em Portugal.

Anónimo disse...

Pois é.

Já o neo-conservadorismo não tem nada a ver, nem com uma, nem com outra.

Quanto ao resto,

"Deveria ser possível a pena de morte? É correcto impedir o consumo de drogas pesadas? E leves? A prostituição deve ser proibida? É legítimo controlar a entrada de emigrantes? A eutanásia deve ser proibida?"

Não a todas. Parece que passo no teste do algodão. Mas não deixo de ser chamado, em discussões de amigos "neoliberal" e pior, muito pior "neo con" (esta então tira-me do sério...)

Porque para a esquerda hoje, genericamente, é tudo a mesma coisa. Liberal, logo neoliberal, logo neocon, logo bushista, logo amigo do Pinochet.

Anónimo disse...

"Quanto ao fundo da questão: «neoliberal» é um termo útil para os «liberais» conservadores."

Util, mas impreciso e enganador.

No grande satã, os "liberais" conservadores, se lhe chamassem liberais, dava-lhes uma coisinha má.

Cá, a esquerda corre tudo a "neo", porque ganhou um sentido pejorativo e serve como arma de arremesso numa discussão. (dizendo "neo" com uma careta de desprezo e nojo). Já não se pode ser liberal em paz sem ser tratado como a raiz do todos os males do mundo.

João Vasco disse...

Não é verdade que o termo neo-liberal no sentido que cá lhe é dado seja impreciso e enganador apenas porque não pode ser utilizado nos EUA.
O termo "liberal" como costuma ser usado nos EUA corresponde a uma categoria menos abranjente e incompatível com o significado que tem para muita gente por cá em vários círculos.
Lá "liberal" é usado para se referir, por exemplo, a alguém que quer aumentar o peso do estado na economia, enquanto que para muita gwente por cá é o contrário. Os termos são usados com significados diferentes, e não é a palavra "neo" a culpada.

Por isso, o que faz sentido é rejeitar esses sentidos restritos, e usar liberal no sentido abranjente que lhe dou, ou então tentar evitar essa palavra, tão dada a confusões.

É aqui que surge o "neo" e muito bem. Quando se diz que alguém é "neo-liberal" significa que esse alguém quer diminuir o peso do estado na economia. Claro que isso agora é todo um mundo, mas pelo menos é mais claro o termo "neo-liberal" do que apenas "liberal" pois este segundo é mais abranjente.

Posto isto, quando alguém tem uma determinada posição, é normal que encontre crítica e discórdia por parte de quem tem uma posição oposta. Os comunistas são vistos por muitos liberais como sendo a causa de todos os males, por isso o recíproco também me parece normal.

Filipe Castro disse...

Ohohoh. Sr. anónimo: que confusão.

Em português 'Liberal' usa-se no sentido do liberalismo político, ou seja, para designar os que defendem que o Estado não se deve meter na nossa casa de banho e ilegalizar a sodomia, por exemplo, como fizeram aqui os puritanos em muitos estados.

'Neo-liberal' usa-se no sentido económico, para designar os que defendem que as empresas devem mandar nos países.

Os 'Neo-Cons' são a nova extrema direita, que acrdita que as empresas devem mandar e acreditam na provatização do exército. Aqui nos EUA estão intimamente ligados ao Likud e querem matar os árabes todos, mesmo com armas nucleares.

Nota: Os EUA não são o Grande Satã. São uma democracia (com problemas, como todas as outras). O Grande Satã é aquele homenzinho ignóbil que se instalou na Casa Branca há 8 anos sem nunca ter sido eleito.

:o)

Filipe Castro disse...

Mmmmhhh. E o aumento do salário mínimo não provocou desemprego. :o)

Eu acho que os economistas não deviam sequer ter uma palavra a dizer sobre a questão do salário mínimo. Isto é uma questão civilizacional. Se o importante fosse a economia devíamos pensar em reinstituir a escravatura.

Mas achei divertido o salário mínimo aqui ser aumentado quase 20% e não ter provoado desemprego.

Anónimo disse...

Se forem absolutamente honestos conseguirão ver que vocês, membros do mesmo blog, estão a dar definições diferentes - e até opostas - do que é ser neoliberal.

O RA diz que eu não sou neoliberal, uma vez que não sou conservador e que defendo também o liberalismo politico e social. (como o MLS, embora não seja membro). Já o JV e FC acham que sim, que sou neoliberal, porque sou a favor do liberalismo económico. Para RA são coisas apesar de tudo distintas. Para JV e FC um conceito engole o outro "por ser mais abrangente".

Ainda para FC e a partir de posts anteriores, quem é neoliberal anda muito perto de ser ou geralmente é neo con.(no fundo, tudo se resume à ditadura das empresas, esses bandidos que andam à procura de lucro)

Oh que confusão, não é FC?

Eu tendo a concordar com RA, mas vou mais longe. Quem é liberal, é-o em todos os sentidos, que é só no sentido económico (neo, pelos vistos) é um conservador mascarado de liberal. O neo só serve para baralhar.

De resto, não é verdade que liberal nos EUA seja quem defenda mais estado na economia. Defende sim uma maior responsabilidade social do estado, mas isso não é a mesma coisa que aumentar o peso do estado na economia(embora alguma esquerda europeia ache que vai dar a mesmo, não vai).

P.S. Claro que o salário minimo é um progresso civilizacional inquestionável. Dizer o contrário não é ser liberal. É ser parvo e não ter noção do que era a vida há 50 anos atrás (nem é preciso falar de escravatura).

Ser liberal não é matar velhinhos e defender que haja fome para o mercado funcionar, respeitem a inteligência de quem se considera liberal. (neo? já não sei...)

Anónimo disse...

Errata:

Eu tendo a concordar com RA, mas vou mais longe. Quem é liberal, é-o em todos os sentidos, quem é só no sentido económico é um conservador mascarado de liberal. O neo só serve para baralhar.

João Vasco disse...

«De resto, não é verdade que liberal nos EUA seja quem defenda mais estado na economia. Defende sim uma maior responsabilidade social do estado, mas isso não é a mesma coisa que aumentar o peso do estado na economia»

A generalidade dos americanos associa "políticas liberais" a aumento de impostos. Claro que é a direita que faz os possíveis para reforçar a associação, mas ela não deixa de estar bastante presente em toda a sociedade.


De qualquer forma, não creio que um liberal o tenha de ser "no sentido económico". Isso é uma visão mais restrita do liberalismo, tal como explico no esquema. Um liberal tende a optar por valores individualistas face a paternalistas; mas pode opiniões diversas a respeito de quanto a propriedade privada deve ser protegida. Um liberal não crê que o estado deva proteger os indivíduos deles próprios, isso é certo; agora até que ponto deve proteger a propriedade privada, já é discutível, e liberais diferentes têm posições diferentes.

Uma coisa é vêr a propriedade privada como valor fundamental, e outra é assumir que há valores que se sobrepõem a esse, e depois há todo um contínuo de posições entre dois extremos. Todos compatíveis com o liberalismo, segundo creio.