domingo, 20 de março de 2016

Como os ricos ficam ricos

Enquanto vagueava na Internet encontrei o seguinte cartoon:


É engraçado, ri-me um pouco. Mas parece-me que a versão apresentada como "verdadeira" revela tanta falta de lucidez como a versão "dos ricos".

Peguei no cartoon e fiz algumas alterações:



Já agora, mantendo o tom "leve" e sem fazer uma análise muito profunda das causas do enriquecimento individual, diria que quem enriquece sem ser por herança precisa de cumprir duas das quatro condições apresentadas:

-Falta de escrúpulos (incluindo disposição para explorar os outros)
-Talento fora de série
-Trabalho duro, iniciativa, disposição para arriscar
-Muita sorte

Com a excepção dos vencedores do Euromilhões e afins, nenhum destes quatro factores é, isoladamente, suficiente para enriquecer. 

10 comentários :

Filipe Moura disse...

Concordo com a inclusão do castanho e do amarelo no teu gráfico (são uma minoria muito minoritária dos ricos, mas existem). Eu aumentaria significativamente o peso do setor verde (mesmo concordando com ser o azul o maioritário).

João Vasco disse...

Pela explicação que dei abaixo da figura, cada um dos sectores não azuis tem o dobro do tamanho, mas isso não daria para pôr no gráfico circular. A não ser que dividisse o espaço de "não herança" em 6 categorias:

-falta de escrúpulos+muita sorte
-falta de escrúpulos+talento
-falta de escrúpulos+trabalho, risco, iniciativa
-talento + trabalho, risco, iniciativa
-talento + sorte
-trabalho, risco, iniciativa + sorte

(mas o desenho perdia a piada)

Ou seja: a falta de escrúpulos/disposição para explorar os outros está presente em metade dos casos (ainda mais porque não têm todos a mesma dimensão, mas acho que se percebe). Só não está é presente sozinha.
De facto, ter falta de escrúpulos e alguma disposição para explorar os outros não chega para enriquecer, mas juntamente com algum dos outros factores já se torna possível.

João Vasco disse...

ups!

Nuns sítios está "sorte" e noutros "muita sorte", mas é sempre "muita sorte". A distinção foi por engano (e se a fizesse seria ao contrário - a última categoria é que precisa de mais sorte...)

João Vasco disse...

O que quis dizer com isto é que concordo contigo Filipe, que a falta de escrúpulos/disposição para explorar está mais presente do que o desenho dá a entender.
Não funciona é de forma isolada, e o mesmo com os outros factores.

Xa2 disse...

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o gráfico 'melhorado' dá uma ideia... mas, parece-me que, para favorecer o enriquecimento (de alguns, poucos), seria mais 'verdade': «Falta de escrúpulos, incluindo disposição para contornar a lei, exploração dos outros e ou apropriação de bens comuns/ públicos»;

e se acrescentarmos o ambiente familiar (melhores condições monetárias, saúde, alimentação, acesso a melhor educação/ensino, nepotismo/acesso facilitado/ privilegiado a cargos e situações de poder ou a negociatas, ...);

e condições económico-sociais favoráveis (instabilidade que cria mais 'oportunidades' para 'empreender/ agarrar', impostos não crescentes, subsídios ao 'empreendorismo' e às empresas, desregulação ambiental, económica e laboral, corrupção ... e um Estado fraco), teremos uma visão melhor explicada.

Inversamente, sem estas condições (...), não é/era tão fácil enriquecer (tanto nem para tão poucos) mas, provavelmente, conseguir-se-ia uma classe média mais ampla e com melhor nível de vida, e uma menor desigualdade entre ricos e pobres, i.e., obtinha-se uma situação de 'desenvolvimento' para a maioria da sociedade, em vez de um 'crescimento' apenas benéfico para uma minoria e à custa/prejuízo da maioria.

pedro romano disse...

João, pondo de parte a questão das percentagens relativas, que são sempre difíceis de precisar, parece-me que a transição do primeiro para o terceiro bolo não reflecte muito mal a evolução do "pensamento dominante" em economia. Hoje em dia há cada vez mais evidência de que uma boa parte do "sucesso" resulta apenas de pura sorte, muitas vezes por se 'estar no sítio certo à altura certa' (first mover advantage, riding the random walk), composto em cadeia por efeitos de feedback positivo (mercados tipo 'winner takes it all'). Por cima disto ainda há os casos de 'vitória predatória', em que o sucesso resulta de facto de skills excepcionais, mas aplicadas em jogos de soma nula (publicidade e marketing, trading de mercados financeiros, por exemplo).

João Vasco disse...

Xa2,

«Falta de escrúpulos, incluindo disposição para contornar a lei, exploração dos outros e ou apropriação de bens comuns/ públicos»; »

Sim, sim. Quando escrevi "falta de escrúpulos (incluindo [])", não quis excluir outras possibilidades, e essas podiam perfeitamente lá estar.

«e se acrescentarmos o ambiente familiar »
Não falei tanto no ambiente familiar porque quem vem de famílias ricas já é rico por herança, nem precisa de fazer nada (basta manter o dinheiro no banco e não o estoirar, que os juros permitem um rendimento razoável).
Agora, claro que é verdade que alguém de classe média ou média alta tem mais facilidade em enriquecer que alguém de classe baixa, mas eu quis manter a imagem relativamente simples.

Por fim, concordo que é muito preferível uma sociedade com uma classe média forte, com menos desigualdades, mesmo que isso implique não ser tão fácil enriquecer. Mas se não concordasse seria estranho escrever num blogue chamado "esquerda republicana".

No entanto, não posso é negar que existem casos, e não são assim tão poucos, de pessoas que enriquecem sem terem avultadas heranças nem falta de escrúpulos. Geralmente a sorte ou um talento tiveram aí um papel determinante.

João Vasco disse...

Sim :)

E é engraçado que também há evidência de que nos casos em que o sucesso dependeu tanto da sorte como do esforço, iniciativa, etc. (ou mesmo muito mais da sorte do que do mérito) o indivíduo bem sucedido avalia erroneamente o que ocorreu, e acredita que o sucesso se deveu quase exclusivamente ao seu esforço. Isso explica porque é que, se a realidade fosse o 3º gráfico, muitos "ricos" acreditariam que seria o primeiro.

Ian S. disse...

Se você é tão liberal assim, como esse blog pode ser de esquerda, como diz na sua "declaração de princípios"?

João Vasco disse...

Estes posts podem dar a resposta:

http://esquerda-republicana.blogspot.com/2011/07/esquerda-e-mais-liberal-que-direita.html

http://esquerda-republicana.blogspot.com/2011/07/esquerda-e-mais-liberal-que-direita_02.html

http://esquerda-republicana.blogspot.com/2011/07/esquerda-e-mais-liberal-que-direita_03.html

http://esquerda-republicana.blogspot.com/2011/07/esquerda-e-mais-liberal-que-direita_11.html

http://esquerda-republicana.blogspot.com/2017/08/a-esquerda-e-mais-liberal-que-direita.html