- «Mas com isto não temos atingido todas as aberrações da democracia. Há que opor-nos, além disso, a certas formas sofísticas do liberalismo, que não fazem de facto senão a defesa da liberdade do monopólio. O verdadeiro liberalismo, como disse, é de base igualitária, donde sairá facilmente a conclusão de que o verdadeiro respeito da liberdade em todos os homens exige a suspensão de certos abusos que se enfeitam com o nome de liberdades.
- Creio que, entre os sofismas "liberais" do nosso tempo, há que atender sobretudo à chamada liberdade de ensino, à chamada liberdade de imprensa e à chamada liberdade económica.
- Chama-se liberdade de ensino, hoje em dia, ao direito absoluto que têm os educadores de atentar contra a liberdade da criança, como se não admitisse discussão a faculdade de modelar o seu espírito segundo o tipo espiritual do pai ou do mestre. Contra essa pretensão devemos sustentar, nós, os verdadeiros liberais, que o ideal da educação deve ser criar homens livres, capazes de escolherem livremente o seu próprio tipo.
- Chama-se liberdade de imprensa ao direito exclusivo que têm certos potentados ou certos malfeitores, graças à sua fortuna ou às suas chantages, de influir na opinião do País. O problema não está, evidentemente, em impedir a liberdade desses homens, mas em pôr a imprensa ao alcance de todos, de maneira que os argentários não continuem a possuir o monopólio da opinião.
- Enfim, chama-se liberdade económica à liberdade que têm alguns indivíduos de se oporem, em nome dos interesses criados, à liberdade de todos os outros.
- Tais os três tremendos sofismas que corrompem até à medula a democracia contemporânea. (...)»
- (Raúl Proença, «Da necessidade prévia de defender a democracia das suas aberrações», Seara Nova nº158, 25 de Abril de 1929)
terça-feira, 4 de março de 2008
Raúl Proença: os sofismas «liberais» do nosso tempo
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2 comentários :
Pouco mudou o mundo desde o 1929
De facto, se não fosse a data no fim do artigo e alguns detalhes do português, passava bem por ter sido escrito este ano.
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