Existem várias razões, e até contraditórias, para se ser contra o Tratado constitucional europeu. Dependendo do posicionamento político de cada um (esquerda/direita, democrata representativo/democrata participativo, soberanista/federalista, social-democrata/liberal, etc.) pode rejeitar-se o Tratado por motivos não apenas diferentes, mas mesmo opostos.
Eu, por exemplo, acho que o Tratado não é laico por incluir o artigo I-52, mas alguns católicos portugueses já argumentaram que o mesmo Tratado é uma afronta laicista por não incluir uma referência à divindade no Preâmbulo (como esses católicos convivem com o Preâmbulo da CRP é algo que gostaria de compreender...). Estas disparidades são ainda mais visíveis quando se observa o debate sobre o Tratado em diferentes países. Na França, o Tratado é considerado economicamente liberal e portanto as críticas vêm sobretudo da esquerda. No Reino Unido, a UE é vista como suspeita de regulamentar demais, e não é por acaso que a maior parte da oposição politicamente organizada vem da direita (note-se a posição intransigente dos conservadores). O número e as variações destas contradições aumentam quando se multiplica o número de países em que se oberva o debate sobre o Tratado.
Já o «sim»/«oui»/«yes»/«si»/«ja» é mais fácil. Resigna-se a aceitar o Tratado como o equílibrio possível entre países que têm histórias nacionais, culturas políticas e consensos internos mais diferentes do que aquilo que geralmente se assume. E alimenta-se da esperança de que existe um futuro luminoso potenciado por uma união renitente embora também contraditória nas razões do assentimento das partes.
Existem portanto alguns para quem o «bem comum» de um «povo europeu» que não existe nem existirá é mais importante do que o «bem comum» da comunidade nacional. Mesmo para esses, mais tarde ou mais cedo põe-se a questão de saber se se pode atingir o tal «reino de Deus»/«amanhã que canta» comprometendo, de caminho, os princípios em que acreditam.